Relator chama 'Careca do INSS' de ladrão, advogado reage e confusão interrompe CPI; veja
Antônio Carlos Camilo Antunes presta depoimento ao colegiado que investiga esquema de descontos indevidos em aposentados; relator, deputado Alfredo Gaspar, afirmou que 'se houvesse pena de morte', o 'Careca do INSS' 'seria um forte candidato'
BRASÍLIA - O vice-presidente da CPI do INSS, Duarte Jr. (PSB-MA), suspendeu, por alguns instantes, a sessão em que Antônio Carlos Camilo Antunes, o "Careca do INSS", presta depoimento nesta quinta-feira, 25, após bate-boca e troca de xingamentos entre parlamentares e o advogado do investigado pela Polícia Federal (PF). A confusão começou após o relator do colegiado, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), acusar o depoente de roubo.
"Está presente aqui o autor do maior roubo aos aposentados e pensionistas da história do Brasil"
O advogado interveio e outros parlamentares começaram a insultá-lo. Após ler um texto inicial, o "Careca do INSS" afirmou que não responderia a perguntas feitas pelo relator. Segundo o lobista, Alfredo Gaspar já o pré-julgou ao chamá-lo de "ladrão" em reunião anterior.
Ao começar o interrogatório, Gaspar reiterou estar diante do responsável pelo "maior roubo de aposentados" do Brasil. A partir daí, o advogado Cleber Lopes se revoltou com a condução dos trabalhos e pediu para se manifestar. O deputado federal Zé Trovão (PL-SC) se levantou, foi até a mesa e colocou o dedo em riste contra o advogado.
Uma confusão foi iniciada e a sessão precisou ser interrompida temporariamente. Lopes chegou a dizer que o depoimento estava encerrado e pediu para que o cliente se levantasse para ir embora.
O presidente do colegiado, senador Carlos Viana (Podemos-MG), que havia sido para votar em outra comissão, retomou o posto e pediu para depoente e advogado se sentarem novamente.
Antes de iniciar seu depoimento na CPI, o "Careca do INSS" pediu aos integrantes da mesa para ser bem tratado e, em contrapartida, se comprometeu em colaborar com os trabalhos. O apelo foi feito a portas fechadas em sala ao lado de onde ocorre o depoimento.
Na fala inicial, afirmou ser vítima de mentiras e negou ter tentado atrapalhar os trabalhos da operação Sem Desconto, que o prendeu. "É preciso afirmar com toda a firmeza que jamais tentei obstruir qualquer investigação."
"Quero deixar claro também que minha esposa nunca teve participação na minha empresa Prospect. À exceção do meu filho mais velho, nenhum dos meus filhos integram ou já integraram o quadro societário da Prospect. Por isso, a intimação deles para esta CPMI não faria sentido."
Após a confusão, o relator, Alfredo Gaspar, continuou a sessão, fazendo perguntas ao lobista, que não respondeu a nenhum questionamento, como já havia adiantado que faria. "Aqui o senhor pode pensar que somos inimigos. Talvez aqui seja a única fronteira que o senhor vai alcançar a sua proteção e a da sua família", afirmou Gaspar.
O deputado fez uma série de perguntas a respeito da relação entre o depoente e figuras envolvidas no esquema investigado pela PF. "O senhor conhece Nelson Wilians desde qual momento? Qual sua relação com Maurício Camisotti? Qual a relação entre Mauricio Camisotti e Nelson Wilians", perguntou o relator.
Também questionou a relação do depoente com o senador Weverton Rocha (PDT-MA). Conforme revelou o Estadão, o administrador de uma das empresas do parlamentar é sócio da firma de contabilidade que prestou serviços ao "Careca do INSS".
Ao encerrar as perguntas, sem respostas do depoente, Gaspar afirmou que "se houvesse pena de morte no Brasil", o "Careca do INSS" "seria um forte candidato", pelos danos a aposentados.
OAB-DF defende advogado após confusão na CPI
A Ordem dos Advogados do Brasil, seccional do Distrito Federal (OAB-DF), saiu em defesa do advogado Cleber Lopes, com críticas ao tratamento dado a ele pela CPI do INSS.
Em ofício enviado ao presidente da comissão, senador Carlos Viana, a entidade pediu "retratação pública das declarações ofensivas à advocacia".
Também requereu a adoção de providências para "assegurar aos advogados, independentemente das circunstâncias, o pleno exercício profissional".
A OAB-DF pediu que o princípio de tumulto com o advogado no início da sessão seja levado à Comissão de Ética da Câmara e do Senado, "pois se entende que houve quebra de decoro por parte de parlamentares e isso deve ser rigorosamente apurado".