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Política

Lava jato: deputado do PP chora e diz que partido acabou

O deputado federal Jerônimo Goergen do PP do Rio Grande do Sul disse que não conhece o doleiro Alberto Yousseff

9 mar 2015 - 17h15
(atualizado às 17h29)
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<p>"Isso machuca a vida da gente. Eu tenho que andar na rua", disse o deputado soluçando</p>
"Isso machuca a vida da gente. Eu tenho que andar na rua", disse o deputado soluçando
Foto: Flavia Bemfica / Terra

O deputado federal Jerônimo Goergen, do PP do Rio Grande do Sul, chorou na manhã desta segunda-feira (9), durante a coletiva de imprensa em que contrapôs a inclusão de seu nome na lista de políticos que serão investigados por suspeita de participação no esquema de corrupção averiguado pela operação Lava-Jato. “Isso machuca a vida da gente. Eu tenho que andar na rua”, disse, soluçando, na metade da conversa de cerca de uma hora com os jornalistas, em seu escritório em Porto Alegre.

Apesar da emoção, o deputado não poupou críticas pesadas contra lideranças do PP, o governo e o sistema político. Suas declarações reforçaram as informações sobre a existência de um ‘racha’ entre dois grupos dominantes dentro do partido e, ainda, um terceiro, menor. Deste terceiro grupo quase todos os integrantes ficaram de fora da lista de investigados. “Não há dúvida de que o PP nacional acabou”, resumiu.

Ele disse ainda que vai disponibilizar suas movimentações financeiras e fiscais e ingressar com uma interpelação judicial contra o doleiro Alberto Yousseff. “Não conheço Alberto Yousseff e vou entrar com uma interpelação judicial contra ele. Ele cita o meu nome em uma delação premiada. Quero saber para quem entregou o dinheiro. Quem recebeu, quando é que me entregou, aonde e quanto. Vou pedir que ele prove, porque, senão, fica muito fácil.” O advogado de Goergen, Gustavo Paim, informou que a interpelação será feita “com a maior brevidade possível”, mas não precisou quando.

O nome de Goergen e de outros cinco políticos do PP gaúcho (quatro deputados federais e um ex-deputado) foram divulgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na noite da última sexta-feira (6), quando a Procuradoria-Geral da República pediu a abertura de inquéritos contra um total de 12 senadores e 22 deputados, além de outras lideranças políticas que estão sem mandato.

A divulgação da lista abriu uma crise sem precedentes no diretório gaúcho do PP, considerado o mais ‘poderoso’ do país. Isso porque ela abrange todos os deputados federais gaúchos do partido da legislatura passada (Goergen, José Otávio Germano, Vilson Covatti, Luiz Carlos Heinze, Afonso Hamm e Renato Molling). O único que não tem mandato atualmente é Covatti, que decidiu não concorrer à reeleição em 2014 para emplacar na vaga o herdeiro, Covatti Filho, e obteve sucesso. O presidente estadual do partido, Celso Bernardi, sugeriu que os parlamentares abram seus sigilos fiscais, bancários e telefônicos. Para definir medidas que minimizem o escândalo, foi convocada uma reunião do diretório para a tarde desta segunda-feira.

Veja as principais declarações de Goergen:

Racha no PP

“Só estou nesta lista porque sou do PP. A cúpula nacional do partido decidiu conduzir assim a forma de fazer política. Quando cheguei à Câmara dos Deputados (em 2011), o grupo dominante já havia escolhido a liderança. Não aceitei ter um líder daqueles que saíram. Éramos 15 novos deputados. Comecei a procurar meus colegas, mas não encontrei eco porque muitos eram filhos deste ou daquele. Mas um grupo de nove parlamentares, aqui do RS éramos eu e o deputado Heinze, lançou a Rebeca Garcia (a ex-deputada, do PP do Amazonas). O partido indicou o Dudu da Fonte (o deputado Eduardo da Fonte, do PP de Pernambuco, também na lista), que hoje é líder do partido. O Negromonte (o ex-ministro das Cidades, Mário Negromonte, do PP da Bahia, também investigado pela Lava-Jato) ia a plenário para forçar os deputados a votarem e perdemos por 76 votos. Queríamos o Marcio Reinaldo (o ex-deputado, do PP de Minas Gerais) para líder da bancada e eles já haviam escolhido o Nelson Meurer (do PP do Paraná, e também na lista de investigados). Depois derrubamos ministro, derrubamos todo mundo. Eu ia sair do partido, estive duas vezes em São Paulo conversando com o Kassab. Aí uns colegas me disseram: junta o teu grupo que vamos trocar o comando do partido. A gente mudou, mas as mudanças não aconteceram.”

Disputas internas

“Até trocar o líder, eu estava muito deslocado. Porque deputados, até gaúchos, diziam para os prefeitos que não adiantava ir ao meu gabinete porque eu não tinha força no ministério, era do outro grupo, não era amigo do Negromonte.”

Governo Federal

“O governo federal, e não é só na Petrobras, você vai ver o BNDES, a Eletrobrás, em qualquer órgão. Esses dias eu comentei de ministérios, a gente ouve relatos de gente que ou pagava propina ou as coisas não andavam dentro deste governo. Temos outros episódios, venda de emendas parlamentares, uma série de coisas. Bom, mas tem prova? Não tenho, mas o comentário existe, tem processos no Conselho de Ética.”

Emendas parlamentares

“As emendas tinham que mudar, mas não vão, porque isso é um financiamento público indireto. Tudo o que estamos vivendo começou com as emendas. Cada deputado tem R$ 16 milhões por ano, que antes só eram pagos se você fosse amigo do governo. No final do ano passado votei contra a mudança da meta fiscal e perdi R$ 6 milhões de emendas. É claro que eu vou mandar emenda. Eu mando, porque é o sistema. Quando cheguei a Brasília, o primeiro prefeito que foi no gabinete não queria saber se eu era situação ou oposição. Ele queria uma audiência com o ministro para liberar emenda”.

Congresso

“Depois que você se entrega para o governo, que consegue os cargos, tem outro processo em Brasília. A força dos líderes é excessiva. Eles decidem pelas bancadas. Tem coisas que você vota sem votar. Tem projetos que decidem nas comissões e não no plenário. Tem uma condição de massa de manobra enorme. Você vira líder se tem estrutura para fazer o jantar, dar o carinho, marcar audiência com o ministro. E por isso gente que não é líder vira líder.”

Especulações de que um dos deputados gaúchos operava o recebimento de mesadas, mas não as distribuía aos colegas

“Se ele fez, eu não sei. Mas a minha relação, há muito tempo, é muito ruim com este parlamentar. Não posso responder por meus colegas porque não conheço os envolvimentos deles todos.”

PP gaúcho

“No RS, onde temos um partido sério, com líderes fortes no interior, temos que rever a posição. O partido já não tinha antes perspectiva nenhuma de poder. Ano passado, depois de 32 anos, achamos que retomaríamos o poder com a Ana Amélia (a senadora Ana Amélia Lemos disputou a eleição para o governo do RS e chegou a aparecer como favorita, mas, após a divulgação de que havia ocupado um cargo em comissão no gabinete do falecido marido, senador na década de 80, viu a candidatura naufragar). Só que tivemos uma perda para nós mesmos. Não foram os outros que nos ganharam. Foram erros de estratégia, e perdemos. Em que momento agora teremos condições de chegar a algum lugar? Ainda mais se algum de nós, deputados, tiver eventualmente alguma culpa. Não me preocupo com o futuro de ficar ou sair do partido. Me preocupo é com o meu futuro”

Colegas de bancada

Nesta legislatura tentei ser o vice-presidente da Câmara e fui chamado para uma conversa na qual o Nelson Meurer me disse: “Tu não tem como ser, porque tu não vai nos defender.” E eu tive que retirar a candidatura. Ora, defender do quê? O primeiro-vice é quem dá a admissibilidade dos processos de cassação. Eu ouvi deles isso. Depois seria presidente da Comissão de Desenvolvimento Urbano e também não fui. E aí apareço nessa lista.

Fonte: Terra
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