Respeito com horários, individualidade e equilíbrio: quais são os limites das ações motivacionais
Mentor de carreira e LinkedIn Top Voice, Luciano Santos explica o que é importante para adotar ações motivacionais eficazes
A motivação é um elemento essencial para o sucesso das equipes em qualquer ambiente de trabalho. No entanto, até que ponto as ações motivacionais são eficazes, e quando elas podem se tornar prejudiciais? O mentor de carreira, palestrante e LinkedIn Top Voice Luciano Santos explicou ao Terra quais cuidados a liderança deve ter na hora de adotar essas medidas no ambiente organizacional.
O executivo fez ressalvas importantes sobre o comportamento de gestores e como é importante considerar a individualidade de cada um durante o processo organizacional.
Motivação sob uma perspectiva individual
"Eu acho que a primeira coisa que a gente precisa refletir é um entendimento de que o que é motivacional para mim, pode não necessariamente ser para você. O que motiva você, às vezes não é o que motiva o outro", ressalta Luciano, que também é o escritor do livro Seja egoísta com sua carreira.
De acordo com ele, essa variação na motivação individual é um aspecto fundamental a ser considerado, além disso as ações adotadas devem sempre prezar pelo respeito e o direito do funcionário. "Existe ali uma linha muito tênue também dessa motivação virar um assédio. Dessa motivação virar uma agressão. Dessa motivação virar algo que vai ter efeito totalmente contrário."
Luciano enfatiza que a motivação saudável deve ser aquela que impulsiona todo o time na direção certa, como no exemplo de um time de vendas buscando alcançar metas. Isso envolve a promoção de práticas que estimulem o crescimento conjunto, como sessões de compartilhamento de boas práticas ou até mesmo eventos descontraídos, como uma 'pizzada', realizados durante o horário de trabalho. Essas iniciativas visam acelerar o progresso da equipe, aumentando o número de contatos com clientes e as tentativas de venda, mantendo, ao mesmo tempo, uma abordagem equilibrada e saudável.
Segundo Luciano, é preciso ter cuidado para o que parece ser uma ação motivacional bem-intencionada ter, na realidade, resultados adversos se não for cuidadosamente planejada e implementada: "Por exemplo, uma leitora me contou sobre uma ideia de motivação que tiveram no time de vendas. Eles trabalham até as 18h, aí tiveram a ideia de fazer uma pizzada em que a equipe ficava das 18h às 21h trabalhando por causa da pizza."
O palestrante enfatiza que obrigar alguém a trabalhar além do horário para a implatação de uma ação, como o exemplo da pizza, pode criar desconforto. "E aquela motivação foi, na verdade, uma grande desmotivação pra ela e pra várias pessoas do time. Ela se sentiu obrigada a participar daquilo", comenta.
Liderança e coletivo
Gerenciar a motivação de uma equipe não é uma tarefa simples. Luciano destaca a importância da liderança fazer questionamentos como: "O que eu quero tirar dessa ação? Qual o objetivo dela? Ela vai deixar alguém desconfortável? Ela vai exigir mais de alguém que talvez não seja o que eu vou conseguir colocar numa categoria de motivação?".
O executivo também enfatiza que as ações motivacionais devem ser adaptadas à singularidade de cada equipe. "É importante entender que do outro lado tem um ser humano na sua total pluralidade. E que vai interpretar as coisas de maneiras diferentes", destaca.
Além disso, também aponta a necessidade de sensibilidade e cautela ao abordar características individuais no ambiente de trabalho, pois o que pode parecer uma brincadeira inofensiva para uma pessoa pode ser percebido como uma agressão por outra. "Uma brincadeira que pode rebaixar alguém de alguma forma não é uma campanha motivacional e é muito importante que a gente tenha essas reflexões antes de fazê-la”.
De acordo com o mentor de carreira, líderes desempenham um papel crucial na motivação de suas equipes e devem envolver suas equipes no processo de planejamento de ações motivacionais.
"Uma coisa que os líderes fazem muito pouco e que deveriam fazer em primeiro lugar antes de pensar em uma campanha, em uma melhoria, em um treinamento para os funcionários, é perguntar, em primeiro lugar, ao próprio time. É dali que surgem ideias extraordinárias. É dali que surgem maneiras diferentes de fazer as coisas", afirma ele.
Luciano também destaca a importância de desfazer a percepção equivocada tanto por parte dos líderes quanto dos membros da equipe sobre o papel do líder no ambiente de trabalho. Ele enfatiza que o líder não deve tentar fazer tudo sozinho ou ser visto como uma figura perfeita que sabe tudo. Em vez disso, o líder deve atuar como um articulador, confiando no potencial do time e incentivando a colaboração.
Por outro lado, afirma que os membros da equipe também precisam compreender que o líder é apenas outro profissional com responsabilidades e desafios específicos, e não uma figura idealizada. Essa compreensão mútua, segundo ele, ajuda a promover um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo.
Tendências e soluções prontas
A tendência de adotar ações motivacionais que estão em alta nas redes sociais ou que foram bem-sucedidas em outras empresas nem sempre é eficaz. "Só porque está em alta na internet, a empresa adotar também, não é uma coisa que vai garantir que porque deu certo em outra empresa vai ser eficaz na sua também. Tem que avaliar outros fatores. Cada time tem suas características, cada cultura tem a sua dinâmica própria", explica.
Ele também incentiva os líderes a buscar ajuda e compartilhar experiências com outros líderes internamente, criando comunidades de aprendizado. No entanto, ressalta que é crucial que os líderes escutem, filtrem e adaptem as ideias para que façam sentido e funcionem para a equipe específica, evitando abordagens de "copiar e colar" que podem não ser adequadas ao seu contexto.
Reconhecimento como fator fundamental
De acordo com Luciano, é muito importante que a empresa pense primeiro em construir uma base sólida nas práticas de liderança, como fornecer feedback de qualidade, possuir uma visão diversificada, reconhecer conquistas de forma sistemática e manter uma comunicação eficaz, antes de buscar soluções mais sofisticadas ou tendências passageiras.
O mentor de carreira também destaca a importância do reconhecimento como uma prática fundamental no ambiente de trabalho, celebrando conquistas como o alcance de metas, elogios dos clientes e outros marcos relevantes. "Antes de querer uma grande ação motivacional, implementar alguma coisa diferente, copiar uma coisinha que tá lá, que tá na moda em outra empresa, faz uma grande reflexão sobre como tá a fundação do seu grupo de liderança", conclui.