Crise de fome no Afeganistão se aprofunda à medida que financiamento é insuficiente, diz ONU
O Programa Mundial de Alimentos da ONU não consegue, pela primeira vez em décadas, fornecer ajuda eficaz a milhões de afegãos que sofrem de desnutrição, com mortes, especialmente entre crianças, que provavelmente aumentarão neste inverno, disse o PMA na terça-feira.
A ajuda internacional ao Afeganistão, devastado pela guerra, diminuiu significativamente desde 2021, quando as forças lideradas pelos Estados Unidos saíram do país e o Taliban retomou o poder. A crise foi agravada por várias calamidades naturais, como terremotos.
"Pela primeira vez em décadas, o PMA não pode lançar uma resposta significativa para o inverno, ao mesmo tempo em que amplia o apoio emergencial e nutricional em todo o país", disse a agência da ONU em um comunicado, acrescentando que precisava de mais de US$460 milhões para prestar assistência alimentar a seis milhões de afegãos mais vulneráveis.
"Com a desnutrição infantil já em seu nível mais alto em décadas e reduções sem precedentes no financiamento (internacional) para agências que prestam serviços essenciais, o acesso ao tratamento está cada vez mais escasso", afirmou.
É provável que as mortes de crianças aumentem durante os meses gelados de inverno no Afeganistão, quando os alimentos são mais escassos, afirmou.
O PMA estima que 17 milhões de pessoas passam fome, cerca de 3 milhões a mais do que no ano passado, um aumento impulsionado, em parte, por milhões de afegãos deportados dos países vizinhos Irã e Paquistão, de acordo com os programas de devolução de migrantes e refugiados.
As agências humanitárias alertaram que o Afeganistão não tem infraestrutura para absorver um fluxo repentino de repatriados.
"Temos apenas 12% de financiamento. Isso é um obstáculo", disse Jean-Martin Bauer, diretor de segurança alimentar e análise nutricional do PMA, em uma coletiva de imprensa em Genebra. Ele acrescentou que 3,7 milhões de crianças afegãs estavam com desnutrição aguda, sendo que 1 milhão delas eram casos graves. "Portanto, sim, as crianças estão morrendo", disse ele.