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Com 5 minutos de tolerância, vestibular UFBA não tem atrasados

13 nov 2011 - 09h38
(atualizado às 11h52)
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Maria Clara Dultra
Direto de Salvador

A Universidade Federal da Bahia (UFBA) iniciou neste domingo a aplicação das provas de Português e Ciências Naturais de seu vestibular anual, o mais concorrido e tradicional do Estado. Foram pelo menos 36.287 inscritos neste ano, para 6.436 vagas. Nos Pavilhões de Aulas (PAF) 1 e 3, no bairro de Ondina, em Salvador, os portões foram abertos pontualmente às 8h, mas a tolerância de quase cinco minutos fez com que a instituição não contabilizasse estudantes retardatários nesta unidade.

Estudantes fazem provas de Português e Ciências Naturais neste domingo
Estudantes fazem provas de Português e Ciências Naturais neste domingo
Foto: Maria Clara Dultra / Especial para Terra

Na porta da universidade, a expectativa de candidatos aos cursos mais concorridos se misturava à ansiedade de quem está fazendo o vestibular "apenas para testar". É o caso de Guilherme Costa, 16 anos, que veio acompanhado pela família. Ainda cursando o ensino médio, ele se inscreveu no curso de Física, um dos menos concorridos.

"A ideia dele é passar em ambas as fases, de modo que, quando ele fizer o vestibular para valer e para o curso que ele realmente quer, que é Engenharia, ele já sabe como funciona", explica a mãe do estudante, Célia Costa.

A tranquilidade da família Costa não era a mesma que a da família Ramos. Alex, filho de um médico, está tentando o vestibular para um o curso mais concorrido da UFBA, o de Medicina. Tendo de enfrentar a concorrência de 49 para um e com a responsabilidade de ser o primeiro dos quatro irmãos a entrar na faculdade de Medicina, ele se preparou bastante, mas está apreensivo porque esta é segunda vez que presta vestibular.

Além da ansiedade normal com as provas, a falta de sinalização dentro da universidade, para indicar em quais prédios serão aplicadas as provas aumenta o estresse e a ansiedade dos candidatos e das famílias, acredita a aposentada Rita de Cássia Santos. A filha dela, Taís, 20 anos, está tentando o curso de Direito, também um dos mais concorridos. "Estou muito revoltada com a falta de sinalização. Que colocassem cartazes, faixas, qualquer coisa para nos indicar o local correto. Por causa disso, minha filha quase perde a prova, foi por pouco", reclamava, na frente do portão.

Do total de vagas oferecidas, 1.287 são prioritariamente para os alunos da UFBA egressos dos Bacharelados Interdisciplinares (BI). A seleção para ingresso nos Bacharelados Interdisciplinares e nos Cursos Superiores de Tecnologia é baseada nas notas obtidas no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).

Mães esperam até cinco horas por candidatos

O primeiro dia de provas do vestibular UFBA desencadeou uma 'crise' na relação entre Nayara Nascimento, candidata ao curso de Assistente Social, e sua mãe, dona Marli. É que nesses 22 anos de vida da filha, dona Marli nunca deixou de acompanhar Nayara em "nenhum compromisso. Seja concurso, vestibular, Enem, o que for", faz questão de frisar. Mas neste domingo, porém, Nayara reagiu de forma diferente.

"Quando estávamos chegando na universidade, eu me senti hostilizada pelo grupo de colegas dela, por ser uma mãe-participante, como costumo dizer. Senti que os colegas mal me deram um bom dia, fizeram cara feia, e tudo isso porque sabiam que eu vim para acompanhá-la. Mas o pior de tudo, no entanto, foi que eu senti que ela mesma me tratou diferente, como se estivesse 'pagando mico', como eles dizem", reclamou a mãe, que deu sermão e tudo - na filha e nos amigos. "E quando chegar em casa, vamos conversar sério", adiantou, visivelmente magoada.

Dona Marli era a mais falante no grupo de cerca de 10 'mães-participantes' que esperam pelos filhos no Pavilhão de Aulas (PAF) 1 da UFBA. Enquanto torcia pelo sucesso da filha no vestibular e, ao mesmo tempo, reclamava da 'hostilidade' dos amigos da menina, ela era consolada pela professora Edite Ramos.

Acostumada a lidar com adolescentes, dona Edite tem um papel de "mãe da minha filha e mãe dos filhos dos outros". "Eu faço oração para minha filha e para todos. Além disso, ajudo algum estudante, cuja mãe não estiver presente." Ela tem uma "relação aberta" com a filha, a candidata ao curso de Direito, Geíse Barros. "Nós tentamos nos controlar para não passarmos mais ansiedade para eles, mas, no fundo, estamos muito ansiosas", frisou.

No caso de dona Edite, Geíse nunca esboçou qualquer reação de desaprovação ao comportamento da mãe - que também faz questão de acompanhar a filha em todos os compromissos. "Eu acredito que ela goste e eu sempre vou ser assim porque acredito que passo mais segurança para minha filha. Sabendo que estou, aqui, esperando por ela, ela vai fazer uma prova melhor", confia.

Em um momento tão importante na vida do estudante quanto o primeiro vestibular, vale também o apoio e o suporte emocional das tias. É o caso de dona Dalva Noronha. Diante da impossibilidade da mãe dos sobrinhos, gêmeos de 16 anos, comparecer, ela e outra tia dos meninos estão acompanhando os candidatos, cada uma em locais diferentes. "Somos todos muito unidos, por mim não tem problema nenhum", afirma.

Hoje de manhã, enquanto a candidata ao curso de Publicidade e Propaganda Laíse Andrade, 17 anos, se arrumava com calma e tranquilidade, a mãe, dona Eliene, acordou cedo, e estava "muito nervosa". "Parecia que eu ia fazer vestibular, porque ela falava assim: 'minha mãe, se acalme!'", riu, enquanto lia revista, como forma de amenizar as cinco horas de espera por Laíse. "Porque eu acredito que não basta ser mãe, tem que participar."

Fonte: Especial para Terra
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