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Cabo Daciolo: De grevista a fruto de Deus vivo

Deputado federal já foi expulso do Corpo de Bombeiros, disse que queria militares no Ministério da Defesa e foi excluído de partido por apresentar projeto que pedia para acrescentar trecho religioso na Constituição

10 ago 2018 - 13h44
(atualizado às 14h12)
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RIO - Autodenominado "fruto de um Deus vivo", Benevenuto Daciolo Fonseca dos Santos - o deputado federal conhecido como Cabo Daciolo -, oscila entre atitudes rebeldes e pedidos de mais amor. Defensor de militares e evangélicos, o catarinense de Florianópolis começou sua carreira política no PSOL, passou pelo PTdoB e pelo Avante e está atualmente no Patriota. Sempre faz pronunciamentos marcados por citações religiosas e em tom que mistura messianismo e teorias conspiratórias.

O cabo-bombeiro da reserva ganhou notoriedade por sua atuação na greve dos bombeiros do Rio em 2011, durante o governo de Sergio Cabral Filho (MDB). Líder do movimento que pedia auxílio-transporte para os bombeiros militares, melhores condições de trabalho e aumento do piso salarial da corporação, Daciolo foi um dos líderes da ocupação do Quartel Central, no Centro velho do Rio.

Daciolo acabou preso disciplinarmente e, junto com outros 13 bombeiros, foi expulso da corporação. O Conselho de Disciplina dos Bombeiros do Rio o considerou culpado de incitamento e aliciamento para motim, articulação, "de caráter político-partidário" e por levar a tropa "à prática de ilícitos de natureza disciplinar e penal militar", além da adoção de conduta incompatível com a missão de bombeiro-militar.

Daciolo e seus colegas foram anistiados pelo Estado e pelo governo federal, mas sua liderança carismática chamou atenção do PSOL, que se aproximara da categoria durante o movimento. Em 2014, o partido o convidou a integrar a legenda e concorrer à Câmara. Acabou eleito a deputado federal com 49.831 votos. A votação expressiva veio mesmo depois que Daciolo foi excluído da propaganda da TV pelo PSOL. A legenda avaliou que, por ter pouco tempo, deveria priorizar candidatos com mais potencial de votação.

Daciolo teve muitos votos entre PMs de baixa patente, por sua defesa da PEC 300. A proposta vincula vencimentos de bombeiros e policiais militares de todos os Estados aos da Polícia Militar do Distrito Federal, os mais altos do País.

O romance do cabo com o esquerdista PSOL durou menos de um ano, porque sua atuação na Câmara surpreendeu o partido. Daciolo repetia da tribuna parlamentar que seu mandato "era de Deus" e apresentou Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para que o texto constitucional afirmasse que "todo poder emana de Deus". O texto diz que "todo poder emana do povo". Também anunciou que queria os militares de volta à chefia do Ministério da Defesa, de preferência um oficial-general.

O cabo também irritou o partido quando acusou de ilegal a prisão preventiva dos PMs acusados da tortura, assassinato e desaparecimento do auxiliar de pedreiro Amarildo de Souza, em 2013. Daciolo afirmou que os réus eram inocentes e reivindicou que seu companheiro de partido, o deputado estadual Marcelo Freixo, conhecido por sua atuação na defesa dos direitos humanos, visitasse os presos. Acabou expulso do PSOL, acusado de descumprir as orientações da liderança do partido

No mês passado, Daciolo "profetizou" a "cura" de sua colega, a deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP), tetraplégica após um acidente de carro em 1994. Em uma sessão no plenário da Câmara dos Deputados, advertiu os colegas que o que ia dizer seria visto como loucura por alguns - mas a deputada, afirmou, ia "levantar da cadeira e começar a andar".

"Há dois anos Deus me cobra para falar algo para essa deputada. Quero diante de todos profetizar a cura da deputada Mara. Eu creio que aquela mulher vai levantar da cadeira e começar a andar. Eu peço ao Deus das causas impossíveis que Ele possa estender a mão Dele e possa tocar na sua serva", afirmou, apontando para a deputada, com a Bíblia nas mãos. "Eu saio daqui e vou me direcionar a ela. Vou a um lugar em particular. Creio que em alguns minutos ela voltará a andar", disse.

As menções a Cabo Daciolo superaram aos principais candidatos no Twitter no debate presidencial desta quinta-feira, 10. Ele ficou em segundo lugar entre os temas mais comentados da rede social, abaixo apenas da hashtag geral do debate da Band.

Estadão
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