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Após ato de Ciro Gomes, moradores recebem cestas básicas em Guaianases; veja vídeo

Doação começou depois do término da passeata com o presidenciável; campanha do candidato nega relação com distribuição de alimentos

16 ago 2022 - 19h12
(atualizado às 19h56)
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Ciro Gomes (PDT) durante ato realizado em Guianases, na periferia de São Paulo nesta terça-feira (16)
Ciro Gomes (PDT) durante ato realizado em Guianases, na periferia de São Paulo nesta terça-feira (16)
Foto: Reprodução/Instagram

Após o primeiro ato oficial de Ciro Gomes (PDT) como candidato à Presidência, moradores de Guaianases, na periferia de São Paulo, receberam 80 cestas básicas na manhã desta terça-feira, 16. A distribuição foi feita em um mercadinho do bairro, entre as ruas Teodoro Sampaio e Master Valentim, no mesmo local em que se encerrou a passeata do candidato. A entrega só começou após a imprensa e o presidenciável terem ido embora do local. O Estadão foi o único veículo que ficou na rua e acompanhou o processo.  

Uma das responsáveis por entregar as caixas foi Daiane Silva, esposa do dono do ponto comercial. Ela participou da contagem das caixas e distribuiu senhas para os moradores que iriam receber para se organizarem em fila - a prioridade era dos idosos e quem estava com crianças. "Aqui a contagem das cestas da doação do Ciro Gomes", afirma a esposa do dono do mercado, Daiane Silva, em vídeo.

Por ligação, durante a tarde, Daiane disse que "inventou" essa informação, porque achava que iria aparecer na TV. Ela disse que, na verdade, as cestas foram compradas pelo marido, Bernardo Trezeno da Silva, que é líder comunitário há 10 anos e ajuda o bairro. A entrega, ainda de acordo com Daiane, seria na semana passada, mas foi adiada por conta de um campeonato de futebol. Ela disse que não sabia o motivo da coincidência das datas, nem que Ciro iria ao bairro ou que haveria a distribuição das cestas nesta terça.

A maior parte das caixas estava em um depósito no final da rua. Por volta das 10h da manhã, dois carros vieram com mais produtos, o que causou alegria dentre os que aguardavam a vez. "Peguei a cesta, graças a Deus meus colegas tudo 'pegou' a cesta. Estamos todos felizes. Obrigada", agradece outra moradora.

Antes de Ciro chegar na região, algumas pessoas da comunidade já estavam por lá por terem sido informadas sobre a entrega dos mantimentos. Quando abordados, muitos moradores acharam, inclusive, que a reportagem fazia parte da organização para o recebimento da doação. "É para fazer o cadastro?", pergunta uma moradora. "Disseram que iam dar uma cestinha para o pessoal aí", conta Lindineia dos Santos, 47 anos.

Candidato à Presidência pelo PDT, Ciro Gomes fez campanha em Guaianases Foto: KEINY ANDRADE/ESTADÃO

Desempregada e recém-operada de uma hérnia no umbigo, ela chegou cedo no ato, fez o percurso todo e ficou na fila para garantir o kit dela. Uma vizinha, da rua Maquipo, fez o mesmo. "Acompanhei ele desde o início da rua. Preciso (da cesta) porque não trabalho, não ganho quase nada de salário e tem muita conta para pagar", diz Laise Aparecida Ferreira da Silva, 67, que mora há 50 anos no bairro.

Ato é contra a lei eleitoral

A advogada Gabriela Rollemberg, da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (ABRADEP), explica que, de acordo com a Lei das Eleições (nº 9.504), é proibido entregar cestas básicas durante o período eleitoral. "Qualquer tipo de benefício ou de entrega ou até promessa de benefício em troca de voto é absolutamente vetada durante a campanha", esclarece.

Ela pontua que é preciso averiguar se o candidato foi conivente com a situação e ouvir testemunhas para coletar provas. Mas, o simples fato de ter alguém com vínculo à campanha do candidato na entrega, pode prejudicá-lo. "A consequência vai depender da prova, mas é possível ter a cassação do mandato", completa.

O que diz a campanha de Ciro Gomes

A campanha de Ciro Gomes negou o ocorrido. "Desconhecemos esse fato. Qualquer ação deste tipo não tem relação com a campanha de Ciro Gomes", afirmou a assessoria do candidato, por meio de nota. Eles insinuaram ser uma armação contra o pedetista. "Vamos pedir investigação profunda, e representar para a Polícia Federal, para saber se teve alguma coisa plantada para prejudicar a campanha. Ressaltamos que quem quer que esteja por trás disso, deve responder e ser punido", completa.

Agregador de pesquisas

    A assessoria ainda disse que os adesivos usados na roupa de quem recebeu e entregou as cestas básicas não eram de Ciro, e sim do candidato a deputado Antônio Neto. Ambos usavam o adesivo no ato. A campanha de Antônio Neto também negou qualquer envolvimento. "Não é e nunca foi nossa prática. Sabemos que isso ocorre nas comunidades, organizado por ONGs. Mas isso não tem ligação nenhuma com a campanha de Ciro Gomes e de Antônio Neto", informa a campanha de Neto.

    O advogado Walber Agra, coordenador de campanha do PDT, afirma que vai enviar uma representação à Justiça ainda nesta terça. "Vamos pedir a investigação e acionar a PF, para que isso seja esclarecido. Isso se trata de armação contra a campanha de Ciro, queremos que a PF investigue e veja quem realmente está por trás disso", argumenta Agra.

    Por telefone, o dono do mercado, Bernardo Trezeno da Silva, também negou a acusação. Trezeno disse que as cestas básicas foram doadas por ele, por uma Organização Não Governamental (ONG) e comerciantes da região. A mulher e os moradores "se enganaram" ao vincular a entrega a Ciro. "Mulher não sabe de nada. Como eu poderia contar que estava doando cesta básica para ajudar o povo se estou cheio de dívida?", justifica.

    Ele ainda disse que a distribuição das cestas estava combinada há um mês e, coincidentemente, caiu no mesmo dia do início da campanha e minutos após o ato de Ciro Gomes no bairro, na mesma rua onde se encerrou a passeata. "Já estava tudo marcado e eu não sabia que eles vinham. Só ontem que Ciro avisou e não podia cancelar tudo", justifica. Bernardo esperou a imprensa sair por medo de filmarem o acontecimento.

    Adriano Taciano Santos, presidente da Associação Anjos da Luz, que teria dado parte das cestas, afirmou que não trabalha na campanha de político algum. "Todo mês vem doação pra mim e distribuo na comunidade e regiões vizinhas", afirma.

    Estadão
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