Jornal: Cachoeira pagava contas de secretários de Marconi Perillo
Interceptações telefônicas da Polícia Federal sugerem que o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, pagava contas de secretários do governador de Goiás Marconi Perillo (PSDB), usando, para isso, a construtora Delta. No dia 27 de abril do ano passado, irritado com dificuldades para emplacar indicações no governo Perillo, Cachoeira fala com Wladimir Garcez, apontado como braço político do esquema, e critica Wilder Morais (DEM-GO), ex-secretário de infraestrutura do governo e suplente de Demóstenes Torres no Senado. "Eu não consigo pôr no Detran, o Wilder foi lá e emplacou. O Wilder não dá um centavo para ninguém. Imagina só: o Wilder vai lá para o Palácio, consegue convencer o Marconi a colocar o cara e você tá lá todo dia e não fala nada. Você tá com o secretariado todo dia, todo dia você traz conta pra mim, levo pro Cláudio, e não consegue emplacar ninguém. Entendeu?", reclama Cachoeira, fazendo referência a Cláudio Abreu, da Delta. As informações são do jornal O Globo.
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Em outra ligação, no mesmo dia, o bicheiro deixa claro mais uma vez que paga contas de secretários. "Ô Wladimir, eu tô fazendo a coisa. Esquece esse negócio de viagem meu. Eu tô puto, porque vai enchendo o saco, vai caindo a gota, sabe, aí um bobão tá lá no trem. O Edivaldo (Cardoso, presidente do Detran de Goiás) fala que não tem isso, não tem aquilo, que acabou com a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), que não sei o que tem, que não vai fazer isso, não vai fazer aquilo, e o cara tá lá. Tá sendo empossado na nossa cara rapaz. E nós aqui, ó. Você todo dia traz uma conta diferente pra mim. Todos os dias. Um cargo que a gente tinha, todo dia, esse bosta desse cara, esse malandro desse (Jayme) Rincón (presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras), todo dia você tá com ele, rapaz, nós tínhamos uma diretoria forte. Não temos mais nada. Não temos uma pessoa nossa lá ", falou Cachoeira. Com as novas informações, membros da CPI do Cachoeira já defendem a reconvocação de Perillo para falar sobre o assunto.
Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram diversos contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), então líder do DEM no Senado. Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais, confirmou amizade com o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento nos negócios ilegais de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar contra Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda.
Com o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que culminou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram envolvimento com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos.
Demóstenes passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na história do Senado.