PUBLICIDADE

Coronavírus

Novo coronavírus reduz renda de metade dos brasileiros

Levantamento mostra que 51% dos entrevistados tiveram seus ganhos afetados pelos efeitos da pandemia e estão contingenciando seus gastos

12 abr 2020 - 05h10
(atualizado às 08h26)
Compartilhar
Exibir comentários

Com menos de 30 dias de quarentena e em meio a um cenário em que a retomada do contato social ainda parece distante, mais da metade dos brasileiros já sente no bolso os efeitos da pandemia do novo coronavírus. Pesquisa do Instituto Locomotiva, obtida com exclusividade pelo Estado, aponta que 51% das pessoas afirmam ter perdido renda e que já estão contingenciando seus gastos.

Homem de pé em frente a lojas fechadas depois que decreto da prefeitura determinou o fehamento do comércio como medida de prevenção contra a doença do coronavírus (Covid-19)
20/03/2020
REUTERS/Amanda Perobelli
Homem de pé em frente a lojas fechadas depois que decreto da prefeitura determinou o fehamento do comércio como medida de prevenção contra a doença do coronavírus (Covid-19) 20/03/2020 REUTERS/Amanda Perobelli
Foto: Reuters

Segundo a pesquisa, o impacto da crise é praticamente o mesmo entre homens e mulheres. Por faixa etária, contudo, afeta mais o bolso dos trabalhadores com 50 anos ou mais (52%), com ensino superior completo (48%) e que residem nos Estados do Sudeste (38%). A região concentra São Paulo e Rio de Janeiro, as duas capitais com o maior número de infecções, segundo dados do Ministério da Saúde.

Para o presidente da Locomotiva, Renato Meirelles, a proporção de brasileiros afetada, que já é alta, deve crescer nas próximas semanas. E o brasileiro, ele afirma, espera que isso aconteça. "Levantamos que dois em cada três profissionais acreditam que seus empregos serão muito prejudicados no Brasil, apesar de 73% das pessoas defenderem o isolamento social como forma de frear o avanço da doença", diz Meirelles.

A pesquisa foi realizada entre 3 e 5 de abril e entrevistou, por telefone, cerca de mil pessoas em 72 cidades do País. A margem de erro é de 3,2 pontos porcentuais para cima e para baixo.

TV a cabo dividida

Na casa da chef de cozinha Juliana Menezes os efeitos da paralisação da economia foram sentidos quase que de imediato. Ela, que deixou a sociedade de um restaurante para cozinhar na casa dos clientes, conta que conseguiu migrar a maior parte da demanda para um serviço de entrega de marmitas, que vem fazendo desde meados de março. Já o marido, que é vendedor e nos últimos dois anos também trabalhava como motorista de aplicativos, praticamente zerou a renda. O prejuízo é calculado em R$ 3 mil dentro do mês.

"Nunca tivemos poupança, não sobra dinheiro para isso. Saímos cortando os gastos", diz Juliana, que reduziu a lista de supermercados, trocando, por exemplo, os alimentos orgânicos por produtos tradicionais. "Comida sempre foi meu 'ralo', onde gasto muito. Só nessa nova lista economizei por volta de R$ 1 mil", afirma.

O corte também avançou nos custos fixos de serviços, como na assinatura de TV a cabo. "Cancelei o serviço de internet, bati na porta do meu vizinho de cima e me ofereci para dividir a conta com ele", conta. "Nunca tinha conversado com esse vizinho e só sabia que se chamava Oscar. Ele aceitou fazer um teste e está ótimo assim", afirmou.

Sem carne

Em Florianópolis, a microempresária Madeleine Lisboa teve de cortar no básico. Com o marido desempregado e dois filhos, ela viu a demanda de sua agência de limpeza minguar nas últimas semanas. "Como praticamente não tem serviço, paramos de comer carne. Eu avisei os filhos que para beber é só suco de limão, que pego no quintal do vizinho, e estou fazendo mistura com abacate, que também pego da horta", conta. "Eu ainda tenho minha casa e dinheiro para comprar alguma coisa, agora minhas colaboradoras, que recebem por serviço feito, estão sem nada. Estou distribuindo cestas básicas para que tenham o que comer."

5 perguntas para Michael Viriato, coordenador do laboratório de finanças do Insper

Quem perde uma fatia da renda deve fazer o que para preservar o orçamento?

As pessoas precisam agir como empresas e precisam agir rapidamente. O que as empresas estão fazendo? Renegociando os custos fixos. Essa é a ação número um: cancele ou reduza pacotes de serviços. Renegocie seu contrato de aluguel e o valor do condomínio. Os gastos com moradia costumam afetar em 30% do orçamento das pessoas.

Mas é fácil renegociar um contrato de aluguel neste momento?

Sim. Se há perda evidente de renda, há espaço para isso, dado o momento que vivemos. Quem mora em prédio pode convocar outros moradores e fazer uma reunião para reduzir alguns custos do condomínio. Se mora de aluguel, converse com o locador.

Os planejadores sempre falam que a dívida precisa ser quitada logo. No entanto, em tempos de recursos escassos, o que fazer entre pagar o compromisso ou guardar o dinheiro para um cenário imprevisível?

Bom, agora, guarde o dinheiro. Isso é diferente de tudo que sempre recomendamos. Claro que o ideal seria não ter contraído dívidas antes, já que nossa recomendação é sempre evitar. Mas agora o dinheiro pode ser importante para uma necessidade de primeira ordem. Lá na frente a pessoa encontra uma alternativa para quitar essa dívida.

Existem dívidas que podem ser postergadas?

Hoje todo mundo sabe da situação que todos estão enfrentando. Várias instituições estão renegociando ou postergando pagamentos. Uma sugestão pode ser pagar agora os juros e deixar a amortização para depois. Outra coisa: os impostos e contas públicas, como de luz e água, isso dá para jogar um pouco para frente. Alguns Estados estão até liberando os mais pobres desses pagamentos.

Qual a dívida que não pode em hipótese alguma ficar para depois?

A do cartão de crédito. O que o consumidor não pode fazer agora, e várias pessoas estão fazendo, é entrar no rotativo do cartão de crédito, que é de mais ou menos 300% ao ano. Uma dívida dessa dobra de tamanho em seis meses. Venda o carro, que está parado e depreciando, mesmo que com desconto, mas não deva para a empresa de cartão.

Veja também:

Por que usar máscara contra a covid-19? Médico responde:
Estadão
Compartilhar
Publicidade
Publicidade