Reintegração de posse no Rio de Janeiro é marcada por confronto e incêndios
Foto: Ale Silva / Futura Press
O coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Simões, classificou como "barbárie" a ação da Polícia Militar, durante a reintegração de posse de um terreno da Telemar, no Engenho Novo, subúrbio do Rio de Janeiro, que começou na manhã desta sexta-feira. "Foram atos de barbárie e violência inadmissíveis e não tenham dúvida de que o governo do Estado e a prefeitura vão ter que arcar com as consequências de toda está violência", disse.
Simões sustenta que os policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e do Batalhão de Choque já chegaram ao local quebrando tudo e atirando bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha. "O que está acontecendo aqui em tempos de Copa e de megaeventos é gravíssimo. O tratamento que está sendo dado ao povo do Rio de Janeiro é algo difícil de aceitar. Estamos vendo um verdadeiro massacre. Não há eufemismo nenhum nisto, a Policia Militar já entrou quebrando tudo. Há relato de feridos e eu mesmo já vi três pessoas feridas, inclusive uma criança ferida por uma bomba de gás lacrimogêneo".
O coordenador do MTST contou à Agência Brasil que a Polícia Militar começou a cercar a área por volta das 4h30 de hoje e iniciou a desocupação antes das 6h, o que, segundo ele, é proibido. Disse, ainda, que não houve nenhuma negociação e que nenhuma liderança dos moradores ou mesmo dos movimentos que apoiam a ocupação foram ouvidos. Durante o confronto, os manifestantes incendiaram um prédio, ônibus, caminhão e uma viatura policial. Jornalistas que cobrem o caso também relatam que sofreram violência física e verbal pela PM. Um repórter do jornal O Globo foi detido.
"A realidade é que a situação está saindo do controle, as pessoas estão se revoltando contra esta violência que derruba por terra a ideia inicial de uma ocupação pacifica", disse Simões. Em seu relato, o coordenador do MTST disse que, como a polícia cercou toda a área ocupada e está impedindo as pessoas de entrar ou sair do local, o conflito se generalizou. "As únicas informações que temos estão sendo transmitidas por telefone das pessoas que estão impedidas de deixar a área central do conflito pela polícia. E elas indicam a existência de feridos, inclusive crianças".
Guilherme Simões alertou para o risco de generalização do conflito já que os manifestantes estão se abrigando em comunidades adjacentes. "São 5 mil pessoas na área ocupada e as comunidades em volta da área também estão sofrendo repressão por terem se colocado ao lado das famílias que ocupam o terreno", disse.
A Agência Brasil entrou em contato com a Polícia Militar, mas até o momento não obteve resposta.
Incêndios
Por volta das 7h20, o prédio principal do terreno começou a pegar fogo. Uma extensa coluna de fumaça podia ser vista de longe. Não há informações sobre a presença de feridos tanto no confronto como no incêndio, que foi extinto por volta das 7h40.
Alguns minutos depois, um carro da Polícia Militar e dois ônibus também foram incendiados no local. Mais tarde, outro ônibus e um caminhão foram incendiados.
Segundo o Corpo de Bombeiros, viaturas de sete quartéis participam da operação no local. Por volta das 9h30, a corporação confirmou a informação de que um menino de 9 anos havia sido atendido e liberado no local por inalação de fumaça. Às 10h, a Secretaria Municipal de Saúde informou que algumas pessoas foram encaminhadas com ferimentos leves ao hospital Salgado Filho, mas não soube confirmar o número de vítimas. De acordo com assessoria, entre elas estavam moradores que inalaram fumaça e policiais que foram atingidos por pedras.
Mais tarde, chegou a informação de que um bebê de seis meses foi socorrido pelos bombeiros até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Engenho Novo por inalação de fumaça tóxica. O estado de saúde da criança não foi informado.
Reintegração de posse em Engenho Novo, no Rio de Janeiro, é marcada por confronto e incêndios
Foto: Ale Silva / Futura Press
A tropa de choque se posicionou para ocupar a área do terreno da empresa de telefonia OI
Foto: Ale Silva / Futura Press
Alguns moradores deixaram o local pacificamente
Foto: Ariel Subirá / Futura Press
Um carro da polícia foi incendiado por populares
Foto: Ale Silva / Futura Press
Um incêndio também consumiu o próprio prédio ocupado pelos invasores
Foto: Ale Silva / Futura Press
Fumaça é vista de longe
Foto: Ale Silva / Futura Press
Homem é detido pela Polícia Militar
Foto: Ale Silva / Futura Press
Morador é flagrado atirando pedras contra a tropa de choque
Foto: Ariel Subirá / Futura Press
O prédio ocupado pegou fogo logo no início da desocupação
Foto: Ariel Subirá / Futura Press
Houve confronto entre PMs e moradores, que se negaram a sair do local
Foto: Vladimir Platonow / Agência Brasil
Cerca de 1,6 mil policiais militares participam a ação de reintegração de posse
Foto: Vladimir Platonow / Agência Brasil
Helicóptero sobrevoa região do terreno da Oi que está sendo desocupado
Foto: Vladimir Platonow / Agência Brasil
Ônibus pegou fogo em uma rua paralela à 2 de Maio, vizinha ao prédio da Oi. A fumaça do incêndio no ônibus entrou em várias quitinetes. Bombeiros resgataram moradores pelo telhado. Alguns chegaram a passar mal
Foto: André Naddeo / Terra
Mateus Gomes, 16 anos (sem camisa), mora com a mãe, a tia e a irmã em uma das quitinetes e conta que desmaiou com a fumaça. Minha janela pegou fogo e fiquei com medo de tudo explodir, porque são muitos bujoes de gás ali, disse. Mas fiquei preocupado mesmo com minha mãe, que está grávida. Na hora foi uma correria danada, relatou.
Foto: André Naddeo / Terra
Famílias retiram seus pertences de dentro de casa
Foto: André Naddeo / Terra
Sem ter para onde ir, moradores que deixaram o terreno empilham suas coisas em frente ao prédio
Foto: André Naddeo / Terra
Moradores escreveram seus nomes nos barracos, delimitando sua área dentro do terreno
Foto: André Naddeo / Terra
Barracos construídos pelas famílias que estavam no local ficaram abandonados
Foto: André Naddeo / Terra
Batalhão de Choque da Polícia Militar ocupa o terreno da Oi na zona norte do Rio após retirar todos os moradores do local
Foto: André Naddeo / Terra
A PM cerceou o trabalho da imprensa ameaçando jornalistas e prendendo um repórter durante desocupação no Rio
Foto: Vladimir Platonow / Agência Brasil
Enquanto policiais passavam, alguns moradores xingavam os agentes
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Policiais Militares fazem ronda sob o olhar de moradores do local
Foto: Mauro Pimentel / Terra
PM exibe armas e faz barreiras na favela do Rato Molhado
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Moradores observam os policiais que ocupam a comunidade, que fica próxima ao terreno da Oi
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Policiais revistaram moradores na favela do Rato Molhado
Foto: Mauro Pimentel / Terra
A comunidade fica ao lado do terreno da Oi, no Engenho Novo
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Polícia ocupa a favela do Rato Molhado após a reintegração de posse do terreno da Oi
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Morador ergue as mãos após ser atingido por bomba de gás atirada pela polícia
Foto: André Naddeo / Terra
Cerca de 1,6 mil homens da Polícia Militar participaram da ação, que começou durante a madrugada
Foto: André Naddeo / Terra
Batalhão de Choque vai as ruas para impedir que novas ocupações aconteçam
Foto: André Naddeo / Terra
Mais de 2 mil pessoas estavam no local, de acordo com a Polícia Militar
Foto: André Naddeo / Terra
Moradora mostra pés e pernas feridos após a ação da polícia na desocupação do prédio da Oi
Foto: André Naddeo / Terra
O prédio, que estava abandonado, foi ocupado e loteado por moradores de diversas comunidades há pouco mais de uma semana
Foto: André Naddeo / Terra
Menino vítima do gás atirado por PMs é carregado por moradores na favela do Rato Molhado
Foto: André Naddeo / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi protestam em frente à sede da prefeitura municipal e pedem acesso à casa própria
Foto: Mauro Pimentel / Terra
Grupo diz que ficará no local até ser recebido pelo prefeito
Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil
Famílias expulsas pela Polícia Militar da invasão de um terreno abandonado da empresa de telefonia Oi acampam em frente à sede da prefeitura municipal em protesto por moradia
Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil
Homens, mulheres e crianças passaram a noite acampados em frente à prefeitura
Foto: Daniel Ramalho / Terra
Moradores querem que a prefeitura do Rio apresente uma solução para as famílias
Foto: Daniel Ramalho / Terra
As famílias dizem não ter para onde ir depois de serem retiradas do prédio que pertence à Oi, na zona norte do Rio
Foto: Daniel Ramalho / Terra
Os moradores passaram a noite no local
Foto: Daniel Ramalho / Terra
As famílias que foram expulsas do terreno da Oi acamparam em frente à prefeitura do Rio
Foto: Daniel Ramalho / Terra
Moradores removidos do prédio da Oi no Engenho Novo, no Rio, seguem acampados em frente à prefeitura do Rio. Os cerca de mil manifestantes chegaram a fechar todo o sentido centro da avenida Presidente Vargas, mas a via já foi liberada
Foto: Ale Silva / Futura Press
Moradores removidos do prédio da Oi no Engenho Novo, no Rio, seguem acampados em frente à prefeitura do Rio. Os cerca de mil manifestantes chegaram a fechar todo o sentido centro da avenida Presidente Vargas, mas a via já foi liberada
Foto: Ale Silva / Futura Press
Moradores removidos do prédio da Oi no Engenho Novo, no Rio, seguem acampados em frente à prefeitura do Rio. Os cerca de mil manifestantes chegaram a fechar todo o sentido centro da avenida Presidente Vargas, mas a via já foi liberada
Foto: Ale Silva / Futura Press
Manifestantes bloquearam a avenida Presidente Vargas e, para liberar a pista, os guardas municipais usaram bombas de gás lacrimogêneo e cassetetes para dispersar a multidão
Foto: Ale Silva / Futura Press
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Prefeito cancela agenda
A assessoria do prefeito Eduardo Paes (PMDB) informou que o político cancelou a sua agenda na parte da manhã e convocou uma reunião interna no gabinete da prefeitura. O prefeito iria participar de uma inauguração de um Centro de Atenção Psicossocial em Bonsucesso, voltado para o atendimento da população do Complexo da Maré, ocupado recentemente por forças de segurança.
Não há informações sobre os participantes da reunião de emergência convocada por Paes.
Ocupação
A grande maioria das pessoas que ocupam o prédio decidiu invadir o imóvel para fugir da alta dos aluguéis, que teria disparado nas comunidades, principalmente depois dos processos de pacificação. "O objetivo de todos é a moradia, porque nós não estamos em nenhum projeto social do governo. Eu precisei sair da minha comunidade, o Jacarezinho, porque o aluguel ficou muito puxado. Eu ganho R$ 700 e pago R$ 400 de aluguel. O resto dá para comer o mínimo", disse o mecânico Adriano Rodrigues de Oliveira, no último dia 8.
Na tarde de terça-feira uma reunião entre a juíza responsável pelo caso, oficiais da Polícia Militar, representantes da Defensoria Pública, da prefeitura e dos moradores da área ocupada foi feita, mas terminou sem acordo.