Debate evidencia distância entre Davos e Porto Alegre

Domingo, 28 de janeiro de 2001, 19h53min

Eva Mothci/Direto de Porto Alegre

A teleconferência entre integrantes do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, e do Fórum Econômico Mundial, em Davos, deixou claro que as visões de mundo representadas nos dois espaços estão longe de uma conciliação. O debate, que durou pouco mais de uma hora, foi marcado pela ironia e a tensão. Davos e o neoliberalismo de um lado, Porto Alegre e a busca de um modelo econômico alternativo de outro.

Já de início Walden Bello, delegado filipino da ONG Focus on Global South, questionou Davos sobre o fato de só haver homens e brancos no debate, enquanto em Porto Alegre as mulheres e outras raças estavam representadas. O megaespeculador George Soros afirmou que os protestos ao neoliberalismo tiveram sucesso e atraíram a atenção, o que lhe valeu mais tarde a ironia de Bernard Cassen , da Attac: "é interessante o senhor Soros dizer que, depois dos protestos, ele sabe o que é pobreza. Volte para a Terra, senhor Soros, em que mundo o senhor vive?"

Cassen disse ainda que tinha duas sugestões de ação concreta: a taxação do movimento financeiro com o imposto Tobin e a anulação total da dívida dos países subdesenvolvidos, "porque ela já foi paga milhões de vezes." Soros declarou-se a favor da taxa Tobin, posição já tornada pública em seu livro, mas nada disse sobre a dívida externa. Mais tarde, quando Cassen sugeriu que um abaixo-assinado a favor da anulação da dívida externa fosse feito em Davos, Soros admitiu: "certamente não iremos coletar muitas assinaturas".

Sucederam-se perguntas e colocações de ambos os lados. Foram cobradas pelos representantes do Fórum Social ações concretas em relação às 19 mil crianças africanas que morrem a cada dia, aos desempregados surgidos das privatizações e outros efeitos da globalização. De Davos, veio uma declaração quase tímida de reconhecimento das dificuldades e evasivas em vez de respostas. Proposta, nenhuma. Ironia, de sobra. Um dos representantes da ONU, John Ruggie, chegou a sugerir um pacto global para diminuir a tensão entre os debatedores.

Não há pacto. Em Davos, foi sugerida a melhoria via ações de responsabilidade social das empresas e reafirmada a inutilidade de se tentar destruir o sistema vigente. Em Porto Alegre, consolidada e exigida a defesa de um modelo alternativo para mitigar a fome, acabar com a pobreza e promover a justiça social. O diálogo mal começou.

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