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Mundo

Morte de dissidente cubano é "culpa" dos EUA, diz Raúl Castro

24 fev 2010 - 13h26
(atualizado às 18h00)
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Laryssa Borges
Direto de Havana

No dia em que completa dois anos no controle de Cuba, o presidente Raúl Castro lamentou a morte do preso político Orlando Zapata Tamayo, que protestava contra o regime na ilha por meio de uma greve de fome de 82 dias. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que visita o território cubano e estava ao lado de Raúl Castro, ainda não comentou o fato. Constrangido, o governante brasileiro apenas ouviu as palavras do líder cubano.

Raúl Castro, Lula, Fidel Castro e o ministro de Comunicação do Brasil, Franklin Martins, se reúnem em Havana
Raúl Castro, Lula, Fidel Castro e o ministro de Comunicação do Brasil, Franklin Martins, se reúnem em Havana
Foto: Ricardo Stuckert/PR / Divulgação

Embora tivesse lamentado o fato de o protesto de Zapata ter chegado às últimas consequências, o governante cubano, irmão de Fidel Castro, disse que a morte é resultado da política de confronto que Cuba trava com os Estados Unidos e aproveitou para atacar como a Casa Branca e outros países têm lidado com cidadãos cubanos.

"Nós lamentamos muito. (Zapata) Foi condenado a três anos por ter causado problemas. Ele foi levado aos nossos melhores hospitais, morreu, nós lamentamos muito. Isso se deve à confrontação que temos com os EUA", disse.

"Temos perdido milhares de cubanos sobretudo na primeira década, vítimas de terrorismo de Estado. Entre mortos e feridos, que ficaram deficientes e mutilados, por volta de 5 mil. São muitas dificuldades, em volta de 5 mil se encontravam feridos (...) incluindo diplomatas que foram assassinados no estrangeiro inclusive nos EUA, desaparecidos em outros países, na Europa, etc. Consequência dessa luta que temos" afirmou Castro, que foi se exaltando à medida que atacava os Estados Unidos.

Constrangido, Lula permaneceu calado. Ele assinou na terça-feira, ao lado de mais de 30 países, a Declaração de Cancún, que tem como uma de suas premissas a garantia dos Direitos Humanos.

Zapata morreu na terça-feira instantes antes de o presidente Lula desembarcar em Cuba. Eles estava em greve de fome há 85 dias e é considerado pela Anistia Internacional "um preso de consciência". Ou seja, estava encarcerado por discordar do governo instalado após a "revolução" comandada por Fidel Castro.

Na avaliação de Raúl Castro, problemas como a morte do prisioneiro político, anunciada por meio do Twitter e de outros serviços de Internet de pessoas resistentes ao regime dos Castro, serão resolvidos no dia em que o governo dos Estados Unidos revir o tratamento dado a Cuba. A ilha caribenha vive sob embargo americano desde 1962.

"O dia em que os Estados Unidos decidir conviver melhor conosco acabarão todos esses problemas e superaremos muitos outros problemas", disse.

O presidente de Cuba, Raúl Castro, disse nesta quarta-feira "lamentar" a morte, do prisioneiro político cubano Orlando Zapata após greve de fome de dois meses e meio, segundo comunicado oficial.

Liberdade de expressão

Após lamentar a morte de Zapata, Raúl Castro, admitiu que em território cubano os cidadãos não gozam de uma liberdade de expressão plena. Segundo Castro, a imprensa em todo o mundo não tem liberdade completa e divulga informações conforme o interesse da empresa que a controla. Em sua avaliação, portanto, tanto a imprensa cubana quanto as mídias em volta do mundo vivem sob amarras.

"Aqui não temos uma máxima liberdade de expressão, é certo", afirmou o governante cubano ao lado de Lula. "Deixem-nos tranquilos, deixem-nos quietos, deixem-nos desenvolver normalmente nossas atividades e poderá haver muito mais facilidade. Essa é a realidade, o resto é história", disse.

Diante da confrontação de que o preso político Orlando Zapata Tamayo morreu nesta terça após 85 dias de greve de fome em protesto contra o regime político de Cuba instalado depois da "revolução" na década de 1960, Raúl Castro disse estar disposto a discutir direitos humanos tanto com os Estados Unidos, que impuseram o embargo à ilha, quanto com entidades ligadas à área, como a Anistia Internacional. O organismo classificava Zapata como um "preso de consciência", uma vez estava encarcerado por discordar do comando do país.

"As discussões não são aceitas por nós se não houver absoluta igualdade de ambas as partes. Eles podem perguntar todas as questões de Cuba, mas os mesmos direitos temos nós de perguntar a respeito de todos os problemas dos Estados Unidos", disse, ressaltando que problemas internos, como o caso específico de Zapata, não devem ser alvo de intromissão de outras nações.

"Não reconhecemos a nenhum país, por poderoso que seja, nenhum conjunto de países, como poderia ser a União Europeia, o direito de se meter em nossos problemas internos. Contudo, estamos dispostos a discutir tudo, o nosso e também os problemas deles", disse Raúl Castro.

"É claro que (respeito aos direitos humanos em Cuba) não é o que dizem os organismos de direitos humanos. Mas fale para eles que discutam conosco direitos humanos em igualdades de condições e vamos ver o que sai", afirmou, relembrando que, independentemente da mudança de poder nos Estados Unidos, a base militar de Guantánamo continua em funcionamento.

"Em meio século aqui não assassinamos ninguém. Aqui não foi torturado ninguém. Aqui não houve nenhuma execução extrajudicial. Aqui foram torturados em Cuba, sim senhor, é verdade, mas na base naval de Guantánamo, que não é nosso território. Aqui quem governa é a revolução", disse.

Fonte: Redação Terra
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