PUBLICIDADE

Política

Senadores apoiam decisão de Dilma sobre viagem, mas cobram segurança

17 set 2013 - 22h09
(atualizado às 22h21)
Compartilhar
Exibir comentários

A decisão da presidente Dilma Rousseff de adiar a viagem aos Estados Unidos foi apoiada por governistas e oposicionistas no Senado. Os casos de espionagem do governo americano, denunciados no Brasil pelo jornalista Glenn Greenwald, e a falta de explicações sobre eles foram qualificadas como desrespeito à soberania do Brasil.

Os senadores, no entanto, apontaram a falta de investimentos em segurança cibernética como um dos fatores que propiciaram os casos de espionagem. "A não ida é uma afirmativa do Brasil. A posição dela (Dilma) está baseada em informações que não foram prestadas por eles. Por isso, é uma postura em defesa da soberania nacional", disse o senador Walter Pinheiro (PT-BA). "Mas é importante dar outros passos, como em relação à defesa do País, já que a vulnerabilidade do Brasil está além fronteiras", completou.

O oposicionista Randolfe Rodrigues (Psol-AP) disse que o adiamento da viagem "era o mínimo a ser feito", uma vez que o governo americano não apresentou explicações sobre os casos de espionagem que atingiram a própria presidente Dilma e a Petrobras.

Randolfe ressaltou que é preciso mais investimentos no setor de segurança eletrônica e lembrou que o Brasil está vulnerável por falta desses investimentos. "Nós estamos pagando o preço dos erros cometidos na década de 1990, quando leiloamos nosso satélite, quando leiloamos nossas telecomunicações. O preço é a vulnerabilidade", ressaltou.

Para o líder do PSDB, senador Aloysio Nunes Ferreira (SP), a presidente deveria ir aos Estados Unidos para cobrar pessoalmente os esclarecimentos e uma retratação sobre os fatos reportados. "Ela tem toda a nossa solidariedade no repúdio à espionagem dos Estados Unidos e de qualquer outro país. Agora, acho que ela deveria ir para dizer na lata, no Salão Oval (gabinete do presidente dos EUA na Casa Branca), que o Brasil não aceita esse tipo de coisa", disse o líder tucano. Ele também acha que o Brasil "se deixou espionar".

Decisão agrada líderes da base aliada

De acordo com o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), não teria sentido a presidenta visitar os Estados Unidos, que não deram ao governo brasileiro explicações satisfatórias sobre a espionagem a autoridades e empresas nacionais."Eu antevia (essa decisão), porque ela (a presidente Dilma) deixou pública sua contrariedade", disse Chinaglia. 

Segundo o líder, a presidente também deixou claro que Brasil exigia explicações para que o encontro político ocorresse. Na visão de Chinaglia, as respostas dos americanos foram, no máximo, "de amizade", e o adiamento da viagem mostra a insatisfação do governo com a situação.

Para o líder do PT, José Guimarães (CE), ao suspender a viagem, Dilma sinaliza para uma nova relação pública com os Estados Unidos. 'Ninguém deve temer os Estados Unidos. Qualquer grito dos Estados Unidos não pode inibir o governo brasileiro. A presidenta está correta, tem nosso apoio e solidariedade, ela foi uma mestra nessa ação."

Guimarães disse que o telefonema que o presidente Barack Obama deu ontem para a presidente não resolveu o impasse criado com a espionagem eletrônica. "Então, ela suspende a viagem e, enquanto isso, o diálogo prossegue. É isso que faz o governante que tem compromisso com a soberania do Brasil e com o Estado Democrático de Direito", afirmou o deputado.

O líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO), criticou a decisão da presidente de suspender a viagem. Para ele, Dilma deveria ter um comportamento de estadista, e não ideológico. "O Brasil deve exigir reparação e penalização de quem cometeu (atos de) espionagem, mas não cabe à presidenta adotar um comportamento ideológico. O País já conviveu com situações como a da Bolívia, quando (o presidente) Evo Morales saqueou refinarias brasileiras e o governo não tomou qualquer atitude", ressaltou Caiado.

Espionagem americana no Brasil
Matéria do jornal O Globo de 6 de julho denunciou que brasileiros, pessoas em trânsito pelo Brasil e também empresas podem ter sido espionados pela Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (National Security Agency - NSA, na sigla em inglês), que virou alvo de polêmicas após denúncias do ex-técnico da inteligência americana Edward Snowden. A NSA teria utilizado um programa chamado Fairview, em parceria com uma empresa de telefonia americana, que fornece dados de redes de comunicação ao governo do país. Com relações comerciais com empresas de diversos países, a empresa oferece também informações sobre usuários de redes de comunicação de outras nações, ampliando o alcance da espionagem da inteligência do governo dos EUA.

Ainda segundo o jornal, uma das estações de espionagem utilizadas por agentes da NSA, em parceria com a Agência Central de Inteligência (CIA) funcionou em Brasília, pelo menos até 2002. Outros documentos apontam que escritórios da Embaixada do Brasil em Washington e da missão brasileira nas Nações Unidas, em Nova York, teriam sido alvos da agência.

Logo após a denúncia, a diplomacia brasileira cobrou explicações do governo americano. O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, afirmou que o País reagiu com “preocupação” ao caso.

O embaixador dos Estados Unidos, Thomas Shannon negou que o governo americano colete dados em território brasileiro e afirmou também que não houve a cooperação de empresas brasileiras com o serviço secreto americano.

Por conta do caso, o governo brasileiro determinou que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) verifique se empresas de telecomunicações sediadas no País violaram o sigilo de dados e de comunicação telefônica. A Polícia Federal também instaurou inquérito para apurar as informações sobre o caso.

Após as revelações, a ministra responsável pela articulação política do governo, Ideli Salvatti (Relações Institucionais), afirmou que vai pedir urgência na aprovação do marco civil da internet. O projeto tramita no Congresso Nacional desde 2011 e hoje está em apreciação pela Câmara dos Deputados.

Monitoramento
Reportagem veiculada pelo programa Fantástico, da TV Globo, afirma que documentos que fariam parte de uma apresentação interna da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos mostram a presidente Dilma Rousseff e seus assessores como alvos de espionagem.

De acordo com a reportagem, entre os documentos está uma apresentação chamada "filtragem inteligente de dados: estudo de caso México e Brasil". Nela, aparecem o nome da presidente do Brasil e do presidente do México, Enrique Peña Nieto, então candidato à presidência daquele país quando o relatório foi produzido.

O nome de Dilma, de acordo com a reportagem, está, por exemplo, em um desenho que mostraria sua comunicação com assessores. Os nomes deles, no entanto, estão apagados. O documento cita programas que podem rastrear e-mails, acesso a páginas na internet, ligações telefônicas e o IP (código de identificação do computador utilizado), mas não há exemplos de mensagens ou ligações.

Agência Brasil Agência Brasil
Compartilhar
Publicidade
Publicidade