Mourão recebe integrantes da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira
Transferência da embaixada brasileira em Israel poderia gerar prejuízo de US$ 20 bilhões em um prazo de quatro anos, segundo projeção da Câmara de Comércio
BRASÍLIA - Em meio à polêmica em torno da possível transferência da embaixada do Brasil em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém, o vice-presidente eleito, Hamilton Mourão, recebeu nesta terça-feira, 18, integrantes da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira e postou uma foto em sua conta no Twitter. "Recebi no Gabinete de Transição, em Brasília, representantes da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, quando conversamos sobre as possibilidades de comércio e investimentos no Brasil dos 22 países árabes representados pelo órgão", escreveu.
Os árabes, que apoiam a Palestina, são contra a transferência da embaixada do Brasil, que significaria reconhecer a reivindicação de Israel sobre a cidade de Jerusalém. A mudança é uma promessa de campanha do presidente eleito, Jair Bolsonaro. Por causa dela, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, confirmou presença na cerimônia de posse.
Mais cedo nesta terça, conforme informou o Estado, a Liga Árabe aprovou, no Cairo, uma resolução pedindo que o Brasil desista de seu plano. Segundo o governo palestino, autoridades brasileiras serão advertidas que haverá medidas nos campos político, diplomático e econômico caso a mudança seja concretizada.
A conversa com Mourão, porém, não foi para tratar desse tema em específico. "Levamos a ele um estudo sobre o potencial de comércio e investimento com os países árabes", disse ao Estado o presidente da Câmara, Rubens Hannun.
A questão da embaixada foi abordada quando o executivo contou a Mourão que, numa viagem recente aos países árabes, percebeu o risco de haver uma "postura mais efetiva", com consequências negativas para os negócios com o Brasil. Eles não perguntaram ao general se a embaixada vai mesmo ser transferida.
Os números apresentados pela Câmara servem, porém, para ilustrar o potencial prejuízo com a medida. As projeções indicam que o comércio pode chegar a US$ 20 bilhões num prazo de quatro anos.
Além disso, os bilionários fundos soberanos do mundo árabe, formados com o dinheiro obtido com a venda de petróleo, estão interessados em investir em infraestrutura logística no Brasil, com vistas ao transporte de alimentos. "Existe possibilidade de o Brasil ser o maior parceiro dos árabes no agronegócio", afirmou Hannun.
Para isso, é preciso remover alguns obstáculos. O principal deles é a inexistência, na maior parte dos casos, de acordos que impeçam a dupla tributação dos investimentos dos árabes no Brasil. Neste ano, foi assinado o acordo do tipo com os Emirados Árabes Unidos. Mas falta, por exemplo, fazer o mesmo com a Arábia Saudita, que recentemente criou um fundo específico para aplicar em segurança alimentar.
Recebi no Gabinete de Transição, em Brasília, representantes da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, quando conversamos sobre as possibilidades de comércio e investimentos no Brasil dos 22 países árabes representados pelo órgão. pic.twitter.com/gcEuDnUgZU
— General Hamilton Mourão (@GeneralMourao) 18 de dezembro de 2018