'Acredito muito nas urnas. Agora mais ainda', afirma produtora cultural que participou de testes no TSE
Professora universitária e especialista em direitos humanos participou dos ataques controlados no Teste Público de Segurança
Durante uma semana inteira, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) abriu o coração tecnológico da urna eletrônica para investigadores, especialistas e pesquisadores no Teste Público de Segurança (TPS) 2025. Entre os participantes estava Ro Marques, produtora cultural, professora universitária e especialista em direitos humanos, que integrou um dos grupos responsáveis por aplicar ataques controlados aos sistemas.
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A experiência da professora universitária começou com a composição do grupo: três integrantes, dois técnicos de TI e ela, que define sua participação como uma ponte entre o processo técnico e a sociedade. “Vim auxiliar-los e também para ajudar a passar essa informação para a sociedade, porque a gente não fica sabendo como é que funciona esse processo de estar aqui”, afirmou.
Os trabalhos envolveram desde a leitura completa do código-fonte até a execução de ataques simulados nos softwares liberados pelo TSE — que incluem o Gerenciador de Dados, sistemas de carga e votação, interface da urna, módulos de apuração, kit JE-Connect e os firmwares das urnas dos modelos 2020 e 2022. Entre cinco planos de ataque aprovados para execução, o grupo de Rosangela aplicou quatro.
A cada tentativa, o comportamento da urna deixava evidente o nível de proteção embutido no sistema. “Não é tão fácil, assim, você chegar e espetar qualquer pendrive lá na urna e sair roubando dados. Não é bem assim”, contou. “Ela trava, ela dá o erro, ela mostra o código que a gente vai buscar para saber o que significa.”
Complexidade desconhecida pelo público
Rosangela admite que chegou ao TPS com muitas dúvidas — especialmente sobre o funcionamento interno da urna. “Primeiro, de como funcionava a urna, a programação dela, memórias, enfim, o que era ela internamente”, relatou. A percepção mudou já nos primeiros ciclos de teste: “Já vi que é um negócio muito complexo”.
Para ela, uma das maiores lacunas está na comunicação com o público.Ao participar do teste, observou etapas de validação, fiscalização, treinamento e protocolos rígidos para qualquer manipulação física ou digital do equipamento.
“Não é bem assim, galera”, disse, ao comentar a crença de que seria simples retirar uma urna, manipular arquivos ou inserir dados. “O negócio é bem seguro mesmo.”
Confiança reforçada
O TPS — que gera um relatório parcial no dia 18 de dezembro e um relatório final consolidado com todas as vulnerabilidades e sugestões — permite que grupos avaliem e comparem diferentes versões de código, verificando se eventuais ajustes foram incorporados corretamente. Pesquisadores da USP, por meio do Larc/Poli, acompanham tecnicamente todas as etapas.
Para Rosangela, participar do ciclo reforçou a confiança no sistema eleitoral brasileiro. “Eu acredito muito nas urnas. Agora mais ainda”, afirmou.
A vivência, disse ela, vai além da dimensão acadêmica: “Está sendo muito enriquecedor, não só para o meu currículo, mas também de vivência, de experiência, dessa troca de conhecimento”.
Ao final dos dias de teste, a especialista em direitos humanos saiu com a convicção de que o processo é transparente e operado com rigor técnico. “Eu garanto para vocês que é bem seguro.”