Hamas libera 20 reféns vivos na Faixa de Gaza após mais de dois anos de guerra
Sete reféns mantidos na Faixa de Gaza pelo Hamas foram libertados nesta segunda-feira (13) pela manhã, quatro dias após o anúncio do acordo de cessar-fogo entre Israel e o movimento palestino. Por volta das 11h no horário local, um segundo grupo de 13 israelenses vivos que estavam detidos no enclave foi entregue a Israel pela Cruz Vermelha.
Sete reféns mantidos na Faixa de Gaza pelo Hamas foram libertados nesta segunda-feira (13) pela manhã, quatro dias após o anúncio do acordo de cessar-fogo entre Israel e o movimento palestino. Por volta das 11h no horário local, um segundo grupo de 13 israelenses vivos que estavam detidos no enclave foi entregue a Israel pela Cruz Vermelha.
Os reféns fazem parte dos 20 últimos prisioneiros do movimento palestino que estavam vivos, desde o ataque de 7 de outubro de 2023, que resultou na captura de 251 israelenses e desencadeou a guerra em Gaza. Os reféns liberados nesta segunda-feira foram entregues em dois grupos separados ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e, em seguida, às forças de segurança israelenses.
Na Praça dos Reféns em Tel Aviv, dezenas de pessoas se reuniram antes do amanhecer para acompanhar ao vivo as primeiras liberações, ao som da música Habayta ("em casa", em hebraico) nos alto-falantes. A soltura dos israelenses marca a primeira etapa do plano proposto pelo presidente americano, Donald Trump, que viabilizou o cessar-fogo. "Bem-vindos de volta", declarou o Ministério das Relações Exteriores de Israel.
"Esse momento era aguardado, mas ainda estamos tristes por aqueles que não voltarão e pelos quase 2.000 mortos na guerra. São dois anos de loucura que chegam ao fim. Mas é um dia bonito, estávamos esperando por esse dia há dois anos", declarou à AFP Ronny Edry, professor de 54 anos.
Segundo o Fórum das Famílias, principal associação de parentes de reféns em Israel, os reféns fizeram chamadas de vídeo com suas famílias nesta segunda. A associação divulgou vídeos e captura de telas dos familiares de Matan Zangauker, Nimrod Cohen, e Ariel e David Cunio, enquanto aguardavam a libertação pela manhã, no 738º dia de cativeiro na Faixa de Gaza.
Segundo a associação, a luta "não estará encerrada" enquanto todos os reféns e os corpos dos reféns não retornarem a Israel. O Hamas e Jihad Islâmica haviam compartilhado, nos últimos dois anos, apenas fotos e vídeos encenados de alguns reféns.
De acordo com o Exército israelense, os cadáveres dos outros reféns não devem ser entregues nesta segunda. De acordo com a porta-voz do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, um "organismo internacional", previsto no plano americano, deverá ajudar a localizar os corpos dos reféns mortos que não forem entregues nesta segunda-feira.
Reações
Para o presidente francês Emmanuel Macron, após o acordo e a liberação dos reféns, "a paz se torna possível para Israel, para Gaza e para a região". Macron afirmou que a França desempenhará um "papel especial" na futura governança de Gaza "ao lado" da Autoridade Palestina e destacou a importância da representação dos palestinos nesse processo.
"Sobre as questões de governança, teremos um papel muito especial para estar ao lado da Autoridade Palestina e garantir que ela tenha sua parte, mas também que realize suas reformas para o dia seguinte", disse ele ao chegar a Sharm el-Sheikh, no Egito, para uma cúpula que terá a participação de Donald Trump.
O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, estará "presente nesta cúpula", acrescentou. "É um sinal muito positivo. É o reconhecimento do papel da Autoridade Palestina como instância legítima", afirmou.
A União Europeia também comemorou a libertação dos reféns israelenses, "possibilitada pelo presidente Trump". A libertação dos reféns é um sucesso importante para a diplomacia e uma etapa crucial rumo à paz. O presidente Trump tornou possível esse avanço, declarou a chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, na rede X.
O retorno dos reféns israelenses é "um momento de alegria para as famílias e um alívio para o mundo inteiro", afirmou por sua vez a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, na mesma rede social.
A União Europeia está pronta para contribuir com todas as ferramentas à sua disposição para o sucesso do plano de paz para Gaza, que deve ser assinado durante uma cúpula no Egito, em Sharm el-Sheikh, acrescentou a chefe do Executivo europeu, citando especialmente a mobilização de fundos europeus para a reconstrução do território.
Kaja Kallas também informou que a UE retomará na quarta-feira sua missão de monitoramento no posto fronteiriço de Rafah, entre Gaza e o Egito. A missão de monitoramento EUBAM, que envolve forças policiais da Itália, Espanha e França, tem como objetivo garantir uma presença neutra e independente nesse ponto estratégico da fronteira. Ela foi reimplantada em janeiro, antes de ser suspensa em março.
"A guerra acabou"
O presidente americano Donald Trump chegou nesta segunda-feira (13) a Israel, pouco depois da liberação do primeiro grupo de sete reféns. Pouco após a liberação dos reféns, ele se dirigiu para a Knesset, o Parlamento israelense em Jerusalém, onde fará um discurso pela "paz".
A primeira etapa do plano de Donald Trump para encerrar dois anos de guerra prevê o retorno de 48 reféns, vivos ou mortos, acompanhado da libertação por Israel de 250 prisioneiros, muitos condenados por atentados contra israelenses, e de 1.700 palestinos presos em Gaza desde outubro de 2023.
Os prisioneiros palestinos, transferidos para duas prisões específicas, só serão libertados após confirmação da libertação dos reféns, segundo Israel. Donald Trump deve se encontrar na manhã de segunda-feira com Netanyahu e se reunir com familiares de reféns, após discursar no Parlamento.
"A guerra acabou. Certo? Vocês entendem isso?", declarou ao deixar os Estados Unidos. Netanyahu afirmou que Israel obteve "vitórias imensas, vitórias que surpreenderam o mundo inteiro". "Mas devo dizer que a luta ainda não acabou", acrescentou em um pronunciamento televisivo.
Cúpula no Egito
Na tarde de segunda-feira, Trump irá a Sharm el-Sheikh, no Egito, para copresidir com o presidente egípcio Abdel Fattah al-Sissi uma cúpula sobre Gaza, com a presença de líderes de mais de 20 países e do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres.
Os países mediadores do acordo de cessar-fogo em Gaza devem assinar um documento garantindo sua aplicação, segundo uma fonte diplomática, que citou como mediadores os Estados Unidos, Egito, Catar e provavelmente a Turquia.
Israel e o Hamas estarão ausentes da cúpula. O Irã, antigo aliado do Hamas, foi convidado, mas também não participará.
Paralelamente à retirada progressiva já iniciada do Exército israelense, que mantém controle de 53% da Faixa de Gaza, o plano americano prevê, em uma fase posterior, que o Hamas seja excluído da governança do território, onde tomou o poder em 2007, e que seu arsenal seja destruído.
Ajuda humanitária
Na Faixa de Gaza, centenas de milhares de palestinos deslocados pela guerra voltaram, desde o início do cessar-fogo, ao norte do território, em grande parte transformado em ruínas.
Caminhões carregados com ajuda começaram a entrar em Gaza pelo ponto de passagem de Kerem Shalom, no sul de Israel. Outros aguardavam em Rafah, ponto de passagem vizinho, na fronteira entre Gaza e Egito.
Algumas cargas já teriam sido saqueadas, segundo relatos de moradores. "Não queremos viver em uma selva. Exigimos que a ajuda seja segura e distribuída com respeito pelas pessoas", declarou à AFP Mohammed Za'rab, um jovem diante de caixas espalhadas ao longo de uma estrada.
O ataque sem precedentes do Hamas em 7 de outubro de 2023 causou a morte de 1.219 pessoas do lado israelense, em sua maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais.
Desde então, mais de 67.806 palestinos foram mortos na Faixa de Gaza na campanha de represálias israelense, segundo números do Ministério da Saúde do governo do Hamas, considerados confiáveis pela ONU.
(Com agências)