Jovens estão atrasando a faculdade porque gastam o dinheiro em bets: 'Obstáculo adicional'
Pesquisa mostra ainda que 1/3 dos entrevistados adia a entrada no curso por causa de despesa com apostas
Gastos com apostas online têm levado jovens brasileiros a adiar ou abandonar a faculdade, afetando especialmente estudantes de classes mais baixas e aumentando o risco de não ingressarem na educação superior privada.
Os gastos dos jovens com apostas online têm afetado o ingresso e a permanência na faculdade. As despesas com as bets foram o motivo para que 14% dos alunos matriculados em instituições particulares já tenham atrasado as mensalidades ou trancado o curso.
Entre os entrevistados, um em cada três (34%) afirma que precisaria ter interrompido as apostas para iniciar os estudos no primeiro semestre de 2025.
Os dados são da pesquisa O impacto das bets na educação superior, realizada pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes), entidade que representa as faculdades particulares, e pela Educa Insights. No total, houve 2.317 respostas em março de 2025 de jovens de 18 a 35 anos de todas as classes sociais e regiões do Brasil.
Os valores desembolsados variam conforme a classe social: enquanto os apostadores da classe A destinam, em média, R$ 1.210 mensais às apostas, nas classes D e E o valor médio é de R$ 421.
A maioria relata comprometer até 5% da renda mensal. Mas cresceu a quantidade de pessoas, especialmente entre as mais pobres, que ultrapassam a marca de 10% do orçamento com as apostas.
Ao responderem a pergunta se já haviam apostado online alguma vez, a maioria (87%) dos jovens entrevistados da classe A respondeu que sim. O percentual daqueles que nunca apostaram é de apenas 13%.
Já nas classes D e E, a divisão fica mais proporcional: 57% já apostaram em alguma plataforma online, nem que seja uma vez na vida, e 43% nunca apostou.
Em um recorte regional, a pesquisa constatou que Nordeste e Sudeste são as regiões com a maior proporção de brasileiros que associam o adiamento da graduação à prática de apostas online.
- Em relação ao primeiro semestre de 2025, os percentuais são 44% no Nordeste e 41% no Sudeste.
No sentido oposto, as regiões Sul e Centro-Oeste têm as populações que menos fazem essa relação.
- 17% no Sul e 18% no Centro-Oeste dizem que precisariam ter interrompido as apostas para estudar no primeiro semestre deste ano.
Para o primeiro semestre de 2026, a projeção indica que dos quase 2,9 milhões de potenciais ingressantes na educação superior privada, 34% (986 mil pessoas) estão sob risco de não efetivar a matrícula por conta do comprometimento financeiro com bets.
O perfil dos apostadores é de maioria formado por homens de 26 a 35 anos, trabalhadores, com filhos, pertencentes às classes C e D e que cursaram o ensino médio em escolas públicas.
Ainda conforme a pesquisa, mais da metade (52%) dos entrevistados apostam regularmente, sendo a frequência predominante de uma a três vezes por semana. A proporção cresceu desde a última edição da pesquisa, feita em setembro de 2024, quando 42,9% dos jovens apostavam com frequência.
"O estudo mostra que as apostas online se tornaram um obstáculo adicional para o acesso à educação superior no Brasil", afirma Paulo Chanan, diretor geral da ABMES.
"Precisamos olhar com seriedade para esse cenário e desenvolver políticas públicas que conscientizem os jovens sobre as responsabilidades envolvidas com a prática de apostar", acrescenta.
Segundo ele, o fenômeno é relativamente novo no Brasil e ainda "carece de amadurecimento e maior compreensão das responsabilidades envolvidas tanto por parte do poder público quanto dos apostadores".