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Octavio Café fecha as portas no Itaim

Direção fala em 'crise sem precedentes' para encerrar as atividades do badalado 'café gourmet' criado em 2007 pela família Quércia

11 jul 2020 - 05h11
(atualizado às 11h23)
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O formato do imóvel lembra o de um grão de café. E mesmo para os não adeptos, ele sempre foi considerado um achado arquitetônico, um respiro, um ponto deslocado na paisagem da Avenida Faria Lima, no Itaim-Bibi, na zona sul da cidade. Em 2007, quando foi inaugurado, dizia-se que ali estava "a maior cafeteria da America Latina". Mas, nesta semana, no meio da pandemia da covid-19, o Octávio Café anunciou o fechamento do seu famoso endereço.

"A crise sem precedentes que se instaurou no Brasil e o cenário incerto para o retorno da normalidade foram fatores determinantes para a decisão de fechamento dos espaços", explicou o diretor de operações Bruno Azevedo.

O Octávio Café ocupava um terreno de 1.600 metros quadrados. O projeto arquitetônico foi premiado e recebeu uma série de menções em concursos em Nova York, Tóquio e outras cidades. Foi assinado pelo famoso escritório Seragini Farné Guardado Design, do italiano Alfredo Farné, 67 anos. "Me dói muito. É uma criação que vai desaparecer. Uma pena", disse Farné ao tomar conhecimento da notícia.

A rede Octávio Café é de propriedade da família Quércia, do ex-governador de São Paulo Orestes Quércia (1938-2010) - e o nome da rede é uma homenagem ao pai do ex-governador, que se chamava Octávio. O local era abastecido por seis fazendas cafeeiras da família Quércia, localizadas em Pedregulho, não muito longe de Campinas, no interior de São Paulo.

"Quando o Quércia chamou o escritório", recorda Farné, "o projeto original era levantar um prédio no lugar". "A cafeteria seria instalada no térreo do edifício. Não queria lucrar com a cafeteria, apenas divulgar a marca da família. Ele pretendia que fosse uma coisa icônica, um templo do café. Daí, eu disse que um templo não poderia ficar embaixo de um prédio."

Segundo Farné, Quércia demorou apenas cinco minutos para se decidir pela cafeteria e não por um prédio. "Tinha uma ideia de templo mesmo. Você entrava no lugar e era levado a olhar para o alto. A mesma coisa que acontece quando entramos em uma igreja antiga e erguemos o olhar para admirar os vitrais", completou.

O comunicado publicado nas redes sociais da cafeteria, anunciando o fim das operações, causou uma reação imediata dos clientes. "Nossa! Sentirei saudade. Tomei muito café na Faria Lima. Às vezes, passava minhas tardes trabalhando ali", escreveu Ronaldo Murakami no seu Facebook. "Sinto muitíssimo. Foram momentos maravilhosos vividos na Faria Lima. Negócios, risos e encontros com amigos", recordou Rodrigo Karpat em post no Instagram.

Café gourmet

O Octávio Café foi um dos precursores em café gourmet na cidade de São Paulo. Artistas, políticos, celebridades e muitos dos chamados "faria limers" estavam entre seus frequentadores. Nessa lista não faltavam celebridades. A própria direção do Octávio lembra de nomes como o do ex-governador Geraldo Alckmin e dos ex-jogadores Raí e Marcelinho Carioca na turma de seus clientes habituais.

"O café está ligado à história de São Paulo", diz Alckmin. "Sou um apreciador de café. E o Octávio Café era campeão em qualidade. Além do mais, o café traz uma oportunidade de conversa, de afeto... O ser humano precisa desse contato. O Octávio era um lugar em que tudo isso acontecia."

Agora, com o espaço fechado, bike boys e entregadores de delivery já começaram a usar a área junto à fachada do imóvel como estacionamento e ponto de descanso. Pedestres que passam pelo local ainda são pegos de surpresa com o encerramento das atividades. De acordo com Azevedo, o grupo Solpanamby "está estudando novas oportunidades para utilização do espaço". E não será surpresa se, em breve, um outro edifício bem no estilo Faria Lima for erguido naquele local.

Além da icônica unidade da Faria Lima, o grupo SolPanamby - responsável pelas operações - também encerrou as atividades no Shopping Cidade Jardim (a loja do Shopping Eldorado já havia sido fechada em dezembro do ano passado). Assim, continuam abertas, agora, apenas duas unidades - as do Aeroporto de Viracopos, em Campinas.

Sobre o futuro, Azevedo lembrou que essas lojas de Viracopos continuarão em operação. "Todos os nossos produtos (grãos moídos e cápsulas) poderão ser encontrados nas lojas de Viracopos, em supermercados, restaurantes e e-commerce." Ele anunciou ainda que o grupo vai iniciar, em breve, "uma operação de delivery e assim os produtos da cafeteria estarão disponíveis também".

A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) estima que ao menos 25% das empresas do setor devem fechar suas portas por conta da pandemia do novo coronavírus.

Estadão
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