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Multa a mulher que urinava em local público se transforma em debate sobre sexismo na Holanda

Geerte Piening, 23, foi flagrada por policiais tarde da noite, quando comércio estava fechado e banheiro público mais próximo ficava a alguns quilômetros de distância; juiz disse que ela deveria ter usado urinóis masculinos.

20 set 2017 - 07h07
(atualizado às 10h35)
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Urinol masculino em Amsterdã
Urinol masculino em Amsterdã
Foto: BBC News Brasil

O caso de uma mulher holandesa que recebeu uma multa de €90 (cerca de R$ 340) por urinar na calçada no centro de Amsterdã acabou se transformando em um debate sobre sexismo no país.

A capital holandesa, de pouco mais de 800 mil habitantes, oferece 35 urinóis públicos para homens, comparado a apenas três banheiros para mulheres.

Geerte Piening, 23, foi pega urinando em 2015, após passar a noite bebendo na badalada praça de Leidseplein, no centro. Já era tarde, o comércio estava fechado e o banheiro público mais próximo ficava a alguns quilômetros de distância. Foi então que ela decidiu procurar uma rua tranquila. Os amigos ficaram vigiando para alertar Piening caso alguém aparecesse enquanto ela urinava.

Mas ela foi pega no flagra por três policiais. "Na época, eu realmente não queria me envolver em uma discussão", contou. "Mas no dia seguinte eu pensei: 'Espera aí... Eu vou lutar contra isso'", disse. O juiz do caso, um homem, disse a Piening que ela deveria ter usado um dos urinóis masculinos, em vez de urinar em público - ato punido com multa no país.

Usando essa palavra como hashtag, algumas mulheres zombaram da sugestão do juiz e compartilharam fotos delas mesmas demonstrando as óbvias dificuldades relacionadas a usar um urinol masculino.

Diferentemente dos homens, as mulheres não têm como usar as estruturas metálicas dos urinóis de forma discreta.

O juiz também comparou a contravenção de Piening a jogar lixo na rua em vez de usar a lixeira, o que estimulou uma pessoa a destacar que cascas de banana e embalagens de chocolate podem ser guardadas no bolso e depois jogadas em qualquer lixeira de "gênero neutro".

'Grande questão feminina'

Piening insistiu que teve de usar a calçada como último recurso e alegou que a provisão de banheiros públicos para mulheres em outras capitais europeias era muito melhor.

"Não é embaraçoso para uma cidade turística como Amsterdã que mulheres não tenham onde ir (para urinar)?", questionou ela em entrevista ao jornal AD .

"Não era minha intenção que essa questão se tornasse uma grande questão feminista. Por outro lado, é positivo que esse problema seja discutido", afirmou.

O juiz reconheceu que existem menos banheiros para mulheres, mas disse que a prefeitura não é obrigada a disponibilizá-los. Além disso, mulheres são menos propensas a usar banheiro público, ele acrescentou, dizendo que o caso de Piening era raro.

"Você é a segunda mulher que eu vejo na Corte em um caso sobre esse assunto", teria dito o juiz.

Placa indicando urinol masculino.
Placa indicando urinol masculino.
Foto: BBC News Brasil

A prefeitura de Amsterdã disse que nunca existiu na cidade uma política pública direcionada a banheiros públicos. "Tem mais toaletes para homens, porque é assim que sempre foi", disse à BBC Peter Ekker, porta-voz do prefeito.

"Obviamente deveria ser igualitário e todos concordam que poderia ter sido feito melhor. Mas quais são os custos? Há espaço para isso? Vale à pena?", completou.

Mas esse pode não ser o fim da história.

Um grupo de Facebook foi criado para encorajar mulheres a se juntarem a um protesto na próxima sexta-feira para testar a proposta de usar urinóis masculinos.

Mais de 5.000 pessoas expressaram interesse em comparecer ao evento.

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