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Índia estima em 21 milhões o número de meninas 'indesejadas' no país

Há uma preferência declarada por meninos, o que motiva abortos seletivos com base no gênero e nascimento de meninas que não são desejadas pelas famílias.

30 jan 2018 - 14h35
(atualizado às 14h57)
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Relatório divulgado pelo Ministério de Finanças da Índia recomenda que é preciso combater preferência declarada por filhos homens no país
Relatório divulgado pelo Ministério de Finanças da Índia recomenda que é preciso combater preferência declarada por filhos homens no país
Foto: AFP / BBC News Brasil

Na Índia, a maioria das pessoas prefere ter filhos homens. Afinal, lá as filhas não herdam propriedades, e a família da noiva precisa pagar um dote para que ela se case.

Essa preferência declarada por filhos fez com que o país tenha cerca de 21 milhões de "meninas indesejadas", aponta relatório do Ministério de Finanças do país.

Isso porque, segundo os autores do documento, muitos casais continuam tendo crianças até a família alcançar a quantidade desejada de meninos. "De alguma forma (...), a vida das mulheres está melhorando, mas a sociedade ainda parece querer que menos mulheres nasçam", diz trecho.

Estima-se ainda que faltem 63 milhões de mulheres na Índia - considerando as que nem chegam a nascer diante dos abortos seletivos e de menos cuidados a grávidas que carregam meninas.

"Talvez a área em que a sociedade indiana - e isso vai além dos governos, da sociedade civil, das comunidades e das famílias - precisa refletir é a chamada 'preferência por filhos', para a qual o desenvolvimento não está provando ser um antídoto", conclui o relatório.

Estima-se que 63 mulheres deixaram de nascer por causa dos abortos seletivos e falta de cuidados na gestação
Estima-se que 63 mulheres deixaram de nascer por causa dos abortos seletivos e falta de cuidados na gestação
Foto: BBC News Brasil

Na Índia, testes para saber o gênero do bebê são proibidos, mas são feitos no mercado clandestino e muitas vezes culminam em abordos seletivos.

Isso impacta na proporção de homens e mulheres na sociedade. Em 2001, censo indiano indicou 933 mulheres para 1 mil homens. Em 2011, quando o levantamento contabilizou uma população de 1,2 bilhão de pessoas no país, eram 940 mulheres para cada 1 mil homens - a proporção mundial era 984 para 1 mil.

No Brasil, por exemplo, a população feminina é maior que a masculina: são 1.042 mulheres para 1 mil homens, como menciona um relatório do próprio censo indiano.

Superstições

Essa predileção por meninos é reforçada no dia a dia. Um jornal indiano chegou a listar dicas - sem comprovação científica - para aumentar as chances de ter meninos.

A publicação, da cidade de Mangalam, no Estado de Kerala, publicou sugestões que desconsideravam completamente o fato de o sexo do bebê ser determinado exclusivamente pelos cromossomos masculinos.

Índia tem uma população de 1,2 bilhão de pessoas, mas a proporção de mulheres é abaixo da média mundial
Índia tem uma população de 1,2 bilhão de pessoas, mas a proporção de mulheres é abaixo da média mundial
Foto: BBC News Brasil

Entre as dicas do jornal para as mulheres que querem ser mães de meninos estão: dormir olhando para o oeste, ter relações sexuais em determinados dias da semana e não deixar de tomar café da manhã. Para os pais, evitar comidas ácidas ajudaria a manter os espermatozoides mais fortes.

O esforço para ter filhos e não filhas também está relacionado com os direitos das mulheres na sociedade.

O relatório do Ministério das Finanças indica, por exemplo, que a porcentagem delas que trabalha fora tem caído.

Ainda assim, a Índia melhorou em 14 de 17 indicadores relacionados à qualidade de vida para mulheres analisados no relatório.

"Assim como a Índia se comprometeu melhorar os indicadores que medem a facilidade de fazer negócios, talvez devesse fazer o mesmo com as questões de gênero. Nesse caso, o objetivo deve ser mais amplo", salienta o documento.

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