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Papa Francisco

Vaticano evita entrar em detalhes sobre casos de pedofilia na ONU

16 jan 2014 - 17h23
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O Vaticano evitou nesta quinta-feira oferecer informação detalhada para a ONU sobre aspectos relacionados com aos casos de abuso sexual de menores por parte de membros do clero, em um exercício retórico mediante o qual tentou demonstrar sua determinação de prevenir novos delitos deste tipo.

"Todo este problema de abusos contra menores é uma ferida que danifica a igreja e à comunidade da fé", reconheceu monsenhor Silvano Tomasi, representante da Santa Sé perante às Nações Unidas em Genebra, no primeiro comparecimento internacional de altos membros da hierarquia católica sobre casos de pedofilia.

O Comitê de Direitos da Criança da ONU examinou hoje o segundo relatório periódico apresentado pela Santa Sé sobre o cumprimento da convenção internacional que protege os direitos dos menores e que ratificou em 1990.

A sessão foi centrada em perguntas e sobre as sanções contra os responsáveis de pedofilia que ocultaram casos deste tipo, além das medidas para proteger de maneira eficaz às crianças sob custódia ou influência de religiosos.

Além disso, foram pedidos esclarecimentos sobre os consertos materiais, psicológicos e morais previstos para as vítimas e sobre os quais não houve respostas claras.

Vários membros do comitê - composto por 18 especialistas em direitos humanos - pediram números concretos sobre os casos que o Vaticano teve conhecimento - e como os trataram -, assim como do número de sacerdotes julgados por abusar de menores ou por ocultar tal delito.

Em mais de cinco horas de reunião, a única referência a números foi feita por Tomasi, que informou que para 2012 tinham documentado 612 casos de abuso sexual que envolviam funcionários do clero, dos quais "465 eram mais sérios" e "418 foram abusos de menores".

No entanto, organizações civis que representam às vítimas afirmam que só nos Estados Unidos foram registrados, desde a década 60, mais de 100 mil casos, sem contar que em países como a Irlanda "este tipo de violência era sistemática", comentou a jurista Pam Spees, do Centro sobre Direitos Constitucionais dos Estados Unidos.

Segundo as pesquisas e dados coletados por esta entidade, "é possível que se trate de centenas de milhares de vítimas".

Participaram da sessão do comitê, realizada em um dos salões da ONU em Genebra, vários homens e mulheres, já adultos, que foram vítimas durante a adolescência de abuso sexual por parte de sacerdotes.

A presidente da Rede de Sobreviventes de Abusos por Sacerdotes, Bárbara Blaine, considerou que o Vaticano realmente não mudou a linha na maneira de abordar o assunto.

"Se o Vaticano fosse sincero, teria mencionado dois pontos-chave: o de que está fornecendo provas à polícia; e que está punindo padres que esconderam esta situação, mas, por enquanto, falharam em ambos os aspectos", opinou Bárbara.

"O Vaticano afirma que só tem jurisdição sobre 30 crianças da Cidade do Vaticano, mas uma coisa é a soberania territorial e outra a área de influência. Há milhões de católicos no mundo e, obviamente, o papa tem alguma influência sobre eles", disse à Agência Efe Miguel Hurtado Calvo, ativista em favor das vítimas de abuso assim como ele.

Vários presentes na audiência dos enviados do Vaticano comentaram que só falaram de medidas gerais. Em diferentes momentos, aludiram que este tipo de caso deve ser abordado em nível local.

Monsenhor Charles Scicluna, juiz da Congregação da Doutrina para a Fé e que co-dirigiu a delegação da Igreja Católica, concordou com a necessidade de dar maior importância à formação e à avaliação psicológica dos aspirantes a sacerdote.

A relatora do comitê da ONU para o Vaticano, Sara Oviedo Fierro, agradeceu a informação dada pela Santa Sé, mas insistiu que "necessitam de mais evidências e depoimentos de mudança".

"A pedofilia é um duplo homicídio. Impede à criança de se desenvolver de maneira harmoniosa, sobretudo se o abusador é uma autoridade tão importante como um padre. Os menores nesta situação se expõem à morte psíquica, tanto quanto a física", avaliou a especialista María Rita Farsi.

EFE   
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