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'Sala ficou cheia. Tive crise de ansiedade', diz candidata

Mesmo com abstenção recorde, algumas classes ficaram lotadas e não foi feito remanejamento, segundo os estudantes

19 jan 2021 - 09h01
(atualizado às 09h15)
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Enquanto estudantes foram barrados em alguns locais de prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), houve classes cheias em outros. Segundo relatos de candidatos que fizeram o exame em São Paulo, não foi possível cumprir o distanciamento mínimo recomendado para evitar contaminação pelo coronavírus.

Movimentação de candidatos na Universidade Unip, na Barra Funda, zona oeste da capital paulista, um dos locais de realização das provas do Exame Nacional do Ensino Médio 2020 (ENEM), adiado para esse ano, neste domingo, 17 de janeiro de 2021. A prova está sendo aplicada para 5,7 milhões de alunos em todo o País, em meio à segunda onda da covid-19.
Movimentação de candidatos na Universidade Unip, na Barra Funda, zona oeste da capital paulista, um dos locais de realização das provas do Exame Nacional do Ensino Médio 2020 (ENEM), adiado para esse ano, neste domingo, 17 de janeiro de 2021. A prova está sendo aplicada para 5,7 milhões de alunos em todo o País, em meio à segunda onda da covid-19.
Foto: ROBERTO COSTA/CÓDIGO19 / Estadão Conteúdo

Aplicadores do Enem só foram avisados em cima da hora da prova sobre a necessidade de garantir ocupação máxima de 50% das salas, apesar de o número de inscritos em cada classe ser superior a essa ocupação. Pelo País, os protocolos adotados para as salas de aplicação do exame foram diferentes.

Em locais de prova de pelo menos três Estados, não houve a realocação e os estudantes foram impedidos de fazer o exame porque as salas já haviam atingido o limite da ocupação para garantir o distanciamento. Em São Paulo, estudantes de um mesmo local de prova relataram que salas ficaram cheias, sem respeitar o distanciamento para conter a disseminação do coronavírus, enquanto outras ficaram vazias.

Realizado em meio à segunda onda da pandemia, o Enem teve abstenção recorde - mais da metade dos inscritos não fez a prova neste domingo. A taxa de ausências, no entanto, não foi uniforme pelo País, criando situações de classes lotadas e outras vazias.

Como o Estadão revelou, os planos de salas pelo Enem previam ocupação de até 80%, enquanto o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep) havia prometido aos inscritos e apresentado à Justiça previsão de capacidade de 50%. O instituto contou com a abstenção dos alunos para garantir ocupação de 50%.

Letícia Abreu, de 26 anos, fez a prova do Enem na Universidade Municipal de São Caetano do Sul, na Grande São Paulo. Segundo conta, estavam presentes na sala 46 alunos e ela calculou, por meio das chamadas para entregar os cadernos de questões, 22 ausentes. "Ficamos colados um no outro como se fosse em qualquer outro ano de Enem."

Quando entrou na sala de prova às 12h23, diz, havia só sete estudantes. "De repente a sala ficou cheia e mais gente continuou chegando. Comecei a ter uma crise de ansiedade, a transpirar demais. Fiquei muito agitada e com taquicardia", conta a estudante, que faz quarentena mais rígida antes dos vestibulares por medo de contaminação.

"Eu só pensava que se ali alguém estivesse infectado a chance de pegar seria muito grande. Só queria chorar." Além do medo de complicações pela covid-19, Letícia tem receio de que uma eventual contaminação a retire de outros vestibulares que ainda vão ocorrer este mês, como a prova da Universidade Estadual Paulista (Unesp). No próximo domingo, ela pretende procurar a coordenação local para pedir uma solução.

Estudantes que prestaram o Enem na Unip da Avenida Paulista encontraram classes vazias enquanto outros do mesmo local de prova fizeram o exame em espaços cheios, segundo relatam. Beatriz Emiko, de 20 anos, fez a prova em uma classe com 24 estudantes - estavam previstos 38 alunos. Ela conta que, perto da hora do fechamento dos portões, mais alunos chegaram e os aplicadores tiveram de adicionar quatro carteiras.

"Minha sala estava com cadeiras alternadas, mas ainda com uns 70 centímetros de distância só. Uma coisa que reparei é que se não fosse a abstenção, a sala estaria praticamente lotada e, logo que entrei e percebi isso, pedi para sentar ao lado da janela que estava aberta."

No mesmo local de prova, a estudante Lívia Adelino, de 18 anos, relatou situação parecida. Ela conta que 36 alunos estavam presentes e 17 ausentes - o aplicador da prova escreveu esses dados na lousa. "Eles (aplicadores) mantiveram o distanciamento sempre que possível, fizeram 'um sim um não' na hora de organizar os alunos nas carteiras, mas teve uma hora que não deu e começaram a colocar um atrás do outro." Em outra sala da mesma escola, havia apenas 17 alunos e o distanciamento de 2 metros foi possível, segundo uma aluna.

O Estadão ouviu oito candidatos na saída da prova na Escola Estadual Caetano de Campos, no centro de São Paulo. Sete relataram salas vazias e distanciamento de metros, mas uma estudante disse que a classe em que fez a prova encheu.

"Foram chegando mais alunos até que a sala encheu e tiveram de colocar mais carteiras. Tinha gente do meu lado, à frente e atrás. Faltaram ainda 8 pessoas. Foi um absurdo", disse Ellen Rezende, de 19 anos. Trinta e três estudantes estavam inscritos para o exame na classe de Ellen. Segundo conta, 25 compareceram e havia ainda mais dois aplicadores. "Eu queria sair o mais rápido possível, não estava aguentando ficar na sala com muita gente."

Em Porto Alegre, dos 42 inscritos para uma classe em uma faculdade particular, 33 compareceram e os aplicadores direcionaram nove deles para outras salas porque receberam no dia da prova a orientação de só usar 50% da capacidade da sala. Segundo contou ao Estadão um dos aplicadores, a estratégia funcionou porque as outras salas não encheram. "Se todas as salas tivessem sua capacidade de 50% atingida, o aluno não ia prestar o exame e teria de pedir ao Inep para refazer a prova."

Foi o que ocorreu em Santa Cruz do Sul, no interior do Rio Grande do Sul. Cerca de 30 estudantes acabaram impedidos de fazer o exame neste domingo e registraram o caso em um boletim de ocorrência. Os alunos só foram avisados quando já estavam na escola e depois de tentar entrar na classe.

Anna Carolina Lau, de 19 anos, conta que procurou a sala de prova às 12h30, meia hora antes do fechamento dos portões, mas foi avisada de que já não poderia mais entrar porque a sala atingiu o limite de ocupação. "(Os aplicadores) falaram que até ontem (sábado) à noite estavam contando que seria 80% de ocupação e receberam ontem (sábado) à noite do Inep que seria 50%, por isso não conseguimos entrar", conta. "Entrei em pânico, comecei a chorar."

Neste domingo, em coletiva de imprensa, o presidente do Inep, Alexandre Lopes, destacou que não houve registro de problemas sanitários em nenhum local de aplicação e que estudantes foram impedidos de fazer a prova em 11 locais. Para esses, o Inep vai analisar as atas das salas e garantir a reaplicação nos dias 23 e 24 de fevereiro.

Indagado sobre as classes sem distanciamento, o Inep respondeu que "o participante afetado por problemas logísticos durante a aplicação poderá solicitar a reaplicação do exame". O órgão destacou o que são considerados problemas logísticos para fins de reaplicação. A lista inclui desastres naturais, falta de energia elétrica, falha no dispositivo eletrônico fornecido ao participante que solicitou uso de leitor de tela ou erro de execução de procedimento de aplicação pelo aplicador que incorra em comprovado prejuízo ao participante.

Estadão
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