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Australiano é condenado por matar esposa e trocar por aluna em crime de 1982 solucionado após podcast

Quatro décadas após o misterioso desaparecimento de Lynette Dawson, o marido dela foi condenado a 24 anos de prisão por assassinato, após um julgamento influenciado por um dos podcasts mais populares dos últimos anos.

2 dez 2022 - 06h18
(atualizado às 07h42)
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Chris Dawson, que nega ter matado Lynette, foi condenado a 24 anos de prisão por assassinato
Chris Dawson, que nega ter matado Lynette, foi condenado a 24 anos de prisão por assassinato
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O caso permaneceu sem solução por mais de 40 anos.

Até que, no fim de agosto deste ano, um juiz da Suprema Corte de Nova Gales do Sul, na Austrália, considerou Chris Dawson, de 74 anos, culpado pelo assassinato da esposa, Lynette.

Nesta sexta-feira (02/12), foi anunciada a pena: 24 anos de prisão — com direito a liberdade condicional após 18 anos. O juiz reconheceu que é provável que ele morra atrás das grades.

O advogado de Chris indicou, no entanto, que seu cliente provavelmente vai recorrer da decisão.

Chris, um ex-jogador profissional de rúgbi, morava com ela e os dois filhos do casal na cidade de Sydney.

Eles eram uma família aparentemente normal até que ela desapareceu sem deixar vestígios em janeiro de 1982. À época, Lynette tinha 33 anos.

Chris Dawson (à esquerda) com dois companheiros de time de rugby em 1974
Chris Dawson (à esquerda) com dois companheiros de time de rugby em 1974
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Chris deixara o rugby no final dos anos 1970 e tinha virado professor de Educação Física em uma escola pública nas praias do norte de Sydney.

E foi justamente durante as aulas que ele se apaixonou por Joanne Curtis, uma das alunas adolescentes, que foi mencionada como JC no julgamento recém-finalizado.

Infidelidade

JC tinha apenas 16 anos quando Chris se apaixonou por ela, de acordo com detalhes revelados tanto no julgamento quanto no podcast investigativo de 2018 que desenterrou o caso, The Teacher's Pet.

Joanne fazia parte de uma família desestruturada, onde a violência e o álcool faziam parte da rotina diária.

Apesar de ter o dobro da idade dela e ser casado, o professor estabeleceu uma relação próxima com a jovem. Chris contratou a adolescente como babá em sua casa e começou um relacionamento secreto com ela.

De acordo com o testemunho de JC durante o julgamento, ambos fizeram sexo às escondidas, quando Lynette estava dormindo ou tomando banho.

Chris Dawson estava obcecado pela adolescente, que ele enxergava como uma "substituta" para a esposa, de acordo com a avaliação do juiz Ian Harrison.

Apenas três dias após o desaparecimento de Lynette, a jovem estudante foi morar definitivamente com os Dawsons.

Joanne Curtis em 2003
Joanne Curtis em 2003
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O desaparecimento

Nos meses que antecederam o desaparecimento da esposa, Chris ficou cada vez mais desesperado à medida que os planos de divórcio fracassaram e JC ameaçava terminar o caso, afirmou o juiz.

"Quando o afeto se transformou em uma relação sexual, Dawson se deparou com a dura realidade de que não poderia continuar casado e ainda manter um relacionamento cada vez mais intenso" com a adolescente, segundo o magistrado.

"A perspectiva de perdê-la causou aflição, frustração e acabou o oprimindo tanto que Dawson decidiu matar a esposa", disse o juiz.

Chris Dawson nega ter matado Lynette e sempre afirmou que ela abandonara a ele e aos dois filhos, possivelmente para se juntar a um grupo religioso.

A polícia não encontrou um único vestígio de Lynette desde seu sumiço nos anos 1980.

O corpo de Lynette Dawson nunca foi encontrado
O corpo de Lynette Dawson nunca foi encontrado
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Chris afirmou que a esposa ligou para ele dias depois do desaparecimento para dizer que precisava de uma pausa no relacionamento.

Essa primeira ligação, assegurou ele, foi seguida por outras, mas não existe nenhuma prova disso. Por isso, o juiz acredita que essa versão seja mentirosa.

A defesa do marido também alegou que pelo menos cinco pessoas declararam ter visto a mulher desaparecida viva depois de janeiro de 1982.

Isso também não convenceu o juiz, que considerou os episódios como erros de percepção das supostas testemunhas.

Dois anos após o desaparecimento de Lynette, em 1984, Chris Dawson e Joanne Curtis se casaram e tiveram uma filha. O casal se divorciou em 1993.

O podcast

Duas investigações sobre o desaparecimento de Lynette em 2001 e 2003 concluíram que ela foi morta por uma "pessoa conhecida".

Mas os promotores não viram evidências suficientes para apresentar uma queixa, até que o jornalista Hedley Thomas investigou o caso num podcast.

Vencedor do Walkley, o maior prêmio de jornalismo da Austrália, The Teacher's Pet acumulou mais de 60 milhões de downloads e alcançou o primeiro lugar nas paradas australianas. O programa também teve uma ótima audiência em Reino Unido, Canadá e Nova Zelândia.

Hedley Thomas, autor do podcast 'The Teacher's Pet'
Hedley Thomas, autor do podcast 'The Teacher's Pet'
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O podcast — e o impacto que o conteúdo causou na opinião pública — tiveram um papel fundamental na prisão de Chris em 2018 e na acusação de homicídio.

O juiz Harrison criticou a"visão desequilibrada" do caso e decidiu que isso havia afetado as provas fornecidas por algumas testemunhas ouvidas no passado.

A comoção gerada pelo podcast atrasou, inclusive, o início do julgamento.

A defesa até tentou paralisar o caso, argumentando que o impacto do programa privou o réu da oportunidade de um julgamento justo.

Por fim, optou-se por realizar o julgamento com um juiz em vez recorrer a um júri popular, considerando que as pessoas fora do magistrado seriam mais influenciadas pela opinião pública.

O veredicto

Ao anunciar a pena de 24 anos de prisão nesta sexta-feira, o juiz Ian Harrison disse que o crime de Dawson foi uma "brutalidade autoindulgente", que "não foi espontânea nem inevitável".

Ele havia sido condenado no dia 30 de agosto de 2022, após um julgamento de três meses que incluiu evidências e depoimentos de várias testemunhas.

Embora nenhuma das evidências fosse conclusiva por si só, depois de avaliá-las como um todo, o magistrado decidiu que a culpa de Chris Dawson era "convincente".

Chris Dawson, ao chegar ao tribunal antes de ouvir o veredicto
Chris Dawson, ao chegar ao tribunal antes de ouvir o veredicto
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O juiz rejeitou a versão do réu de que Lynette Dawson deixou a casa de forma voluntária.

Ele avaliou que a vítima "idolatrava os filhos e o marido" e que todos os os bens dela permaneceram na casa da família após o desaparecimento.

"Até as lentes de contato foram encontradas em um recipiente azul", alegou.

Além disso, desde que Lynette desapareceu, nenhum dos amigos e dos familiares teve notícias ou qualquer indicação de que ela pudesse estar viva em qualquer lugar do mundo.

Tomando as provas circunstanciais como um todo, o juiz afirmou que, "sem dúvida", Chris matou sua esposa e se livrou do corpo.

Após o veredicto, o culpado foi algemado e saiu da sala balançando a cabeça, mostrando-se insatisfeito.

A família

Os familiares de Lynette Dawson presentes no tribunal reagiram ao veredicto com lágrimas.

O irmão, Greg Simms, afirmou que a decisão do tribunal apenas confirmou o que eles já sabiam há anos.

O irmão de Lynette Dawson e a esposa dele pedem uma nova investigação do caso há anos
O irmão de Lynette Dawson e a esposa dele pedem uma nova investigação do caso há anos
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

"Ela amava a família e nunca os deixou por vontade própria. A confiança, no entanto, foi traída por um homem que ela amava", explicou Simms à imprensa, visivelmente emocionado.

Ele também fez alusão ao corpo nunca encontrado e a Chris Dawson, a quem pediu para "finalmente fazer o que é certo" e "nos permitir trazer Lynette para casa e descansar em paz, oferecendo a dignidade que ela merece".

- Este texto foi publicado originalmente em 1 de setembro de 2022 em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62751316

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