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Política

Cinco pontos que marcaram os discursos de posse de Bolsonaro

Novo presidente falou perante o Congresso e na rampa do Planalto, em seus primeiros pronunciamentos oficiais no cargo; discursou sobre 'valorização da família', 'combate a viés ideológico', segurança pública e economia.

1 jan 2019 - 19h34
(atualizado em 2/1/2019 às 07h28)
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O 38º presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, assumiu o governo neste 1º de janeiro, em cerimônias no Congresso, para o juramento constitucional e a assinatura do termo de posse, e no Palácio do Planalto, onde recebeu a faixa presidencial de Michel Temer.

Em ambos os locais, Bolsonaro discursou. No Congresso, falou a parlamentares e convidados estrangeiros para delinear as prioridades de seu governo. Na rampa do Planalto, ele fez seu primeiro pronunciamento à nação já oficialmente como presidente, discursando perante os apoiadores que foram a Brasília acompanhar a posse.

Bolsonaro manteve o tom de campanha e a defesa da pauta conservadora, além de abordar economia, crise econômica, segurança pública e relações exteriores.

A seguir, a "BBC News Brasil" destaca os principais pontos das falas do novo mandatário, com observações de três analistas políticos entrevistados pela reportagem.

Michelle Bolsonaro fez discurso na Língua Brasileira de Sinais
Michelle Bolsonaro fez discurso na Língua Brasileira de Sinais
Foto: Sergio Moraes / Reuters

'Valorizar famílias e respeitar religiões'

"Vamos unir o povo, valorizar a família, respeitar as religiões e nossa tradição judaico-cristã, combater a ideologia de gênero, conservando nossos valores. O Brasil voltará a ser um país livre das amarras ideológicas", afirmou Bolsonaro em seu discurso de posse no Congresso, reforçando valores conservadores que foram centrais para a sua eleição.

Esses mesmos temas foram repetidos com mais ênfase mais tarde, no discurso perante a população no Planalto.

"Não podemos deixar que ideologias nefastas destruam valores e famílias. (...) Temos o desafio de enfrentar os efeitos da crise econômica, do desemprego recorde, da ideologização de nossas crianças, da desvirtualização dos direitos humanos, da desconstrução da família."

"O discurso trouxe pílulas do que foi mais marcante na campanha de Bolsonaro e foi coerente com ela", opina o analista político Rafael Cortez, da consultoria Tendências, em referência à pauta conservadora de valores familiares. "É, também, um discurso de pouco apelo à pluralidade ou ao diálogo entre as instituições, com menções apenas a uma maioria (da população) de perfil definido."

Foto: Adriano Machado / Reuters

'Segurança das pessoas'

No discurso à nação, no Planalto, o momento em que Bolsonaro foi mais aplaudido foi quando falou de segurança pública - outro ponto crucial de sua campanha eleitoral.

"É urgente acabar com a ideologia que defende bandidos e criminaliza policiais, que levou o Brasil a viver um aumento nos índices de violência e no poder do crime organizado, que tira vidas de inocentes, destrói famílias e leva insegurança. Nossa preocupação será com a segurança das pessoas de bem, da garantia do direito de propriedade e da legítima defesa. Nosso compromisso é valorizar o trabalho das forças de segurança", afirmou o presidente.

Mais cedo, no Congresso, ele dissera que contava com o "apoio" dos parlamentares para "dar o respaldo jurídico para os policiais realizarem o seu trabalho".

Para Cortez, segurança pública "é o tema em que Bolsonaro mais mobilizou as pessoas na campanha e conseguiu criar uma narrativa de que poderia fazer diferente".

"As referências à posse de armas sinalizam que esse deve ser um dos primeiros temas alvos de medidas presidenciais" em flexibilização do porte de armas, diz o analista.

Foto: Sérgio Moraes / Reuters

'Combater o socialismo'

"Este é o dia em que o povo começou a se libertar do socialismo", afirmou Bolsonaro, em uma entre diversas menções a "combate a viés ideológico" e a "ideologias nefastas".

"A construção de uma nação mais justa e desenvolvida requer a ruptura com práticas que se mostram nefastas para todos nós, maculando a classe política e atrasando o progresso. A irresponsabilidade nos conduziu à maior crise ética, moral e econômica de nossa história", disse.

"Reafirmo meu compromisso de construir uma sociedade sem discriminação ou divisão. Daqui em diante, nos pautaremos pela vontade soberana daqueles brasileiros: que querem boas escolas, capazes de preparar seus filhos para o mercado de trabalho e não para a militância política; que sonham com a liberdade de ir e vir, sem serem vitimados pelo crime; que desejam conquistar, pelo mérito, bons empregos e sustentar com dignidade suas famílias; que exigem saúde, educação, infraestrutura e saneamento básico, em respeito aos direitos e garantias fundamentais da nossa Constituição."

Geraldo Tadeu Monteiro, professor e pesquisador da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), aponta que, diferentemente de outros presidentes antes dele, "Bolsonaro não procurou moderar o discurso de campanha após eleito. Deu declarações de que vai perseguir de forma militante a agenda de campanha. (...) Ficou claro que, pelo menos no começo, não será um governo de acomodações de diferentes setores, ainda que ele tenha feito também uma fala de defesa ao princípio democrático."

Para o brasilianista Brian Winter, editor-chefe da publicação Americas Quarterly, o discurso de Bolsonaro marca "uma grande diferença em relação a qualquer outro discurso (de seus antecessores), com menção a termos como 'judaico-cristã', 'guerra ao socialismo' e 'ideologia de gênero'."

"Mas ele falou também em humildade, e fontes próximas a ele dizem que ele tem escutado pessoas, inclusive as que têm opiniões divergentes da dele. Ao mesmo tempo, as pesquisas mostram que apenas uma pequena porcentagem do eleitorado se opõe a ele no momento (segundo o Datafolha mais recente, 65% dos brasileiros acham que o governo será ótimo ou bom; 12% acham que será ruim ou péssima). Politicamente falando, ele provavelmente não precisa falar com esse público, embora devesse, como chefe de Estado. Mas é assim que a política funciona."

Foto: Gabriela Biló / Estadão Conteúdo

'Romper com antigas práticas' e 'reformas estruturantes'

Menções à crise econômica, ao desemprego e à corrupção também marcaram as falas do novo presidente.

"Convoco cada um dos Congressistas para me ajudarem na missão de restaurar e de reerguer nossa pátria, libertando-a, definitivamente, do jugo da corrupção, da criminalidade, da irresponsabilidade econômica e da submissão ideológica", disse Bolsonaro na abertura de seu discurso de posse no Congresso.

As falas defenderam o livre-comércio, a propriedade privada, a meritocracia e de "tirar peso do governo sobre quem trabalha".

"Montamos nossa equipe de forma técnica, sem o tradicional viés político que tornou o Estado ineficiente e corrupto. (...) Na economia traremos a marca da confiança, do interesse nacional, do livre mercado e da eficiência. Confiança no cumprimento de que o governo não gastará mais do que arrecada e na garantia de que as regras, os contratos e as propriedades serão respeitados."

"Realizaremos reformas estruturantes, que serão essenciais para a saúde financeira e sustentabilidade das contas públicas, transformando o cenário econômico e abrindo novas oportunidades.Precisamos criar um círculo virtuoso para a economia que traga a confiança necessária para permitir abrir nossos mercados para o comércio internacional, estimulando a competição, a produtividade e a eficácia, sem o viés ideológico."

Foto: Ricardo Moraes / Reuters

'Brasil ocupar o lugar que merece'

Nas relações internacionais, Bolsonaro disse querer "fazer o Brasil ocupar o lugar que merece no mundo".

Segundo ele, o objetivo é "tirar o viés ideológico das relações internacionais, que atendem interesses partidários que não o dos brasileiros".

A política externa retomará o seu papel na defesa da soberania, na construção da grandeza e no fomento ao desenvolvimento do Brasil.

Até agora, isso se traduziu em uma aproximação com países como Israel - o premiê Benjamin Netanyahu compareceu à posse e fez uma visita oficial ao país - e Estados Unidos.

Mais além do simbolismo, porém, "nem pessoas próximas ao governo de Donald Trump sabem exatamente o que esperar e quais políticas serão implementadas", afirma o brasilianista Winter. "Se será na área de comércio? Não se sabe se o Brasil embarcará em uma negociação significativa (para aumentar as trocas comerciais) com os EUA ou qual será a grande diferença (em relação a Temer)."

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