Script = https://s1.trrsf.com/update-1765224309/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Em crise, setor de energia renováveis do Brasil prevê nova queda de instalações em 2026

16 dez 2025 - 11h39
Compartilhar
Exibir comentários

O setor de energias renováveis do Brasil prevê queda das instalações de parques eólicos e solares em 2026, segundo ano seguido de desaceleração da entrada de nova oferta das fontes limpas, que enfrentam uma conjuntura desfavorável marcada por cortes expressivos na geração, gargalos na transmissão e sobreoferta devido ao crescimento baixo da demanda doméstica por energia.

A menor adição de potência eólica e solar se segue a uma onda recorde de cancelamentos de projetos, de empreendedores como Shell, Enel e Engie Brasil, com cerca de 13 gigawatts (GW) em autorizações para implantação de novas usinas revogadas pela agência reguladora Aneel neste ano até início de dezembro.

No segmento solar, que impulsionou o crescimento das fontes renováveis na matriz brasileira nos últimos anos, a previsão é de uma redução de 7% no volume de novas instalações de geração centralizada e distribuída, para 10,6 GW em 2026, contra 11,4 GW neste ano, quando já houve queda de mais de 20% ante 2024, segundo a associação Absolar.

Já para as eólicas, a associação Abeeólica estima que em 2025 a instalação de novas usinas tenha recuado a 2,2 GW, o menor volume desde 2019, e menos da metade de 2023, último ano em que se vislumbrava um cenário positivo para o setor. Para 2026, a expectativa é de entrada em operação de 1,26 GW de eólicas, aponta a entidade, citando um monitoramento da Aneel.

A perda de fôlego reflete tanto um movimento natural de mercado, após anos de expansão acelerada na esteira de subsídios bilionários ao segmento que aumentaram sua atratividade, até uma piora na rentabilidade de novos projetos em função das restrições à geração eólica e solar, com perdas bilionárias de receita acumuladas para usinas já operacionais.

"É a somatória de duas crises, uma crise macro, com perspectiva ruim para o mercado (de energia) pelo fato de o PIB não ter crescido tanto, e uma micro, com os cortes de geração", avaliou a presidente da Abeeólica, Elbia Gannoum.

A principal preocupação do setor no momento é com as restrições de geração pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que aumentaram significativamente para as fontes eólica e solar desde 2023, principalmente para manter a segurança do sistema em momentos de sobreoferta de energia. Esses cortes vêm trazendo prejuízos bilionários aos geradores, que ainda discutem com o governo uma saída para estancar as perdas.

Mas mesmo a geração distribuída solar, que não sofre com os cortes do ONS, também deve ver desaceleração em 2026, principalmente no modelo de "energia solar por assinatura", envolvendo pequenas usinas que atendem vários consumidores consorciados no mesmo empreendimento.

Segundo o presidente da Absolar, Rodrigo Sauaia, essa desaceleração reflete, em parte, a mudança gradual dos incentivos tarifários prevista no marco legal da geração distribuída.

"Alguns modelos de negócio, a cada ano que passa, pagam um pedágio maior pela injeção da energia na rede e isso diminui a competitividade. E o segundo aspecto importante que afeta a geração distribuída como um todo, inclusive a solar em telhado, é a alta dos juros, o custo de crédito está extremamente elevado", disse.

CANCELAMENTO DE PROJETOS

Dados da Aneel indicam a revogação de 12,9 GW em autorizações para implantação de projetos eólicos e solares em 2025 -- um volume recorde e que supera até os 11,9 GW de 2023, quando houve um número excepcional de cancelamentos devido ao chamado "Dia do Perdão".

Na ocasião, a agência reguladora abriu uma espécie de anistia aos geradores, permitindo que desistissem de projetos sem pagar multas após uma corrida do mercado para garantir outorgas eólicas e solares antes da mudança nos benefícios tarifários.

Entre os projetos cancelados este ano, estão cerca de 1,2 GW da Shell, 1,3 GW da Enel, além de uma expansão do complexo solar Santo Agostinho, da Engie.

Segundo a Enel, os projetos de energia renovável cancelados por sua subsidiária Enel Green Power Brasil "tornaram-se inviáveis devido a questões regulatórias", como cortes de geração e restrições de conexão à rede elétrica.

"No entanto, caso o ambiente regulatório mude, não há impedimento para o desenvolvimento futuro desses projetos", disse a elétrica italiana, destacando que mais do que dobrou sua capacidade de geração renovável no Brasil nos últimos cinco anos, para mais de 6,6 GW.

Gabriel Mann, diretor de regulação, estratégia e comunicação da Engie Brasil Energia, ressalta que, além dos cortes de geração, outros temas vêm afetando a percepção dos investidores no setor de renováveis e dificultando os investimentos.

Como exemplos, ele cita a tributação de dividendos remetidos ao exterior e uma movimentação no Congresso para barrar uma decisão da Aneel sobre a instituição de cobranças na transmissão de energia, depois de uma mudança regulatória que onerou as usinas que estão mais longe dos centros de consumo.

"No curto e médio prazo, talvez em um horizonte de três, quatro anos, eu não vejo a gente viabilizando projetos de solar e eólica", disse Mann, acrescentando que a Engie tem focado seu crescimento em outras áreas, como transmissão e baterias.

Gannoum, da Abeeólica, afirmou que o alto volume de cancelamentos reflete também uma "limpeza natural depois de um 'overshooting'".

"Você teve um 'overshooting' de projetos, é da natureza desse negócio ter sempre mais projetos do que o mercado é capaz de absorver... Mesmo se tivesse margem de escoamento na transmissão, os projetos não sairiam do papel".

Apesar do cenário ainda desfavorável, os executivos observam que alguns fatores devem ajudar na retomada do segmento, como a criação de um mercado para o armazenamento de energia no Brasil, a partir do primeiro leilão previsto para o ano que vem, e a maior demanda de energia para data centers, que já tem impulsionado novas contratações.

Reuters Reuters - Esta publicação inclusive informação e dados são de propriedade intelectual de Reuters. Fica expresamente proibido seu uso ou de seu nome sem a prévia autorização de Reuters. Todos os direitos reservados.
Compartilhar
TAGS
Publicidade

Conheça nossos produtos

Seu Terra












Publicidade