Lula exalta volta de Dirceu, defende alianças e diz que tem 'limite de briga' com Trump
Presidente participa neste domingo de encontro nacional do PT, marcado pela posse do novo presidente da sigla. Edinho Silva disse que vai preparar partido para 'pós-Lula'
BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou neste domingo, 3, que tem um "limite" na briga sobre o tarifaço com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e que não pode falar o que "acha que é possível, mas o que é necessário". O chefe do Palácio do Planalto participa do último dia da programação do 17º Encontro Nacional do PT, em Brasília.
"Tenho limite de briga com o governo americano. Não posso falar tudo o que eu acho que posso. Tenho que falar o que é possível, o que é necessário", disse. Para Lula, Trump "extrapolou os limites porque quer acabar com o multilateralismo".
"Eles são um país muito grande, o mais bélico, com mais tecnologia, a maior economia. Tudo isso é muito importante. Mas queremos ser respeitados pelo nosso tamanho. Não somos republiqueta. Tentar colocar assunto político para nos taxar economicamente é inaceitável."
Lula defendeu a união do PT e as alianças necessárias para ter uma base de apoio no Congresso. Em mensagem aos correligionários, o presidente disse que a sigla precisa "reparar erros" para não cometê-los novamente, e lembrou que o partido elegeu menos de 70 dos 513 deputados em 2022. "Se fôssemos bons como pensamos que somos, teríamos eleito 140 ou 150. Mas não é defeito só do PT, é de toda a esquerda", ressaltou.
O presidente ainda fez críticas indiretas ao deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que inicialmente admitiu influência sobre a proposta de tarifaço de Trump e depois modulou o discurso. "O cara que fazia propaganda abraçado na bandeira nacional agora está nos Estados Unidos para defender taxação para dar anistia para o pai dele", citou.
Início da corrida de 2026
O encontro político teve contornos de início da caminhada pela reeleição de Lula, em 2026. A disputa do ano que vem foi citada como "a mais importante das nossas vidas" para "consolidação de um projeto civilizatório".
"Nunca mais vamos permitir que alguém de extrema-direita com cabeça fascista volte a governar esse País", declarou Lula. "Se eles não estão contentes com o que estamos fazendo com três mandatos, se preparem porque pode ter o quarto."
Formalmente, o evento serviu para a posse do novo presidente do partido, o ex-prefeito de Araraquara (SP) Edinho Silva, e para a dos novos presidentes estaduais. Também marcou o retorno do ex-ministro José Dirceu à direção nacional da sigla. Lula disse que essa volta é "extremamente importante".
Para a reunião nacional, o PT adotou as cores verde e amarelo em sua comunicação visual. A estratégia é uma tentativa de retomar a associação com símbolos nacionais que são explorados como marca bolsonarista.
"Vamos resgatar a bandeira nacional para o povo brasileiro. vamos resgatar a camiseta da Seleção Brasileira para o povo brasileiro. Não é possível que fascistas, nazistas, fiquem desfilando com as cores da bandeira, contando mentira e traindo a pátria", discursou Lula.
O PT tem se dedicado a uma estratégia voltada ao aumento da taxação para pessoas com alta renda. A sigla afirma ser uma campanha por "justiça tributária". Nas redes sociais, o mote da estratégia é a "taxação BBB", bilionários, bancos e bets.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, participou do encontro partidário ainda na sexta-feira. Ele disse que as medidas econômicas do governo poupam os mais pobres. "Dessa vez quem vai pagar a conta é o rico no Imposto de Renda e não o pobre no orçamento", afirmou.
Ex-presidente do PT e ministra da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Gleisi Hoffmann, afirmou que a família do ex-presidente Jair Bolsonaro prejudicou o Brasil, com o tarifaço imposto por Donald Trump, para buscar uma anistia e que Lula será reeleito em 2026.
Ela ainda se solidarizou com o ministro Alexandre de Moraes, do STF. "Tem sido fundamental no encaminhamento desse processo (da tentativa de golpe) e não tem abaixado a cabeça", disse.
Presidente do partido durante o processo eleitoral interno, realizado em junho, o senador Humberto Costa (PE) considerou o pleito de 2026 como "a eleição das nossas vidas". "Temos pela frente uma eleição decisiva, a eleição das nossas vidas. Essa, de todas elas, é a mais importante. Poderá garantir a consolidação de um projeto civilizatório para o Brasil", disse.
Enquanto a cúpula do PT se reúne em Brasília, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) fazem atos em defesa dele e contra o Supremo Tribunal Federal (STF) em cidades pelo País.
