Escravidão nas Américas De índios a africanos, em plantações ou na mineração, o trabalho escravo marcou a história de praticamente todos os países das Américas. O Brasil foi o último a abolir a escravidão. Veja detalhes. BRASIL Os índios foram as primeiras vítimas da escravidão, no Brasil. Os europeus chegaram a pagar pelo trabalho dos escravos, com espelhos e outros artigos tidos como "modernos". Depois que a Igreja Católica passou a catequizá-los, os índios foram vistos como vítimas e substituídos por escravos africanos, “que não tinham alma”, segundo a Igreja. No início do século XIX, o país tinha uma população de 3,8 milhões de pessoas, das quais 1,9 milhão eram escravas. Os negros atuaram principalmente na agricultura – com destaque para a atividade açucareira – e na mineração, sendo, assim, essenciais para a manutenção da economia. Alguns ainda desempenhavam serviços domésticos e urbanos. A escravidão só foi oficialmente abolida com a assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888. Com isso, o Brasil tornou-se o último país das Américas a abolir esse tipo de trabalho. ESTADOS UNIDOS O período de escravidão nos EUA começou no século XVII. A abolição foi declarada em 1863, com a Proclamação de Emancipação, feita pelo então presidente Abraham Lincoln. A sociedade sulista do país apresentou a maior população escrava das Américas. Os escravos trabalhavam em plantações de milho, tabaco, cânhamo, cana-de-açúcar, arroz e algodão, além de fábricas e ferrovias na Virgínia. Perto de 4 milhões de escravos viviam nos estados do Sul em 1860. Por conta de opiniões religiosas e do jornal The Liberator – lançado para divulgar tais ideias – movimentos abolicionistas começaram a ganhar força nos EUA. A maioria dos políticos era contrária à escravidão e uma guerra civil teve início. Para restaurar a união do país, Lincoln e a liderança republicana decidiram aprovar a 13ª emenda à Constituição, abolindo a escravidão em todo o território. ARGENTINA Tanto Montevidéu quanto Buenos Aires foram dois dos principais portos de entrada de africanos durante o período colonial, na Argentina. Mas, com a abolição da escravidão, em 1853, a população negra quase desapareceu. Em 1778, os negros chegavam a 54% em algumas regiões do país. Em 1887, caiu para 1,8%. Entre os motivos está a pobreza extrema a qual os recém-libertos foram submetidos, a febre-amarela de 1871 e guerras espanholas para as quais foram recrutados. Além disso, argentinos não eram habituados à prática sexual com escravas. Assim, casos de miscigenação foram menos recorrentes que no Brasil. Mesmo não criando raízes familiares na Argentina, os negros foram responsáveis por grande parte da cultura do país. O tango, dança típica argentina, é uma das heranças que a raça deixou antes abandonar a terra. CHILE O primeiro país latino-americano a abolir a escravidão foi o Chile. Em 1811, foi decretada a "liberdade de ventre", que consistia em declarar livres os filhos de escravos que nascessem a partir de então. Em 1823, uma nova Constituição foi promulgada, a fim de alterar o sistema de governo. No artigo 8º, a escravidão foi legalmente proibida. ****fazer um pequeno “box” com o artigo da Constituição*** “No Chile não existem escravos. Aquele que pisar seu território por um dia natural será livre. Aquele que tenha esse comércio (de escravos) não pode habitar aqui mais de um mês; naturalizar-se, jamais" Cerca de 3000 pessoas foram beneficiadas. Mulheres e anciãos, que eram a maioria, continuaram a trabalhar nas casas em que serviam escravidão doméstica. Os homens que tinham condições de carregar armas foram alistados no exército. MÉXICO Em 1808, uma reunião convocada por Napoleão, com representantes de diferentes nações contou com a presença do mexicano José Miguel Guridi Alcocer, que mais tarde, em 1812, seria presidente do país. O político foi o primeiro a apresentar nas Cortes uma proposição abolicionista. Ele pedia pela proibição do tráfico de escravos e abolição gradual da escravidão. No entanto, a questão foi ignorada pelas nações, graças ao perigo que o tema poderia representar para o mundo, na época. O México – que quase não utilizava mão-de-obra africana, mas que fazia dos mestiços e indígenas os principais trabalhadores do país – declarou a abolição apenas em 1829. PERU Apesar de a mão de obra escrava ter sido predominantemente indígena no Peru, o país foi um dos que mais recebeu escravos africanos. A capital, Lima, se destacou por funcionar como um mercado de escravos que abastecia os plantadores das diversas regiões andinas. Em 1622, a cidade contava com 67% dos 30 mil negros que habitavam o Peru. Os negros trabalhavam nas plantações de cana de açúcar e arroz do litoral norte ou em vinhas e campos de algodão da costa sul. Já a população indígena trabalhava nas minas de prata. A abolição do trabalho escravo aconteceu em 1855 e foi declarada pelo presidente Ramón Castilla y Marquezado. HAITI O Haiti foi o primeiro país das Américas a abolir a escravidão. Em 1794, ocorreu a chamada “revolução dos escravos”, no país. No episódio, a grande massa de escravos que existia na região foi impulsionada pelo líder religioso Dutty Boukman a se revoltar e dar início a uma guerra civil. 4000 brancos foram executados e 180 engenhos de açúcar foram destruídos. No entanto, a abolição da escravidão só ocorreu em 1804, quando o ex-escravo Jean-Jacques Dessalines proclamou a independência do país e assumiu o governo do Haiti, que deixou de ser uma nação subordinada à França. BOLÍVIA A questão da escravidão ainda é recente para os bolivianos. Apesar de a abolição ter sido declarada em 1826, o método abusivo de trabalho sobrevive, ilegalmente, no país até os dias de hoje. Os índios guaranis são as vítimas do crime, que acontece nas cidades de Tarija, Chuquisaca e Santa Cruz, localizadas no chamado chaco boliviano. O livro “Em Luta pela Terra sem Mal: A Saga Guarani Contra a Escravidão na Bolívia”, da jornalista Juliana Dal Piva foi publicado em 2012 e narra o problema, mostrando que ainda não é passado no país. Segundo a publicação, cerca de 8000 índios sofrem no trabalho escravo na Bolívia. CUBA Os índios, os primeiros a serem escravizados no território cubano, trabalhavam nas minas de ouro locais. Em meados de 1600, no entanto, tanto as minas quanto os índios estavam praticamente extintos: as minas se esgotaram e os índios morreram por doenças trazidas pelos espanhóis, matanças e trabalho excessivo. No século XVIII, escravos africanos foram levados para o território cubano. A abolição aconteceu de forma progressiva no país, começando em 1879 e indo até 1886. O país foi o penúltimo a abolir essa forma de abuso. A lei determinava que os negros deveriam ser tratados por suas doenças, ter direito à educação, remuneração pelo trabalho e alimentação. Para substituir a mão de obra escrava, Cuba recebeu grandes contingentes de imigrantes chineses. mais especiais de notícias