PUBLICIDADE
URGENTE
Saiba como doar qualquer valor para o PIX oficial do Rio Grande do Sul

Caso Marielle: entenda o que ainda precisa ser esclarecido

Destino do porteiro que autorizou entrada de Élcio e perícia feita em 2 horas e meia são algumas das dúvidas

5 nov 2019 - 17h31
(atualizado às 18h32)
Compartilhar
Exibir comentários
Na última semana, o nome de Jair Bolsonaro foi relacionado a um dos acusados de ter assassinado Marielle e Anderson
Na última semana, o nome de Jair Bolsonaro foi relacionado a um dos acusados de ter assassinado Marielle e Anderson
Foto: Agência Brasil

O assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes completou 600 dias na última segunda-feira (4) reunindo mais dúvidas do que respostas definitivas. Na última semana, vazamentos na investigação trouxeram o nome do presidente Jair Bolsonaro à tona, relacionando-o a um dos acusados de matar Marielle e Anderson, o PM reformado Ronnie Lessa. Bolsonaro tem uma casa no condomínio Vivendas da Barra, na zona oeste, onde também morava o policial.

Em março, Lessa e o ex-PM Élcio Queiroz foram presos, acusados como responsáveis pelas mortes. Um novo inquérito foi aberto para apurar os mandantes do crime, mas, até agora, não há nenhuma conclusão.

De acordo com o depoimento de um porteiro cujo nome não foi divulgado, no dia do crime, 14 de março do ano passado, Queiroz teve sua entrada liberada no condomínio por alguém na casa 58, de Bolsonaro. Um áudio da portaria, no entanto, desmentiria o depoimento, segundo o Ministério Público.

A divulgação da informação que estava sob segredo de justiça causou indignação na família Bolsonaro e mobilizou os promotores e especialistas em perícia criminal, gerando novas dúvidas sobre o caso. Mas essa não é a única questão a ser resolvida. Confira algumas das perguntas que seguem sem respostas sobre o caso Marielle.

Quem, afinal, autorizou a entrada de Élcio Queiroz no condomínio Vivendas da Barra, em 14 de março de 2018, dia da morte de Marielle Franco?

Segundo reportagem que foi ao ar no Jornal Nacional do último dia 29, um porteiro do condomínio contou à Polícia Civil em dois depoimentos diferentes que o ex-PM recebeu autorização da casa 58 (do então deputado federal Jair Bolsonaro) para entrar no condomínio no dia 14 de março às 17h10. Ainda segundo o depoimento do porteiro, quem autorizou a entrada na casa 58 teria sido o "seu Jair".

Acompanhando a movimentação do visitante pelas câmeras de segurança, o porteiro teria constatado que Élcio dirigiu o carro até a casa 65/66, do PM reformado Ronnie Lessa, acusado de apertar o gatilho contra a vereadora e seu motorista. Percebendo que o visitante foi até uma casa diferente da declarada na portaria, o porteiro voltou a ligar para a casa 58 e relatou o ocorrido. Ainda segundo os depoimentos do porteiro, o mesmo "seu Jair" disse que sabia para onde ele estava indo.

Além do depoimento do porteiro, a TV Globo também teve acesso aos registros manuais da portaria. No livro, consta que Élcio Queiroz entrou no condomínio às 17h10 do dia 14 de março e se dirigiu à casa 58, de Jair Bolsonaro.

Registros oficiais da Câmara dos Deputados, em Brasília, confirmam que o então deputado federal Bolsonaro participou de votações às 14h e às 20h30 e, portanto, não poderia estar no Rio de Janeiro. O próprio Bolsonaro, que estava em viagem oficial à Arábia Saudita, postou uma live após a divulgação da reportagem, negando veementemente as acusações.

No dia seguinte (30), no fim da manhã, o vereador Carlos Bolsonaro, que também mora no condomínio, revelou nas redes sociais gravações alegadamente obtidas com o síndico, segundo as quais foi o próprio Ronnie Lessa, na casa 65/66, quem liberou a entrada de Elcio Queiroz, às 17h13. O áudio mostra o diálogo entre um porteiro e Ronnie.

No mesmo dia, à tarde, o MP-RJ convocou uma entrevista coletiva, informando que os áudios desmentiam o depoimento do porteiro e comprovavam que a entrada de Élcio no condomínio tinha sido autorizada por Ronnie.

É possível determinar, então, que o porteiro mentiu e descartar os dois depoimentos e o livro de registros manuais?

Não necessariamente. Nos vídeos exibidos por Carlos Bolsonaro em seu Twitter, em que ele revela os áudios, não há como saber se ele, de fato, estava na administração do condomínio nem em que dia foram gravados. Aparentemente, no entanto, o MP-RJ teve acesso aos mesmos áudios da administração do condomínio. Uma análise técnica pedida no mesmo dia pelo MP e feita em menos de duas horas e meia sustenta que os áudios não foram editados, nem adulterados. A análise, no entanto, foi questionada por especialistas.

Após 600 dias do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, poucas perguntas foram respondidas
Após 600 dias do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, poucas perguntas foram respondidas
Foto: Ellan Lustosa / Código19 / Estadão Conteúdo

Por que a perícia do MP foi questionada?

Peritos criminais questionaram o valor da análise como prova. Segundo eles, não houve tempo suficiente para uma análise aprofundada. Além disso, disseram, os computadores do condomínio não foram periciados e, portanto, não daria para saber, por exemplo, se algum áudio foi suprimido ou renomeado.

Outro problema apontado é o fato de o MP só ter analisado as comunicações entre a portaria e a casa de Ronnie Lessa, e não todas as outras conversas do condomínio. O MP tampouco analisou a voz do porteiro que fala com Lessa. Novos vazamentos na investigação indicam que não seria o mesmo porteiro que preencheu o livro de registros.

Por que o MP só periciou os áudios depois da reportagem exibida pelo Jornal Nacional?

Segundo explicações posteriores dadas pelo MP-RJ, os áudios foram enviados pelo síndico do condomínio em 15 de outubro e a análise técnica já tinha sido pedida e estava sendo realizada. No entanto, o registro só teria sido adicionado ao inquérito no próprio dia 30, poucas horas antes da entrevista.

Por que uma das promotoras foi afastada do caso?

A promotora Carmen Eliza Carvalho, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), participou da entrevista coletiva do MP no dia 30, em que as promotoras afirmaram que o porteiro mentiu em seu depoimento, envolvendo o presidente da República. Horas depois, no entanto, sites de notícia divulgaram fotos e postagens de Carmen nas redes sociais em apoio a Bolsonaro.

Uma outra foto, de setembro, mostra a promotora abraçada ao deputado estadual Rodrigo Amorim, o mesmo que rasgou uma placa de homenagem a Marielle Franco durante a campanha eleitoral. A promotora acabou pedindo afastamento das investigações.

Por que o porteiro teria mentido? Onde ele está?

O porteiro que preencheu o livro de registros manuais e prestou depoimento

à polícia seria um funcionário antigo do condomínio. As promotoras disseram que não sabem explicar por que o porteiro teria mentido, mas informaram que ele deverá ser novamente chamado a prestar depoimento e esclarecer a situação. Informações obtidas no condomínio indicam que o porteiro estaria de férias. Até agora, ninguém conseguiu localizá-lo.

Novas informações vazadas do inquérito dão conta de que o porteiro gravado no áudio pedindo a autorização da entrada de Élcio Queiróz a Ronnie Lessa seria outro funcionário. Nenhuma perícia neste sentido foi ainda pedida. Esse segundo funcionário tampouco prestou depoimento.

Qual o papel do governador do Rio, Wilson Witzel, na história?

No mesmo dia em que a reportagem da TV Globo foi ao ar, o presidente Jair Bolsonaro acusou o governador do Rio, Wilson Witzel, de ser o responsável pelo vazamento das informações do inquérito à emissora. Segundo Bolsonaro, o governador quer destruir a sua família porque quer concorrer à Presidência em 2022.

O presidente afirmou também que o delegado responsável pela investigação do caso, Daniel Rosa, seria "amigo" do governador. Witzel nega as acusações.

Veja também:

Comissão de Segurança apura denúncia de assédio em transporte escolar:
Estadão
Compartilhar
Publicidade
Publicidade