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Fuvest vai alterar lista de classificação de aprovados para USP; veja como isso afeta cotistas

Vestibular passa a ter verificação por foto de candidatos pela ação afirmativa; rigor da prova continua o mesmo, afirma organização

21 set 2022 - 15h06
(atualizado em 5/10/2022 às 18h29)
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Fuvest vai alterar lista de classificação de aprovados para USP; veja como isso afeta cotistas
Fuvest vai alterar lista de classificação de aprovados para USP; veja como isso afeta cotistas
Foto: Giulia Gianolla/Guia do Estudante / Guia do Estudante

A partir deste ano, a Fuvest vai mudar o formato da lista de classificados no vestibular. Todos os candidatos vão concorrer, primeiramente, às vagas de ampla concorrência - mesmo os que se enquadram nas políticas afirmativas e tenham estudado em escolas públicas ou se autodeclaram pretos, pardos e indígenas (PPI). A Fuvest é o exame que seleciona alunos para a Universidade de São Paulo (USP).

Após a ampla concorrência, serão preenchidas as vagas para a escola pública e, em seguida, as destinadas à política de ação afirmativa para pretos, pardos e indígenas. Dessa forma, os estudantes enquadrados nas cotas que tiverem melhor desempenho já serão automaticamente convocados na primeira lista. "Teremos ainda mais alunos que estudaram em escolas públicas. É um formato mais inclusivo", diz Gustavo Monaco, diretor executivo da Fuvest.  

Em 2022, a USP registrou o índice de 50,2% de alunos egressos de escolas públicas matriculados na graduação. Dentre eles, 36% de autodeclarados pretos, pardos e indígenas. Em números absolutos significa que das 10.901 vagas preenchidas este ano, o que representa 97,8% do total, 5.468 são alunos de escolas públicas - e, desses, 1.969 são para o grupo PPI.

Vestibular terá sistema de identificação por foto

Outra novidade para este ano é a comissão de heteroidentificação que vai atuar no processo de matrícula e avaliar os candidatos classificados que se autodeclararam pretos, pardos ou indígenas. A verificação será feita por meio de fotografia enviada pelo candidato no momento da inscrição e pelas imagens capturadas pelo programa de reconhecimento facial - todo candidato é fotografado em cada dia de prova, com a intenção de comparar com a foto apresentada com a inscrição

"Vai dar mais tranquilidade ao candidato. Hoje, ele se matricula e depois pode haver denúncia de que não pertencia ao grupo da vaga reservada. A faculdade abre sindicância e a pessoa carrega uma espada sobre a cabeça. Agora, a apuração vai ser feita no processo de matrícula. A comissão olha as fotos e, se tiver dúvida, convoca o candidato para uma entrevista", detalha Monaco. As mudanças são válidas somente para as 8.230 vagas oferecidas pelo vestibular da Fuvest. Ainda há 2.917 vagas ofertadas via Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que não sofrem alterações. O Sisu é a plataforma onde os candidatos concorrem às vagas com a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Flavia Rios, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisadora do Afro Cebrap, núcleo de pesquisa sobre a temática racial, diz que as comissões de heteroidentificação já são adotadas pelas universidades, mas ganharam mais visibilidade na última década. "As instituições foram provocadas a introduzir no modelo do desenho de política alguma forma de controle das ações afirmativas", diz.

"Não acredito que seja puramente justa, não é exatamente uma solução", afirma a pesquisadora. "Mas está sendo empregada no País para tentar minimizar injustiças. Se não há uma forma de verificação, a política fica passível de fraude."

Ela lembra que por muitos anos vigorou nas instituições de ensino o modelo de autodeclaração, que normalmente já se bastava. Mas com o grande volume de denúncias de fraude, as universidades começaram a "ficar descredibilizadas". "Em 2015 e 2016, estudantes que se autodeclaravam pretos ou pardos faziam propaganda de como burlar a política, o que criou muitas ações no Ministério Público, que recomendou que as universidades tivessem alguma forma de controle sobre essas declarações. Daí se difundem as comissões para evitar esse tipo de problema, mas surgem com elas os dilemas éticos."

A professora explica que tanto a autodeclaração como a heteroidentificação (identificação a ser realizada pelo outro) podem ser subjetivas porque fazem parte de uma construção cultural. A autodeclaração é a percepção de uma pessoa sobre ela mesma, já a heteroidentificação é coletiva, plural.

"Acontece que a autoidentificação envolve ascendência e participação em comunidade, já para a heteroidentificação se avalia somente o fenótipo (características externas). Ao tentar impedir a burla, pode-se fazer uma injustiça. Ainda não encontramos um modelo puramente justo que não fosse necessária a confrontação e não fosse passível de fraudes", afirma Flavia.

Fuvest vai mudar por causa do novo ensino médio?

Temida pelos vestibulandos, a prova da Fuvest tem seu grau de dificuldade compatível à qualidade que a universidade oferece, na visão do diretor Monaco. Em 2022, foi o 6º ano consecutivo que a universidade apareceu em 2º lugar entre as melhores instituições de ensino superior da América Latina no levantamento da Times Higher Education, um dos principais indicadores de qualidade do mundo.

Fica atrás apenas da Pontifícia Universidade Católica do Chile (PUC-Chile). "Se a USP aparece em todos os rankings internacionais como a universidade melhor posicionada do Brasil, mais gente quer estudar na USP do que em outras instituições. Para selecionar bem os candidatos, é preciso ter um grau de dificuldade compatível."

O diretor da USP acredita que a implementação do novo modelo do ensino médio possa influenciar no vestibular da Fuvest. Todavia, Monaco adianta que toda mudança é feita de forma "paulatina." "Ano que vem se forma a primeira turma nesse novo modelo, mas tem muito estudante que está no modelo antigo ainda. Por isso nossas mudanças são muito bem pensadas e estudadas."

O diretor reforça que o vestibular é exigente e demanda que o candidato demonstre espírito crítico, mas não possui perguntas de duplo sentido ou "pegadinhas".

Inscrição da Fuvest 2023: que dia termina o prazo?

As inscrições para o vestibular da Fuvest 2023 podem ser feitas até esta sexta-feira, 23, e quem já se inscreveu pode alterar as informações até este prazo. A taxa é de R$ 191. A primeira fase do vestibular 2023 vai ser aplicada no dia 4 de dezembro. O exame reúne 90 questões de múltipla escolha, sendo algumas interdisciplinares. A segunda etapa ocorre nos dias 8 e 9 de janeiro de 2023.

As provas de habilidades específicas para os candidatos aos cursos de Artes Cênicas, Artes Visuais e Música estão marcadas entre os dias 11 e 14 de janeiro. O resultado da primeira chamada será divulgado no dia 30 de janeiro. A segunda chamada sai no dia 10 de fevereiro, e a terceira, em 17 de fevereiro.

Para se matricular, o candidato precisa apresentar, entre outros documentos, o comprovante do esquema vacinal completo com doses de reforço da covid-19.

Estadão
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