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Coronavírus

Paciente zero da Itália: "Vou ver minha filha nascer"

Pesquisador Mattia deve ter alta no começo da próxima semana; anteontem, ele reencontrou a mulher grávida

20 mar 2020 - 22h38
(atualizado em 21/3/2020 às 09h13)
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Ele chegou na noite do dia 21 para 22 de fevereiro em situação desesperadora ao hospital de Codogno, na região industrializada da Lombardia, no norte da Itália. Depois de 28 dias isolado, Mattia reviu anteontem pela primeira vez a mulher, que está na 37.ª semana de gravidez. Entre os dois, o vidro da porta do quarto onde o paciente zero da Itália completa sua recuperação. "Vou ver minha filha nascer", disse ontem ao Corriere della Sera o pesquisador que trabalha para a Unilever.

Mattia é pesquisador e grande esportista. Além de futebol, é um fundista que disputa provas de rua e voluntário da Cruz Vermelha. No começo de fevereiro, reencontrou em um jantar um amigo que acabara de retornar da China sem nenhum sintoma da covid-19. Dias depois, surgiram os primeiros sintomas. Parecia uma gripe. Era 15 de fevereiro.

Funcionário recolhe mesas em restaurante vazio no distrito de Navigli em Milão, Itália
10/03/2020
REUTERS/Daniele Mascolo
Funcionário recolhe mesas em restaurante vazio no distrito de Navigli em Milão, Itália 10/03/2020 REUTERS/Daniele Mascolo
Foto: Reuters

No dia 17, Mattia não foi trabalhar. O médico de família o examinou. No dia seguinte, ele procurou o hospital de Codogno. Deram-lhe um antibiótico o mandaram para casa.

Ninguém associou sua doença à covid-19, que então atingia em cheio a China. Nem Mattia se lembrou de contar aos médicos sobre o jantar com amigo. No dia 19, seu estado piorou e ele voltou ao hospital e, 24 horas depois, Mattia estava entubado na UTI.

Foi aí que surgiu a hipótese covid-19. Iniciou-se então uma corrida atrás dos lugares por onde Mattia havia passado e uma busca pelas pessoas com quais estivera. Tarde demais. Superativo, antes que a doença de Mattia fosse descoberta, o paciente zero participara de duas corridas com amigos da empresa e de atividades como voluntário.

Quem dera o alarme sobre seu caso, revelando o jantar com o amigo retornado da China, foi sua mulher, Valentina, que também se contaminara. Levada para um hospital de Milão, ela melhorou logo e foi para casa. Os pais de Mattia, que contraíram o vírus, tiveram alta no dia 10. Um dia antes, o pesquisador deixara o respirador artificial da UTI, quando um coquetel de medicamentos experimentais começou a fazer efeito contra o corona.

Valentina e Mattia decidiram que a filha do casal se chamará Gioia (alegria, em italiano). Anteontem, ela esteve no hospital para visitar o marido. "Estou emagrecido, em forma. Meu único desejo é estar ao lado da minha mulher durante o parto", afirmou Mattia. Valentina passou todos os dias recebendo todos os dias, às 18 horas, um telefonema do médico Francesco Mojoli que lhe dava as notícias sobre o estado de saúde do marido."Ficava todos os dias esperando aquele momento", afirmou Valentina para o Corriere della Sera.

O reencontro atrás do vidro da porta foi apenas uma precaução dos médicos. Depois de deixar a UTI e a unidade de terapia semi-intensiva, Mattia ainda permanece em observação. Ele só deve deixar o hospital entre a próxima segunda-feira ou quarta-feira. Vai encontrar uma Itália sacudida pela covid-19. Até ontem, o país havia somado 47.021 casos, com 4.032 mortes, das quais 627 mortes apenas ontem. A Lombardia, região onde tudo começou é a mais atingida no País. Só ela reunia 2.549 mortes e 22.264 casos da doença.

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