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Europa

João XXIII: o "Papa bom" e simpático do Concílio Vaticano II

Ao longo de quase 5 anos de pontificado, João XXIII promoveu grandes mudanças na Igreja católica, como a convocação do Concílio Vaticano II

25 abr 2014 - 08h33
(atualizado às 13h34)
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Foto: AP

Papa Francisco cogitou chamar-se João XXIV, afirmou o cardeal Loris Capovilla, ex-secretário pessoal do papa João XXIII, durante uma entrevista a um jornal italiano no começo deste ano, quando fora nomeado cardeal, aos 98 anos, por Papa Francisco. “No final, contudo, aquele ‘não se esqueça dos pobres’ dito pelo cardeal brasileiro Claudio Hummes prevaleceu e a escolha definitiva foi Francisco”, recordou Capovilla.

Se no dia em que Bergoglio virou Francisco papa João XXIII estava em seus pensamentos, em um discurso após sua eleição, papa Francisco confirmaria sua estima especial pelo “Papa Bom” e dispensaria a comprovação de um segundo milagre para canonizar João XXIII. Para Francisco, o novo santo “mediante ao abandono diário à vontade de Deus, viveu uma purificação que lhe permitiu desconectar-se completamente de si mesmo e aderir a Cristo, deixando assim emergir aquela santidade que a Igreja depois reconheceu oficialmente”.

Milagres e mudanças

O primeiro milagre de São João XXIII, no entanto, aconteceu em 25 de maio de 1966 quando a freira Caterina Capitani, após 14 cirurgias, teve uma melhora inexplicável. O site oficial de papa João XXIII traz uma declaração da freira, morta em 2010, na qual ela revelou o que o papa disse na sua aparição, em pé, ao lado do leito do hospital, em Nápoles: “Não temas, tudo terminou. Estas bem, não tens mais nada”. Mais tarde, a “cura inexplicável” em nível científico fora aceita pela Congregação para a Causa dos Santos e João XXIII seria proclamado beato por João Paulo II no ano 2000.

Foto: AP

Voltando ao tênue desenrolar da colcha de retalhos que conecta o papado de Angelo Roncalli àquele de Francisco, é preciso deter-se à linha pastoral de João XXIII que, quando foi eleito papa, em 28 de outubro de 1958, ao 77 anos, imediatamente identificou-se como “Bispo de Roma”: gesto repetido em 13 de abril de 2013 no balcão central da Basílica de São Pedro por Francisco. Esse primeiro ponto denota que ambos traziam consigo a bagagem do pastor que quer estar em meio a seu rebanho, rejeitando títulos e privilégios, e concedendo um caráter universal e menos austero à Igreja de Roma. De fato, João XXIII demonstrou sinais dessa abertura ao ser o primeiro papa a criar um cardeal negro e africano (Laurean Rugambwa, arcebispo de Dar-es-Salaam, Tanzânia), um cardeal japonês, (Peter Tatsuo Doi, arcebispo de Tóquio) e um cardeal filipino (Rufino Jiao Santos, arcebispo de Manila).

Entretanto, a experiência de João XXIII com o povo deu-se, principalmente, por meio de suas missões diplomáticas como núncio apostólico (embaixador do Vaticano) na Bulgária, na Turquia e na França e, mais tarde, como cardeal patriarca de Veneza. Como papa, seria o primeiro pontífice a visitar um hospital e uma prisão da diocese de Roma. Apesar da incredulidade dos cardeais - que o teriam elegido para um pontificado de transição após o papado de 19 anos Pio XII - o estilo afável e simpático de João XXIII conquistou os fiéis. Tanto que, como já vimos, ficou conhecido na História como o “Papa Bom”.

O maior legado de João XXIII para a Igreja católica, todavia, foi a convocação do Concílio Vaticano II. O anúncio foi feito em 1959 e, com efeito, três anos mais tarde, Roma fora tomada por bispos do mundo inteiro. Papa Roncalli não queria definir novas verdades e sim apresentar a doutrina de modo mais adaptado à sensibilidade moderna. Convidava os bispos a privilegiarem a misericórdia, o diálogo e uma nova visão que promovesse a aproximação entre as diversas confissões cristãs. Tanto que João XXIII foi o primeiro papa em 400 anos a receber em audiência o chefe da Igreja anglicana, o arcebispo de Cantuária, Geoffrey Francisco Fisher. O encontro aconteceu em 2 de dezembro de 1960. O Concílio Vaticano II, todavia, seria concluído somente sob o papado de Paulo VI que reconheceu as virtudes de João XXIII em compreender os novos desafios pelos quais a Igreja católica passava e deveria enfrentar nos próximos anos.

Também ficou na História o apelo de João XXIII transmitido pela Rádio Vaticano aos presidentes dos EUA e da ex-URSS pelo fim da crise dos mísseis em Cuba, em 1962. Naquele mesmo ano, teria excomungado de Fidel Castro ao utilizar um decreto de papa Pio XII, que “proibia aos católicos apoiar ‘a doutrina do comunismo materialista e anti-cristão’”.

Ao longo de pouco menos de 5 anos de pontificado, João XXIII promoveu grandes mudanças na Igreja católica. Menos de dois meses antes de sua morte, em 3 de junho de 1963, vítima de um tumor no estômago, assinaria sua última encíclica, Pacem in Terris, ainda hoje referência para teólogos e governantes sobre a reconcilição mundial pregada por São João XXIII.

Fonte: Especial para Terra
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