Melatonina em crianças exige cautela e orientação médica
O uso de melatonina em crianças cresce, mas médicos reforçam que o suplemento precisa de avaliação individual e não substitui hábitos saudáveis de sono.
O consumo de melatonina por crianças vem crescendo nos últimos anos. Muitos pais recorrem ao suplemento em busca de noites mais tranquilas, principalmente quando os filhos apresentam dificuldade para dormir. No entanto, especialistas alertam que o uso da substância deve ocorrer apenas sob orientação médica e em situações bem avaliadas.
A melatonina é um hormônio natural produzido pelo cérebro, responsável por regular o ciclo do sono. Quando o ambiente escurece, o corpo aumenta sua produção, preparando o organismo para o descanso. Em adultos, o uso suplementar se tornou comum para ajustar o relógio biológico, principalmente em casos de jet lag ou insônia leve. Já em crianças, o uso ainda levanta dúvidas e preocupações entre os profissionais de saúde.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, não existe consenso científico que comprove a segurança e a eficácia da melatonina no longo prazo para o público infantil. Estudos mostram resultados variados e, em muitos casos, a substância pode mascarar causas reais dos distúrbios do sono, como ansiedade, excesso de telas à noite ou rotina desorganizada.
Os pediatras reforçam que a primeira etapa no tratamento das dificuldades para dormir deve focar em mudanças comportamentais. Estabelecer horários fixos, reduzir o uso de dispositivos eletrônicos antes de dormir e criar um ambiente tranquilo são medidas que impactam diretamente a qualidade do sono. O suplemento só entra em cena quando todas as alternativas falham e o profissional identifica uma indicação clínica precisa.
Alguns casos específicos podem se beneficiar da melatonina, como crianças com transtorno do espectro autista ou TDAH, que frequentemente enfrentam desequilíbrios no sono. Mesmo nessas situações, o acompanhamento médico é essencial para ajustar a dosagem correta e monitorar possíveis efeitos adversos, como sonolência diurna, irritabilidade ou alterações hormonais.
O uso indiscriminado preocupa os especialistas. Nos Estados Unidos, por exemplo, um levantamento da American Academy of Pediatrics mostrou aumento no número de intoxicações acidentais com melatonina entre crianças pequenas, muitas vezes por consumo inadvertido de suplementos em casa. O dado reforça a importância de armazenar o produto com segurança e de evitar a automedicação.
Além disso, profissionais de saúde alertam que a melatonina vendida em farmácias ou lojas de suplementos pode ter concentração variável e nem sempre apresenta controle rigoroso de qualidade, o que aumenta o risco de uso inadequado.
Os médicos recomendam que os pais procurem um pediatra ou neuropediatra antes de considerar o suplemento. O profissional vai avaliar o histórico da criança, possíveis causas dos distúrbios e a necessidade real de intervenção com hormônio. Essa abordagem evita que o suplemento substitua hábitos de sono saudáveis, fundamentais para o desenvolvimento infantil.
O debate sobre o uso da melatonina em crianças segue em aberto, e novas pesquisas buscam entender seus efeitos a longo prazo. Enquanto não há consenso definitivo, especialistas defendem a prudência e o uso responsável, sempre com acompanhamento profissional.