Bolívia realiza eleição presidencial em meio à queda de apoio à esquerda e com inflação como maior preocupação
Na liderança da disputa estão os candidatos conservadores de oposição Samuel Doria Medina
A Bolívia realiza eleições presidenciais marcadas pela inflação recorde, queda de apoio à esquerda e liderança de candidatos conservadores, enquanto um possível segundo turno está previsto para outubro.
Eleitores da Bolívia vão às urnas neste domingo para uma eleição presidencial que tem sido ofuscada pela inflação, que atingiu o maior nível em quatro décadas, e pela ausência do ex-presidente esquerdista Evo Morales, que está impedido de concorrer.
Na liderança da disputa estão os candidatos conservadores de oposição Samuel Doria Medina, um magnata, e o ex-presidente Jorge "Tuto" Quiroga, mas nenhum deles conta com mais de 30% de apoio, segundo as pesquisas de opinião, com cerca de 25% dos bolivianos ainda indecisos.
A disputa marca a primeira vez em quase duas décadas que as pesquisas indicam que o governista Movimento ao Socialismo, ou MAS, pode ser derrotado. O apoio aos candidatos afiliados ao MAS e a outros candidatos de esquerda está atrás da oposição, totalizando cerca de 10%, de acordo com uma pesquisa.
Se nenhum candidato obtiver mais de 40% de apoio com uma vantagem de 10 pontos percentuais, a eleição irá para o segundo turno em 19 de outubro.
Morales, que foi cofundador do MAS e governou o país de 2006 a 2019 sob sua bandeira, foi impedido de concorrer a outro mandato como presidente.
As urnas abriram neste domingo às 8h (9h no horário de Brasília), e fecham às 16h, com resultados iniciais previstos para depois das 21h.
Os resultados oficiais completos serão divulgados em sete dias. Os eleitores também elegerão todos os 26 senadores e 130 deputados, e as autoridades assumirão seus cargos em 8 de novembro.
A frágil economia da Bolívia é a principal preocupação dos eleitores. Os aumentos de preços ultrapassaram outros países latino-americanos neste ano, e o combustível e os dólares estão escassos.
A inflação anual dobrou para 23% em junho, ante 12% em janeiro, e alguns bolivianos estão recorrendo às criptomoedas como proteção.
Muitos bolivianos, especialmente aqueles que trabalham na economia informal, agora estão lutando para sobreviver, disse o economista Roger Lopez.
"Os preços da cesta básica de alimentos estão subindo rapidamente", disse Lopez. "De repente, a matemática não faz mais sentido."
Eles podem optar por punir o MAS neste domingo, criando uma janela de oportunidade para o centro, a direita ou uma facção de esquerda liderada pelo presidente do Senado, Andrónico Rodríguez.
"A cada ano a situação piora com esse governo", disse Silvia Morales, de 30 anos, que trabalha no varejo. Ex-eleitora do MAS, ela disse que, desta vez, votará em um partido de centro-direita.
Quiroga tem prometido uma "mudança radical" para reverter o que ele chama de "20 anos perdidos" sob o governo do MAS. Ele apoia cortes profundos nos gastos públicos e um afastamento das alianças com Venezuela, Cuba e Nicarágua. Quiroga foi presidente por um ano entre 2001 e 2002, depois que o então líder renunciou.
Doria Medina, por sua vez, oferece uma abordagem mais moderada, comprometendo-se a estabilizar a economia em 100 dias.
Na esquerda, a votação está dividida entre o candidato oficial do partido MAS, Eduardo del Castillo, que é apoiado pelo presidente cessante Luis Arce, e Rodríguez, que se distanciou do partido e está concorrendo com sua própria chapa.
Morales, de 69 anos, tem pedido um boicote à eleição, mas analistas disseram que sua influência está diminuindo.