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Roubos a bancos no Brasil têm queda desde 2012

O mesmo ocorre em relação aos ataques a caixas eletrônicos; mas as ações criminosas pontuais e sofisticadas assustam a população

31 ago 2021 - 05h10
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Os roubos a instituições financeiras mantêm tendência de queda no País desde 2012, apesar de aumentos pontuais em 2015 e 2020. Há nove anos, cinco bancos eram assaltados por dia no País. No ano passado, a média foi de 1,4 roubo a cada 24 horas. Os dados são do Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

Um levantamento feito pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) mostra que o número de roubos em caixas eletrônicos também vem caindo há pelo menos sete anos no Brasil. Segundo a instituição, houve 150 ataques a esses equipamentos no primeiro semestre deste ano. No mesmo período do ano passado, foram 255.

Apesar da redução, ataques pontuais e sofisticados assustam principalmente a população de cidades no interior. Foi o que aconteceu na madrugada desta segunda-feira. Este foi o primeiro roubo a banco registrado na cidade de Araçatuba desde 2009. Até julho deste ano, 10 instituições bancárias foram assaltadas em todo o Estado, de acordo com a SSP. No mesmo período do ano passado foram 15. O número é muito menor que o anotado no início da década. Em 2011, 153 bancos foram roubados nos sete primeiros meses do ano.

Jânia Perla Diógenes de Aquino, antropóloga e professora da Universidade Federal do Ceará, diz que o investimento feito pelos bancos na segurança das agências dificultou muito esse tipo de crime. Nos anos 1990 e 2000, os assaltos eram muito mais simples, com uso de arma de brinquedo ou no formato de sequestros. Hoje, o treinamento de seguranças e a implementação de cofres que só abrem em horários determinados impedem essa forma de crime.

O que se viu, portanto, foi uma sofisticação na forma de roubar os bancos. No ataque realizado em Araçatuba, por exemplo, os criminosos espalharam explosivos pela cidade. "Foi um crime planejado", diz Jânia. Outra característica do roubo desta segunda apontada pela pesquisadora é o uso de reféns no capô dos veículos. Essa é uma técnica, segundo ela, para evitar tiros que poderiam vir de prédios ou de helicópteros.

Amarrados em carros, reféns foram feitos de 'escudo humano' para impedir ataques da polícia contra os criminosos.  
Amarrados em carros, reféns foram feitos de 'escudo humano' para impedir ataques da polícia contra os criminosos.
Foto: Reprodução/Twitter / Estadão

Renato Sérgio de Lima, sociólogo e presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, diz que esse tipo de crime é incomum em Araçatuba. A cidade abriga uma penitenciária e, por isso, tem instituições policiais mais fortes, dificultando as ações criminosas. O especialista diz que o assalto acende um alerta para as instituições pelo momento em que ocorreu, próximo de manifestações marcadas para o dia 7 de setembro e na época em que o projeto antiterrorismo foi resgatado na Câmara. Ele fala que o episódio ajuda a contrapor a polícia e o governo, aumenta a sensação de pânico e cria desordem. "O ambiente está muito explosivo. Pode ser tudo uma grande coincidência, mas casos como esse, que fogem à regra, precisam ser investigados", diz.

Para evitar que esse tipo de crime se repita, Lima cobra mais eficiência dos serviços de inteligência. "Se esse serviço estivesse atuante, teria previsto a ação." O sociólogo fala que o clima de ruptura institucional acaba afetando os profissionais da linha de frente. As polícias ficam com medo de criar problema e acabam não cooperando entre si, o que atrapalha muito o trabalho de inteligência.

Uma forma de antecipar ataques assim é investir em apreensões de armamentos que, segundo ele, estão em queda. Um dos motivos para a diminuição das apreensões, diz, é o apoio institucional ao acesso facilitado a esses equipamentos. "Quando você desestrutura o sistema que existe para fiscalizar o porte de arma, fragiliza o combate à arma ilegal."

Lima diz que só o trabalho da polícia vai poder apontar quem está por trás do assalto em Araçatuba. Para ele, pode ter sido obra tanto da facção Primeiro Comando da Capital (PCC) quanto de algum rival que esteja querendo aproveitar o enfraquecimento do grupo para ganhar espaço na região. Em nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) disse que mantém 380 policiais na busca pelos criminosos. Uma equipe do Grupo de Ações Tática Especiais está em operação no município para o desmantelamento de 16 explosivos em pontos diferentes.

Polícia Federal

A ocorrência, segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP), será registrada e investigada pela Polícia Federal.

A secretaria destacou, porém, a prisão de 46 pessoas que estariam envolvidas em roubos a banco no Estado, aumento de 142% em relação ao ano anterior, segundo as autoridades de segurança. O órgão também disse que os casos de roubos a banco em Ourinhos e Botucatu foram esclarecidos e parte das quadrilhas está presa.

Estadão
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