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Política

Brasil investigará cumplicidade oficial na saída de senador da Bolívia

25 ago 2013 - 15h07
(atualizado às 16h23)
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O Brasil admitiu neste domingo que podem existir irregularidades na chegada a Brasília do senador boliviano Roger Pinto, que segundo o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Ricardo Ferraço (PMDB-ES), contou com cumplicidade oficial brasileira para driblar as autoridades de La Paz e fugir de seu país.

Roger Pinto chegou em Brasília hoje e, segundo Ferraço, para sair da embaixada em La Paz, onde estava há mais de um ano, teve a sua disposição um carro oficial e uma escolta de fuzileiros navais.

A chancelaria brasileira divulgou um comunicado no qual disse que foi "informada" hoje da chegada de Pinto ao país.

A nota afirmou que o Ministério das Relações Exteriores irá averiguar as "circunstâncias" da saída do senador da embaixada e de sua chegada ao Brasil, apesar do político não ter obtido um salvo-conduto do governo boliviano.

O ministério "está reunindo elementos acerca das circunstâncias" em que Roger Pinto chegou ao país e além disso chamou para consultas o encarregado de negócios em La Paz, Eduardo Saboia, para que preste "esclarecimentos" sobre o fato, explicou o comunicado.

A nota acrescentou que será aberta uma "investigação" e serão tomadas as "medidas administrativas e disciplinares" correspondentes, o que sugere que houve alguma irregularidade na saída do senador, que estava na embaixada brasileira desde 28 de maio de 2012.

O governo brasileiro concedeu asilo político a Roger Pinto dez dias depois desta data. O senador, contudo, não podia deixar a embaixada pois o governo de Evo Morales se negava a lhe conceder o salvo-conduto necessário.

Segundo as autoridades bolivianas, Roger Pinto responde a vários processos por corrupção na justiça e inclusive já foi condenado a um ano de prisão em um dos casos.

Quando Roger Pinto chegou hoje em Brasília, foi recebido pelo senador Ferraço, que não deixou dúvidas sobre a cumplicidade oficial neste caso.

Ferraço disse que Roger Pinto saiu da embaixada em um carro oficial, com uma escolta de fuzileiros navais, e que foi levado por terra até Corumbá, no Mato Grosso do Sul.

Nesta cidade foi "recebido" por agentes da Polícia Federal e partiu para a Brasília em um avião privado enviado por Ferraço. O presidente da Comissão de Relações Exteriores negou que Pinto seja um "foragido" da justiça, como classifica o governo de La Paz.

"Ele está acolhido pelo Brasil como perseguido político. Era perseguido por denunciar o narcotráfico", disse Ferraço, que considera a negativa do governo de Evo Morales de conceder o salvo-conduto uma "atitude própria de uma ditadura arbitrária".

O senador do PMDB também afirmou que Pinto tinha passado "455 dias na embaixada em condições absolutamente restritivas" e que, na sua opinião, "não resta dúvida que se está diante de um perseguido político, pela ausência de democracia na Bolívia".

Segundo disseram à Agência Efe fontes parlamentares, Roger Pinto foi hospedado por Ferraço em sua própria residência e planeja conceder uma entrevista coletiva nos próximos dias.

No entanto, o boliviano "medirá muito bem" suas palavras, pois "sabe que, como asilado", não pode fazer nenhum tipo de declaração política, caso contrário pode perder o status concedido pelo Brasil.

Apesar do governo da Bolívia ter pedido "explicações" sobre o caso, ter classificado a saída do senador como "fuga" e ter advertido que poderia apelar para a Interpol para capturar Roger Pinto, a ministra de Comunicação do país, Amanda Dávila, assegurou que este incidente não prejudicará as relações bilaterais.

"Este caso não afeta as relações com o Brasil", que seguem "em uma situação de absoluta cordialidade e respeito", disse hoje a ministra.

Amanda Dávila afirmou ainda que "governo boliviano e o presidente Evo Morales expressaram sempre, e seguirão demonstrando, todo seu afeto e respeito pela presidente Rousseff e o governo brasileiro".

EFE   
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