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Com Trump, o que pode mudar na relação com Rússia, China, Irã, Síria e Coreia do Norte?

9 nov 2016 - 07h45
(atualizado às 09h30)
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Donald Trump venceu a disputa com Hillary Clinton
Donald Trump venceu a disputa com Hillary Clinton
Foto: Getty / BBC News Brasil

Com a surpreedente vitória de Donald Trump na eleição presidencial americana, muitos se perguntam como será a política externa do país mais poderoso do mundo.

Muitos analistas dizem que boa parte das promessas de campanha talvez não se cumpram. Mas pelo que indicou durante o processo eleitoral, o republicano buscará novos acordos comerciais mais vantajosos e reestudará acordos existentes que não interessem ao país.

Essa mesma postura deve orientar a posição do seu governo em relação a algumas questões internacionais fundamentais.

Otan

Em nenhuma outra área, Donald Trump teve uma posição tão radicalmente diferente da política atual dos Estados Unidos nas últimas décadas como no seu posicionamento sobre alianças internacionais estratégicas.

Ele tem criticado duramente a Otan, aliança militar do Ocidente criada no bojo da Guerra Fria, dizendo que a organização é ultrapassada e obsoleta. Ele também qualificou alguns países membros como aliados "ingratos" que tiram proveito da "grandeza" americana.

O presidente eleito diz que os Estados Unidos não podem mais bancar a proteção de países da Europa - e da Ásia - sem uma compensação adequada, sugerindo que retiraria as forças americanas da organização a menos que as outras nações aumentassem sua contribuição.

Ele também disse que membros da Otan como os países bálticos não poderiam contar com os Estados Unidos e sua ajuda militar caso fossem atacados pela Rússia.

Jovens em Kosovo mostram bandeiras dos EUA e da Otan durante competição do Exército americano e da força de segurança de Kosovo em Pristina. Aproximadamente 4.600 soldados liderados pela Otan ainda estão presentes no Kosovo
Jovens em Kosovo mostram bandeiras dos EUA e da Otan durante competição do Exército americano e da força de segurança de Kosovo em Pristina. Aproximadamente 4.600 soldados liderados pela Otan ainda estão presentes no Kosovo
Foto: Getty Images

Obama já vinha se dizendo frustrado com o fato de a maior parte dos Estados da aliança não ter batido a meta de investir ao menos 2% de seu PIB em Defesa.

Mas Obama seguiu apoiando firmemente a Otan, assim como Hillary, que defendia que a aliança era um dos melhores investimentos que os EUA poderiam fazer.

Para o ex-chefe da Otan Anders Fogh Rasmussem, uma presidência de Trump deixaria "o mundo menos seguro".

Rússia

Donald Trump sempre adotou um tom conciliatório com relação à Rússia - tanto que teve apoio massivo da mídia russa para sua eleição.

Foi uma inversão à posição tradicional antirussa do Partido Republicano. Em meio a acusações de que a Rússia teria tentado "interferir" nas eleições americanas hackeando e-mails do Partido Democrata, Trump foi mais longe em seus elogios ao governo russo do que qualquer outro candidato presidencial.

Isso provocou alegações de que sua campanha teria ligações com o Kremlin. O magnata do setor imobiliário tem uma história de negócios com a Rússia e um número de assessores com conexões russas. O FBI, no entanto, não encontrou nenhuma razão para suspeitar de alguma ligação direta.

Trump disse, durante a campanha, que poderia aliviar as tensões entre os Estados Unidos e o presidente russo, Vladimir Putin, com quem "adoraria ter uma boa relação".

Até aqui, o presidente eleito ainda não mencionou como seria essa relação. Uma das possibilidades seria juntar forças com a Rússia no combate ao Estado Islâmico. Mas ele quer tentar descobrir se os russos podem ser mais "razoáveis" - e está certo de que será muito melhor do que Hillary ou Obama para conquistar o respeito deles.

Estado Islâmico

Tanto Obama quanto Hillary adotavam uma postura dura com relação ao Estado Islâmico. Mas o presidente eleito se mostrou mais agressivo e já chegou a dizer que "bombearia o que visse pela frente" do Estado Islâmico (EI) e que tiraria todo o petróleo do grupo.

Trump costumava criticar o governo de Obama por "não usar o elemento surpresa" em ataques, especialmente na ofensiva contra os extremistas na cidade de Mossul, sob controle do EI.

Assim como Hillary, Trump também tem como plano manter a estratégia de combate ao EI com uma coalizão do Ocidente com alguns países árabe - da mesma maneira como os Estados Unidos sempre fizeram - só que intensificando suas ações. Mas ele parece ter abandonado a ideia de enviar tropas ao Iraque e à Síria para combater os extremistas.

Síria

A questão da Síria tem sido debatida no mundo inteiro por causa do alto número de refugiados obrigados a deixar suas casas. Donald Trump até é favorável a uma zona "segura" para acabar com o alto fluxo de refugiados, mas diz que os países árabes ricos deveriam tomar conta disso.

Seguindo a linha da política externa já adotada pelos Estados Unidos, Trump priorizará o combate ao Estado Islâmico em detrimento da pressão para tirar o presidente sírio Bashar al-Assad do poder.

O republicano diz que não irá apoiar os rebeldes - como Obama chegou a fazer providenciando armas para eles - e sugere, inclusive, que derrubar Assad poderia gerar um problema ainda maior no país.

Irã

O acordo nuclear com o Irã reduziu imediatamente a ameaça de confronto militar entre o país e os Estados Unidos, mas como novo presidente, Trump pode dificultar a realização do acerto.

Ele se manifestou contra o acordo - chegou a chamá-lo de "um dos piores acordos jamais feitos na história dos Estados Unidos" e disse que o Irã conseguiu o melhor que Obama e Hillary poderiam oferecer.

Durante a campanha, Trump afirmava que poderia renegociar o acordo, mas nunca deixou claro como o faria. Ele prometeu conter a tentativa do Irã de desestabilizar e dominar a região - o que não era muito diferente do discurso de Hillary.

O republicano está preparado também para usar a força, caso o Irã tente obter armas nucleares.

Israel e Palestina

Ao contrário da postura recente que os Estados Unidos - sob o comando dos Democratas - têm tomado em relação a esse conflito, sempre dando apoio incondicional a Israel, Donald Trump chegou a afirmar que seria neutro em quaisquer negociações de paz.

Mas, desde então, ele já mudou de ideia e prometeu uma aliança inseparável com Israel, adotando uma linha mais dura em relação aos palestinos. Trump diz que apoia uma solução de dois Estados, mas que isso só seria possível quando os palestinos superarem seu "ódio arraigado" contra Israel e pararem de "ensinar seus filhos a serem terroristas".

Seus assessores, porém, já questionaram a viabilidade de uma solução de dois Estados, e qualquer referência a ela foi tirada da plataforma republicana. Isso deixa aflito vários lobistas judeus nos EUA que viam essa questão como essencial para o futuro de Israel como um Estado judeu democrático.

China

O novo presidente herdará uma relação crucial, porém complexa, com esta potência global em ascensão. A relação com a China é caracterizada por controvérsias sobre política econômica e reivindicações territoriais nos mares asiáticos.

Donald Trump sempre se refere à China basicamente como parceiro comercial que tira proveito do país. Ele alega que Pequim pratica "dumping" em exportações e desvaloriza sua moeda. Trump diz ainda que "usará o comércio como forma de negociação", ameaçando impor novas tarifas de importação de até 45% e denunciando a Chima como "manipulador de moedas".

Coreia do Norte

O presidente eleito encontrará uma Coreia do Norte a caminho de se tornar uma potência nuclear capaz de desenvolver um míssil atômico. Atualmente, a política dos EUA sobre o país comunista é um misto de sanções e promessas de negociações caso Pyongyang abandone seu programa nuclear.

Esta política, entretanto, não funcionou e não deve funcionar, de acordo com o chefe de inteligência dos EUA, James Clapper.

Ele disse recentemente que pressionar o regime para abandonar suas armas nucleares é uma "causa praticamente perdida", porque elas seriam a "senha de sobrevivência" norte-coreana. O melhor que os EUA poderiam esperar, segundo Clapper, seria uma restrição do potencial nuclear da Coreia do Norte.

Donald Trump sugere uma abordagem mais agressiva: que a China exerça "controle total" sobre a Coreia do Norte e diz que "tornará negociações comerciais muito difíceis" para Pequim, se os problemas não forem resolvidos.

Ele diz que está preparado para conversar diretamente com o líder Kim Jong Um, o que seria uma grande mudança na política dos EUA.

Trump afirma ainda que estaria aberto a um eventual programa atômico militar do Japão, provocando temores de uma proliferação nuclear no leste asiático.

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