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Política

Bolsonaro aumenta em 12x limite de munições da população

Nova portaria publicada nesta quinta-feira possibilita a compra de até 6 mil munições por ano

23 abr 2020 - 15h34
(atualizado às 15h42)
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BRASÍLIA - O governo do presidente Jair Bolsonaro aumentou nesta quinta-feira, 23, pela segunda vez em 2020, a quantidade de munições de armas de fogo a que cada pessoa pode ter acesso. Desde quando Bolsonaro assumiu a Presidência, este limite cresceu 12 vezes, segundo cálculos do Instituto Sou Da Paz, passando de 50 para 600 munições por arma, por ano, para cada civil.

A nova portaria é assinada pelos ministros Sérgio Moro, da Justiça, e Fernando Azevedo e Silva, da Defesa. Segundo as contas do Sou da Paz, com a modificação, o número de projéteis comprados por uma pessoa, no ano, pode ultrapassar 6 mil - levando em conta que cada um pode comprar mais de uma arma e de calibres diferentes.

"Houve essa modificação em janeiro, que passou para 200 munições nenhuma justificativa. E, agora, menos de quatro meses depois, uma nova alteração sempre para aumentar essas quantidades", diz Bruno Langeani, um dos coordenadores do instituto.

O decreto foi publicado uma semana após Bolsonaro mandar suspender portarias do Exército que, na visão de especialistas, dificultavam a aquisição pelo crime organizado de munições desviadas de quartéis. "O que mais assusta é que a gente acabou de ver o presidente revogando medidas que facilitariam marcação e rastreamento de desvios. Se o presidente quer seguir aumentando o número de armas e munições, seria esperado pelo menos que houvesse uma contrapartida em termos de controle. O que não está acontecendo", completa Langeani.

Antes de Bolsonaro chegar ao governo, o número de munições adquiridas por ano era de 50, por arma, para civil. Passou para 200 em janeiro de 2019 e agora para 600.

Presidente da República Jair Bolsonaro usa arma durante viagem oficial a Israel
Presidente da República Jair Bolsonaro usa arma durante viagem oficial a Israel
Foto: Reprodução/Instagram Jair Bolsonaro / Estadão Conteúdo

O decreto publicado hoje autoriza civis a adquirir ou portar até 300 unidades de munição esportiva calibre .22; até 200 unidades de munição de caça e esportiva nos calibres 12, 16, 20, 24, 28, 32, 36 e 9.1mm; e até 50 unidades das demais munições de calibre permitido.

Como noticiou o jornal O Estado de S. Paulo na semana passada, o Exército vem sendo pressionado pelo Ministério Público Federal (MPF) a deixar mais rígidas as regras de rastreamento de armas e munições. Há quase dois anos, setores do setor de logística da Força, em parceria com o Ministério da Justiça, montaram um comitê para discutir o aperfeiçoamento do sistema.

Para o coordenador do Sou Da Paz, o governo tem ido na contramão do que recomenda o MPF, ao afrouxar as normas, beneficiando dessa forma setores corruptos de forças policiais e, consequentemente, o crime organizado.

"E o que mais assusta é que, num momento em que todos os países estão concentrados numa resposta à pandemia, você tenha esses agentes públicos, ministro da Justiça e da Defesa, preocupados em aumentar o número de munições em circulação num país que é campeão em mortes por armas de fogo. Lembrando que o o presidente aumentou em quatro vezes a potência de armas que as pessoas podem ter em casa", alerta.

O Instituto Sou da Paz, um dos mais respeitados do País na área de combate à violência, divulgou uma nota pública de repúdio. Disse que a portaria de hoje vai "facilitar de forma irresponsável e descontrolada a compra de munições por cidadãos.

O instituto avalia que, em um país com aproximadamente 50 mil mortes cometidas com armas de fogo por ano e que atravessa uma pandemia que já tirou a vida de quase 3 mil brasileiros, a medida é um ato completamente descolado da realidade, das evidências científicas e também das prioridades da maioria da população que se posiciona contrária à ampliação do acesso a armas. O Governo Federal deveria neste momento concentrar todos os seus esforços na luta contra a pandemia do coronavírus e não agradar a indústria de munições e grupos minoritários que advogam pelo total descontrole da política de armas", diz.

Procurados, os ministérios da Defesa e da Justiça não se manifestaram até a publicação da notícia.

Estadão
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