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Amazônia registra 2º ano com mais desmatamento desde 2015

Governo Bolsonaro tem três anos com taxa mais alta de devastação na Amazônia resultado do enfraquecimento de regulamentações

6 ago 2021 - 12h16
(atualizado às 12h32)
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O desmatamento acumulado entre agosto de 2020 e julho deste ano na Amazônia foi o segundo maior do governo Jair Bolsonaro e o terceiro maior da série histórica, iniciada em 2015, segundo os mais recentes dados do Deter, sistema de alerta do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), ligado ao Ministério da Ciência. Com esses dados divulgados nesta sexta-feira, 6, é possível ver o consolidado dos últimos 12 meses, equivalente ao período usado pelo sistema Prodes, responsável pelo balanço anual e pelos dados oficiais do governo. 

Área desmatada da Amazônia na região de Porto Velho (RO) 
21/08/2019
REUTERS/Ueslei Marcelino
Área desmatada da Amazônia na região de Porto Velho (RO) 21/08/2019 REUTERS/Ueslei Marcelino
Foto: Reuters

A área de 8.712 km2 registrada em alertas de desmate do Deter coloca o período 2020/2021 atrás apenas dos 9.216 km2 desmatados entre agosto de 2019 e julho do ano passado, conforme os números dos últimos seis anos. No Brasil e no exterior, a gestão Bolsonaro tem sido alvo de críticas por causa da alta do desmatamento e do número de incêndios.

O mês de julho fechou com 1.417 km2 de desmatamento na Amazônia. Pará e Amazonas ocupam o primeiro e o segundo lugar no ranking dos maiores desmatadores do mês, com 498 km2 e 402 km2, respectivamente. Como o Estadão mostrou, há entraves na fiscalização ambiental da Amazônia na gestão Jair Bolsonaro. Em 2019 e 2020, a média de processos com multas pagas por crimes que envolvem a vegetação nos Estados da Amazônia Legal despencou 93% na comparação com a média dos quatro anos anteriores.

"Os números falam por si: em três anos de governo Bolsonaro, temos três recordes de desmatamento na Amazônia desde 2008. Todos os brasileiros já estão sentindo as consequências dessa política da destruição: o aumento da conta da luz, o risco de falta de água e as dificuldades do homem do campo com suas lavouras têm relação com uma Amazônia cada vez mais perto do seu limite", alerta Maurício Voivodic, diretor executivo do WWF-Brasil.

Cerrado

No caso do Cerrado, onde vivem 5% dos animais e plantas do planeta, os dados de alertas Deter indicam 661 km2 de desmatamento em julho, totalizando 5.102 km2 entre agosto de2020 o último mês - um crescimento de quase 24% em relação ao ano anterior (2019-2020). Maranhão, Bahia e Tocantins lideram o ranking dos Estados com maior área desmatada no último ano.

Assim como o desmatamento da Amazônia, a destruição do Cerrado tem sérias consequências para o Brasil: o bioma desempenha papel essencial no apoio ao ciclo da água no Brasil, já que é fonte de oito das 12 bacias hidrográficas do país. O desmatamento contínuo reduz as chuvas e aumenta as temperaturas locais, colocando também em risco a vegetação remanescente e a produção de alimentos.

Às vésperas do sexto relatório científico do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), os dados de desmatamento da Amazônia e do Cerrado colocam o Brasil na contramão do que é preciso fazer para combater a emergência climática, já que essa destruição ambiental é também a principal fonte das emissões de gases de efeito estufa. O Brasil é o sexto maior emissor do planeta.

"Enquanto o desmatamento aumenta, PIB, renda per capita, nível educacional, saúde infantil e expectativa de vida no Brasil recuam. O que também cresceu nos últimos anos foi o desemprego e a desigualdade social. Estamos perdendo os dois maiores biomas do Brasil sem que isso gere crescimento, qualidade de vida ou renda para o País", ressalta Voivodic. 

O Brasil já figurava como um dos campeões de desmatamento e de fragmentação de florestas e outros ecossistemas entre 2000 e 2018, segundo relatório do WWF-Internacional lançado no começo deste ano. O motivo para esta liderança era justamente o fato de termos duas frentes simultâneas de destruição - Amazônia e Cerrado. O estudo mostrou que, a exemplo do que acontece no Brasil, em todo o mundo, a agricultura comercial, especialmente em larga escala, é a principal causa do desmatamento de áreas para pecuária e o cultivo de commodities.

No entanto, esse desmatamento é desnecessário, considerando que o Brasil possui cerca de 1,6 milhões de km² de pastagens degradadas, segundo o Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento da Universidade Federal de Goiás. Essa área poderia e deveria ser usada pela agropecuária, reduzindo a necessidade de abrir matas nativas. A mineração e a expansão da infraestrutura, tais como redes de estradas de ferro e rodovias, que conectam as zonas de produção aos mercados domésticos e de exportação, são outros dois importantes vetores.

Além disso, houve aumento importante de atividades ilegais nos últimos anos, como grilagem, garimpo, extração de madeira e invasão em terras públicas. Após um ano e meio de pandemia e quase 600 mil mortos, os dados do desmatamento preocupam também pelo ponto de vista da saúde pública: diversos estudos têm mostrado a forte relação entre desmatamento e doenças zoonóticas, mostrando que o surgimento de novas doenças é elevado em regiões tropicais, biodiversas e historicamente cobertas por florestas e savanas que estão passando por mudanças no uso da terra.

Estadão
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