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'Ele deu belas lições de vida': alunos fazem corredor de aplausos para se despedir de professor e vídeo viraliza

27 abr 2017 - 21h00
(atualizado às 21h09)
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Foi uma homenagem que acabou correndo o mundo, a recebida pelo professor francês de educação física Alain Donnat ao se aposentar, após 39 anos de profissão.

No seu último dia de trabalho, os 700 alunos do colégio fizeram uma longa fila de honra e gritaram seu nome sob intensos aplausos.

As imagens da cena - filmadas e divulgadas por sua esposa, Muriel, em sua página no Facebook - já foram vistas mais de 25 milhões de vezes, segundo ela, incluindo os compartilhamentos e inúmeros sites em todo o mundo que também publicaram o vídeo.

"Estava prestes a deixar o colégio pela última vez. Saí do escritório e vi os alunos formando um corredor de honra. Não sabia o que fazer. No início, andei rápido para acabar logo porque as emoções eram muito fortes", contou à BBC Brasil o professor, 68 anos, especializado em atletismo e futebol.

"Foi um momento mágico, inesquecível. Sou uma pessoa pudica e fiquei um pouco constrangido, mas precisava continuar avançando para estar à altura do que as crianças estavam fazendo."

Professor Alain Donnat se despede dos alunos em escola na Borgonha
Professor Alain Donnat se despede dos alunos em escola na Borgonha
Foto: Muriel Donnat / BBC News Brasil

No vídeo da despedida, Donnat aparece com lágrimas nos olhos enquanto percorre em silêncio o caminho até a porta do prédio.

"Cruzei olhares de crianças que choravam. Também fiquei com lágrimas nos olhos. Quando cheguei ao final, queria agradecer com palavras, mas não conseguia falar", completa Donnat.

Ele ainda se sente profundamente tocado pela surpresa feita em dezembro pelos alunos e funcionários do colégio Paul Fort, em Is-sur-Tille, um vilarejo de cerca de quatro mil habitantes a 25 quilômetros de Dijon, na Borgonha.

Ele lecionou nesse colégio 37 anos dos seus 39 de carreira. Seus alunos foram campeões e vice-campeões do torneio juvenil de atletismo por equipes da França no ano passado.

"Sempre tentei fazer o máximo para todos. Não sou um gênio nem fiz milagres, mas sempre quis fazer o melhor, ressalta o professor de educação física.

Para Alain Donnat é preciso trabalhar 'a partir do que o aluno sabe fazer', pois assim ele terá 'confiança para avançar'
Para Alain Donnat é preciso trabalhar 'a partir do que o aluno sabe fazer', pois assim ele terá 'confiança para avançar'
Foto: Muriel Donnat / BBC News Brasil

Donnat acredita que a reação dos alunos é ao fato de ele sempre dter dado atenção a todos, independentemente dos resultados

"Meu objetivo sempre foi que todos progridam, suscitando o entusiasmo. Quis obter coisas positivas em vez de me concentrar no que era negativo. A partir do que um aluno sabe fazer, ele terá confiança para avançar e se ultrapassar", ressalta.

Um ex-aluno diz, na página do Facebook da mulher do professor, que "ele faz parte desses raros professores que sublimam a juventude. Além de ensinar sua disciplina, ele me deu belas lições de vida."

A homenagem emblemática recebida por ele é algo bem incomum na França, país onde os professores se sentem ainda menos valorizados do que no Brasil, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Apenas 4,9% dos professores franceses acreditam que sua profissão é valorizada pela sociedade. No Brasil, esse índice é de 12,6%. A média mundial é de 31% e também pode ser considerada baixa.

Os dados fazem parte do último estudo "Talis" da OCDE, de 2014, realizado com mais de 100 mil professores em 34 países.

E além da percepção de baixa valorização de sua profissão, muitos professores ainda tem de lidar com a violência de alunos e pais.

Homenagem foi organizada pelos cerca de 700 alunos da escola na Borgonha
Homenagem foi organizada pelos cerca de 700 alunos da escola na Borgonha
Foto: Muriel Donnat / BBC News Brasil

Casos de professores esfaqueados, agredidos ou mesmo espancados em plena sala de aula ganharam destaques nos jornais em anos recentes.

A homenagem a Donnat contrasta com essa realidade no país.

Ele se aposentou oficialmente, mas continuará treinando, por prazer e sem salário, equipes de seu colégio até junho.

Reportagem de Daniela Fernandes, de Paris para a BBC Brasil

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