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Política

Bolsonaro diz que Forças Armadas afirmam ser impossível dar "selo de credibilidade" às urnas

Presidente afirma que, segundo ouviu dos militares, ainda persistem "vulnerabilidades" nas urnas eletrônicas; Ministério da Defesa não comenta declaração

25 out 2022 - 21h56
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BRASÍLIA - A cinco dias do segundo turno, o presidente Jair Bolsonaro, candidato do PL à ­­reeleição, afirmou que as Forças Armadas consideram "impossível dar um selo de credibilidade" ao sistema de votação. Em entrevista veiculada nesta terça-feira, dia 25, Bolsonaro disse que, segundo ouviu dos militares, ainda persistem "vulnerabilidades" nas urnas eletrônicas. O Ministério da Defesa não se manifestou.

"Temos eleições pela frente. O que nos traz certa confiança é que as Forças Armadas foram convidadas a integrar uma Comissão de Transparência Eleitoral e elas têm feito um papel atuante e muito bom nesse sentido", declarou Bolsonaro ao comentarista conservador norte-americano Ben Shapiro. "Contudo, eles me dizem que é impossível dar um selo de credibilidade, tendo em vista ainda as muitas vulnerabilidades que o sistema apresenta", completou.

Questionado sobre as declarações de Bolsonaro, o Ministério da Defesa não quis se pronunciar. Oficiais diretamente envolvidos nos trabalhos reiteraram que somente enviarão o relatório conclusivo ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) assim que a fiscalização for encerrada.

Em resposta a uma demanda judicial ordenada pelo presidente do TSE, Alexandre de Moraes, os militares disseram que encaminharão os documentos à Corte somente após o segundo turno, marcado para o próximo domingo, 30. Eles se comprometeram com o prazo de 30 dias depois que a fiscalização for concluída. O roteiro das Forças Armadas prevê que a última fase de trabalho possa se estender até janeiro de 2023.

Na mesma comunicação por ofício ao TSE, o Ministério da Defesa negou ter entregado qualquer relatório de fiscalização a candidatos. O Estadão apurou com oficiais a par das conversas, no entanto, que o presidente já recebeu informações sobre o andamento da fiscalização, de maneira informal, como ele próprio indicou nas declarações ao podcast de Ben Shapiro.

No último dia 10, por exemplo, Bolsonaro visitou a sede da pasta pessoalmente, a convite do ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira. Na ocasião, ouviu dados sobre a fiscalização e a operação de suporte dos comandos militares à Justiça Eleitoral. Um dia depois, convocou aliados e eleitores a permanecer nas seções eleitorais, no dia 30, até a apuração do resultado da disputa que trava com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "Todos nós desconfiamos, como pode aquele cara (Lula) ter tantos votos se o povo não está ao lado mesmo", disse Bolsonaro, na ocasião.

Tanto o Ministério da Defesa quanto o presidente tomaram a decisão política de silenciar sobre os achados da fiscalização até o momento. Integrantes do governo afirmam que nada foi encontrado. O vice-presidente Hamilton Mourão, general de Exército da reserva, disse ao Estadão que, se algum problema sério tivesse sido detectado, as Forças Armadas teriam alertado. "Que eu saiba, não teve nada", declarou.

Um general da ativa com assento no Alto Comando afirmou, sob condição de anonimato, que teve acesso às informações e que nenhuma irregularidade foi encontrada na fiscalização da Defesa. Segundo esse general, o sistema se mostrou "­­muito consistente". O presidente do TSE, Alexandre de Moraes, afirmou que os testes exigidos pelos generais mostraram a lisura do pleito.

Os comandantes das Forças Armadas não se pronunciaram até o momento. Integrantes da Defesa dizem que o relatório sobre seu trabalho será técnico e não avançará a ponto de questionar ou referendar a confiabilidade das urnas. O conteúdo do documento deve indicar apenas os apontamentos da equipe de fiscalização. Questionado sobre fraudes na noite do primeiro turno, Bolsonaro afirmou que aguardaria um "parecer" de Paulo Sergio, a quem delegou o assunto.

Auditoria

Nas últimas semanas de campanha, sempre que questionado se teve acesso ao conteúdo do trabalho dos militares, Bolsonaro desconversou. Passou a dizer que as Forças Armadas não haviam feito auditoria e que não dava palpite sobre as urnas eletrônicas. Depois, afirmou que o sistema de votação do País, admirado mundialmente, é "ultrapassado" e "antigo".

Integrantes do comitê de campanha dizem que a retórica de fraude nas urnas, jamais comprovada, deveria ter sido deixada de lado pelo presidente. Militares envolvidos na inédita tarefa de fiscalização eleitoral, vista por generais como uma imposição do Palácio do Planalto, costumam dizer que nenhum sistema informatizado é 100% blindado, existindo a necessidade de constantes atualizações de segurança. Bolsonaro costuma repetir esse conceito de outra forma, afirmando que "a chance de fraude nas eleições é quase zero, mas não é zero".

Na entrevista, o presidente relatou que sua campanha de descrédito sobre o sistema de urnas eletrônicas, a favor da adoção do voto impresso, ganhou adesão popular. Apesar de o Congresso ter rejeitado a proposta no ano passado, Bolsonaro continuou dizendo que pode ter havido fraude em eleições passadas, mas nunca apresentou provas. Além disso, ele promoveu uma ofensiva no País e no exterior, dando declarações a embaixadores com base em informações distorcidas e já desmentidas.

"Eu questiono as eleições há muito tempo. O nosso sistema eleitoral não é o mesmo em nenhum País do mundo que tenha uma economia razoável", disse Bolsonaro no podcast. "Esse questionamento vem num crescente, com mais gente também duvidando. E nós lutamos há muito tempo por um modelo transparente eleitoral. Não tivemos força para isso."

Estadão
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