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Em todas as áreas, carreiras do futuro exigem domínio digital

De saúde a serviços legais e financeiros, profissões vão se distanciar das formas tradicionais de trabalho

14 nov 2019 - 10h52
(atualizado às 14h37)
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SÃO PAULO - Para atrair novos estudantes, as instituições de ensino costumam ressaltar os títulos acadêmicos de seus professores, o programa de disciplinas, a infraestrutura de ponta disponível para os alunos e a localização privilegiada de suas instalações. Com as mudanças aceleradas no mercado de trabalho, um outro atributo começou a constar da lista de diferenciais das instituições: oferecer cursos que valham como passaporte para as profissões do futuro.

Uma das principais referências no mapeamento das tendências desse mercado é o índice Trabalhos do Futuro, desenvolvido pela multinacional de tecnologia e negócios Cognizant. Atualizado trimestralmente, o estudo descreve oito grandes áreas como "fortemente promissoras": algoritmos, automação e inteligência artificial; experiência do consumidor; meio ambiente; atividade física e bem-estar; saúde; serviços legais e financeiros; transportes; e cultura do trabalho.

"São áreas que estão inter-relacionadas, são puxadas umas pelas outras e todas são marcadas pelas habilidades digitais", explica Eduardo Guerreiro, diretor de Digital Business na Cognizant. "Além de terem relação com tecnologias, essas profissões dizem respeito à mudança das formas tradicionais de trabalho, de se buscar novas formas de produzir resultados, o que definimos como um comportamento digital", explica Guerreiro.

Renovação

A médica Larissa Cayres, o engenheiro Allan Kardec de Souza e a professora de Educação Física Jô Pereira são exemplos de profissionais que decidiram atualizar a formação original (de nomenclatura clássica e conhecida) e expandiram o campo de atuação exatamente para onde sopram os ventos.

As três histórias descritas nesta reportagem ilustram a amplitude e a diversidade das carreiras do futuro. O caminho escolhido por Larissa (focado na análise de informações individuais de saúde), a trajetória de Jô (ao pensar em fatores que transformam as cidades) e a escolha de Souza (que vislumbra a sobrevivência do planeta) mostram que ainda há muito por vir. E o que estudar.

Mobilidade e transformação social

É certo e líquido: em pelo menos uma das conversas diárias, os brasileiros que vivem em grandes cidades vão reclamar sobre o trânsito, contar sobre a demora ou a rapidez com que uma encomenda é recebida e comentar sobre os percalços em ruas e calçadas. Dessa forma, é impossível estar alheio a temas ligados à mobilidade urbana.

Grande parte das tendências da área se debruça sobre a promoção de formas sustentáveis de deslocamento. Nesse contexto, destaca-se o incentivo ao uso da bicicleta como meio de transporte. Em São Paulo, quem investe em iniciativas que colocam bikes nas ruas tem obtido resultados invejáveis. A Tembici, empresa responsável por um dos sistemas de empréstimo de bicicletas da capital paulista, comemora o aumento de 717% de empréstimos no período entre janeiro e agosto de 2019.

O ambiente favorável é refletido em pesquisas: de acordo com um recente levantamento do Ibope a pedido da Rede Nossa São Paulo: 82% dos paulistanos desejam mais ciclovias na cidade.

Jô Pereira pode afirmar que pedalar é algo que fez parte de sua história. Desde a adolescência, a professora de educação física circulava de bike tanto na vizinhança da Vila Santa Catarina, bairro em que cresceu, na zona sul da capital, como por outras bandas da cidade, abrangendo distâncias que podiam chegar a 40 quilômetros em uma única viagem.

Mas não era algo fácil. "Decidi usar a bicicleta como meio de transporte por ser algo prazeroso e barato. Eu poderia ir e vir na hora que quisesse. Porém, junto com essa autonomia, vieram todos os nãos que uma menina sofre por escolher ser livre em um território em que a liberdade custa caro. Os nãos para usar a bicicleta eram muito maiores do que o incentivo de ir além", afirma.

Teoria e prática

Jô seguiu em frente e hoje integra os projetos Pedal na Quebrada, voltado a cultura e educação sobre a bicicleta para crianças, jovens e mulheres das periferias de São Paulo e Mapa Pedal Afetivo, instalação lúdica que, por meio de mapeamentos da cidade, identifica aspectos afetivos da mobilidade por bicicleta. Desde o ano passado, Jô também é diretora geral da Ciclocidade, associação dos ciclistas urbanos de São Paulo, com enfoque no cicloativismo e incidência em políticas públicas.

Para dar respaldo teórico à experiência, Jô se inscreveu na plataforma de educação a distância MobiliCampus, desenvolvida pelo Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP, sigla em inglês para Institute for Transportation and Development Policy). A iniciativa oferece quatro cursos: desenvolvimento urbano, mobilidade a pé, mobilidade por bicicleta e transporte público.

Criada em 2019, a MobiliCampus tinha como público-alvo gestores e técnicos públicos. Mas atraiu mais gente. Foram cerca de 3 mil candidatos: 24,3% do poder público, 32,5% da academia (estudantes e professores de graduação e pós-graduação), 17,3% de organizações da sociedade civil, 14,2% da iniciativa privada e 11,7% de outros setores, como organizações internacionais e mídia.

As aulas fizeram com que Jô tivesse novas ideias. "Pretendo atuar com advocacy. Desenvolver um podcast para influenciar políticas públicas, sempre ressaltando as militâncias que atuo: território, gênero, etnia e diversidade", afirma.

Ipog deve abrir mais duas turmas de pós sobre eficiência energética, diz Nascimento, coordenador do curso
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Foto: Ipog/Divulgação / Estadão

Popularização de energias renováveis

Lixeiras para itens recicláveis já se tornaram comuns em residências. Trocar sacolas plásticas por outras mais duráveis deixou de ser costume exclusivo de ativistas. Em supermercados, cresce o número de gôndolas com produtos que preservam o bem-estar animal. O debate socioambiental veio para ficar, ainda que à revelia de céticos do clima.

E falar de sustentabilidade implica, necessariamente, em considerar o uso de matrizes energéticas renováveis. Os exemplos mais em evidência são as energias eólicas e solares, mas há outros menos populares como a energia maremotriz, produzida com os movimentos das marés, e a geotérmica, que aproveita o calor originado no interior do planeta.

Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que, entre 2016 e 2018, a participação da energia solar na matriz energética do Brasil pulou de 0,1% para 1,4%, com 41 mil novas usinas instaladas. Com relação à produção de energia eólica, um relatório produzido pelo Global Wind Energy Council, fórum internacional que agrega o setor, aponta que o Brasil passou do 15.º lugar no ranking mundial de capacidade instalada, em 2012, para a 8.ª posição, em 2017.

À frente

O engenheiro Allan Kardec de Souza integra esse movimento de ascensão. Em 2013, ele deixou um emprego estável em uma indústria de Manaus para criar uma empresa de desenvolvimento e instalação de projetos de energia solar pelo país, a 3A&R Smart Engenharia. "Vi que o mercado estava em expansão. Hoje, atendemos desde residências até indústrias. Esse crescimento mostra como os clientes estão mais conscientes e me sinalizou também que era hora de eu me especializar ainda mais", diz.

Neste ano, Souza decidiu se matricular no MBA Eficiência Energética e Energias Renováveis, oferecido pelo Instituto de Pós Graduação e Graduação IPOG. A pós é recente, criada em 2016 como resposta à demanda pelo uso de energia de forma eficiente e de matrizes renováveis. "Atualmente temos três turmas em andamento e previsão de abrirmos mais duas turmas ainda em 2019", diz Alan Nascimento, coordenador do curso.

Do programa constam a capacitação para gestão de sistemas energéticos eficientes e energias renováveis e o desenvolvimento de competências para redução de custos de energia elétrica. "Toda instituição, seja pública ou privada, visa a reduzir custos de energia elétrica ou criar condições para se apresentar ao mercado como organismo que utiliza de melhores práticas ambientais. Por isso, o profissional com esses conhecimentos tem uma boa perspectiva de oferta de emprego."

Campos promissores

  • Algoritmos, automação e inteligência artificial
  • Experiência do consumidor
  • Meio ambiente
  • Atividade física e bem-estar
  • Saúde
  • Serviços legais e financeiros
  • Transportes
  • Cultura do trabalho
Estadão
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