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O que são os cursos Steam, que crescem com as revoluções digital e tecnológica

Estudo feito pela CNI sugere que o Brasil adote uma agenda pública de formação na área, a exemplo de Alemanha e EUA

25 ago 2022 - 05h10
(atualizado às 22h29)
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Bacharelado específico da Universidade Federal do ABC (UFABC) permite ao estudante concluir a graduação com múltiplas formações
Bacharelado específico da Universidade Federal do ABC (UFABC) permite ao estudante concluir a graduação com múltiplas formações
Foto: ALINE VERIDIANO/UFABC

As revoluções digital e tecnológica fizeram com que os cursos "Steam" (do inglês Science, Technology, Engineering, Arts, Mathematics) ganhassem ainda mais holofotes. Especialistas acreditam que a união desses conhecimentos melhora o nível de formação acadêmica dos profissionais, que, por sua vez, passam a estar mais preparados para contribuir com a sociedade.

Um estudo sobre "Educação Steam" produzido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), em 2021, sugere que o Brasil adote uma agenda pública de educação da formação "Steam" desde o ensino médio, como parte estratégica de desenvolvimento econômico e social, assim como fizeram países como Alemanha, Austrália e Estados Unidos.

No Brasil, as instituições de ensino superior sentem o aumento na procura por esses cursos. Na Universidade Federal do ABC (UFABC), que oferece o Bacharelado em Ciência e Tecnologia, com a possibilidade de o estudante concluir a graduação com múltiplas formações, o coordenador Luciano Cruz afirma que fenômenos contemporâneos como revolução digital, revolução quântica e metaverso têm ajudado a atrair jovens para o campo das ciências.

"As máquinas estão cada vez mais inteligentes, a ponto de saberem o que a gente gosta. O mercado de programação e o metaverso, que se unem com o campo das startups, tudo isso é uma tendência muito forte no mundo todo. São indústrias de milhões", explica Cruz.

2ª Revolução Quântica

Outra novidade da área é a que os cientistas estão chamando de "segunda revolução quântica", em que são desenvolvidas novas tecnologias quânticas com aplicações da Ciência da Computação. "Esse campo exige outro profissional, um engenheiro que atua na quântica, que já chamamos de 'engenheiro quântico' porque tem formação de Engenharia, mas entende de processos e dispositivos", diz Cruz.

Ele explica que as tecnologias quânticas podem ser usadas na Medicina, por exemplo no desenvolvimento de novas ferramentas que medem pequenos pulsos elétricos no cérebro. "Os alunos se interessam muito pelo desenvolvimento de novas tecnologias. O mercado tem requisitado esses profissionais, há bancos que mantêm divisão de pesquisa de algoritmo e inteligência artificial, e empresas do mercado financeiro que necessitam de soluções de software. Há, ainda, um campo de trabalho para quem deseja sair do País", reforça o docente.

Uma área de trabalho tão abrangente e promissora exige um profissional que esteja constantemente em formação, observa o coordenador. "Antigamente, um engenheiro saía da universidade formado para uma função, era contratado e pronto. Hoje o campo do Steam é enorme, com áreas como computação e tecnologia, profissões ligadas à comunicação, à internet. É preciso estudar a vida toda."

O projeto pedagógico da UFABC permite que o estudante ingresse no bacharelado e inicie os estudos sem ter de definir especificamente a graduação. No primeiro ano, cursa disciplinas básicas, que incluem Filosofia e formação em ética, mesmo para os cursos de Exatas. E, a partir do segundo ano, define as disciplinas do curso de interesse. "É um projeto que permite que o aluno não tenha certeza da carreira. A formação é mais fluida, pode ir se direcionando sem ter de mudar de curso. No fim, ele pode escolher o bacharelado em Ciência e Tecnologia, ou Física, Química, Neurociência ou uma das engenharias. O estudante pode se formar em até três cursos diferentes."

Essa flexibilidade atraiu Eduardo da Costa Lima, de 22 anos, que ingressou no bacharelado de Ciência e Tecnologia da UFABC interessado em Engenharia, por gostar de tecnologia e robótica, mas por fim se interessou por Física e se apaixonou por Ciências. "Acabei me formando no bacharelado de Ciência e Tecnologia, e de Física. Agora já ingressei no mestrado em Física, pesquiso ótica quântica, que é uma área em crescimento, que agrega computação e informação quântica. Gosto de gerar conhecimento e passar, por isso quero ser professor acadêmico."

TI e Engenharia

Ainda quando se fala de tendências, Ricardo Terra, diretor regional do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), salienta que a Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) criou um mercado latente.

Uma pesquisa feita pelo Senai com base nos dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), de 2006 até 2020, aponta que o salário médio dos profissionais de TI evoluiu a um ritmo mais acelerado do que aquele observado no mercado de trabalho dos trabalhadores com ensino superior completo (expansão 1,15 vezes maior) ou com ensino médio completo (1,11 vezes maior). De acordo com o levantamento, a remuneração mensal desses profissionais cresceu 123,76% entre 2006 e 2020.

Outra área que não perde importância e exige cada vez mais profissionais é a Engenharia. Para Terra, a carreira é fundamental para o restabelecimento das indústrias de um país. "O mundo vive um processo de reindustrialização que se dará pela Engenharia. O mundo virou uma bolinha de gude, porque a indústria daqui compete com a do outro lado do planeta. Nesse jogo, o capital humano é um dos elementos que define a competitividade", salienta Terra.

Tecnólogos

Dentro do universo Steam, também despontam os cursos de tecnólogos, de menor duração e mais voltados à preparação para o mercado.

Ricardo Terra conta que a Faculdade Senai oferece cursos calcados em dois grandes eixos: teórico, de duração mais permanente; e outro que envolve tecnologia aplicada, cujo ciclos têm sido cada vez mais curtos. "A pessoa se forma, mas o que aprende sobre tecnologia aplicada logo se perde porque surgem novidades.

Por isso, é fundamental manter a educação ao longo da vida, focando nesses gaps (intervalos) de competência e investindo em microcertificações", afirma. No vestibular do ano passado, os cursos mais concorridos da Faculdade Senai foram os de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas; Tecnologia em Mecatrônica Industrial; e Tecnologia em Automação Industrial.

Para quem tem pressa

Eduardo Adrião, CEO da Proz Educação, uma escola que oferece cursos técnicos e profissionalizantes, diz que a educação profissional é uma boa alternativa para quem tem pressa de ingressar no mundo do trabalho. "Com o crescimento do setor de tecnologia e urgência dos empregadores pela busca de profissionais, esta formação é um 'plano A' para quem quer alcançar um emprego de qualidade", observa o especialista.

"Especificamente na área de tecnologia, lançando mão de cursos livres, conseguimos focar em tecnologias emergentes e mais procuradas pelos empregadores, com rápida atualização de conteúdo - cenário diferente dos cursos regulados tradicionais. Muitos optam em dar sequência na formação cursando o ensino superior já empregados na área."

Estadão
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