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'Hunters': por que a Amazon entrou na mira de grupos judeus de preservação do Holocausto

Companhia está sendo criticada tanto pela série 'Hunters', com Al Pacino, quanto por venda de livros antissemitas.

24 fev 2020 - 05h30
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Entidades argumentam que invenção de atrocidades fictícias incentiva o negacionismo do Holocausto
Entidades argumentam que invenção de atrocidades fictícias incentiva o negacionismo do Holocausto
Foto: AFP / BBC News Brasil

Grupos ligados à preservação da memória do Holocausto lançaram críticas à Amazon, tanto por seu conteúdo próprio na plataforma de streaming Amazon Prime quanto por seu site de varejo online.

As principais críticas estão direcionadas à série Hunters, recém-lançada pela Amazon, estrelando Al Pacino. A série, de dez episódios, gira em torno de um grupo de caçadores de nazistas nos EUA dos anos 1970.

Críticos afirmam que a série incentiva o negacionismo do Holocausto ao inventar atrocidades ficcionais relacionadas àquele período — em referência específica a uma cena em que prisioneiros do campo de Auschwitz são forçados a matar uns aos outros em um jogo de xadrez humano.

"Auschwitz foi repleto de terríveis dores e sofrimento humano, documentados nos relatos de sobreviventes. Inventar um falso jogo de xadrez humano para Hunters não é só uma bobagem perigosa e uma caricatura. É algo que incentiva futuros negacionistas. Nós honramos as vítimas ao preservar a precisão factual", escreveu no Twitter a organização Auschwitz Memorial, que preserva o antigo campo de concentração na forma de espaço histórico.

O Holocausto foi o período em que cerca de 6 milhões de judeus foram mortos na Europa ocupada pelos nazistas, entre 1941 e 1945. Em Auschwitz, foram mortas 1,1 milhão de pessoas, a maioria delas judeus.

O Auschwitz Memorial também criticou a Amazon pela venda de livros antissemitas, particularmente um escrito pelo oficial nazista Julius Streicher.

"Quando você decide lucrar com a venda de perversos livros antissemitas de propaganda nazista publicados sem nenhum comentário ou contexto crítico, você precisa lembrar que essas palavras não levaram apenas ao Holocausto, mas a muitos outros crimes de ódio motivados pelo antissemitismo", disse a organização.

Em resposta à agência Reuters, a Amazon afirmou que comentará sobre a série Hunters mais tarde. Sobre os livros, a empresa afirmou que "como vendedora de livros, somos cientes da censura de livros ao longo da história e levamos isso a sério. Acreditamos que oferecer acesso ao discurso escrito é importante, incluindo livros que possam ser considerados questionáveis".

À BBC a empresa declarou que está "escutando o feedback" a respeito da venda de livros desse teor.

Survivors of Auschwitz leaving the camp at the end of World War II, Poland
Survivors of Auschwitz leaving the camp at the end of World War II, Poland
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Em dezembro, a Amazon retirou de seu catálogo produtos decorados com imagens de Auschwitz, incluindo produtos natalinos, depois de uma reclamação do Memorial.

Ainda sobre a série Hunters, Karen Pollack, executiva-chefe da Fundação Educativa do Holocausto, afirmou à BBC que retratos fictícios como o feito pelo seriado dão um tom de "entretenimento superficial" ao tema.

"Temos uma responsabilidade real de proteger a verdade sobre o Holocausto", ela declarou. "Particularmente à medida que estamos mais distantes da história viva, (uma vez que) os sobreviventes são em menor número e mais frágeis".

"Não podemos fazer isso sozinhos", completou. "Precisamos depender das outras pessoas na sociedade que querem fazer o bem."

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