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Prefeita ataca empresa por envio de água a afetados por lama

17 nov 2015 - 12h06
(atualizado às 12h42)
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Foto: Eliseu Damasceno / Futura Press

"A responsável por esse desastre é a Samarco", diz Elisa Costa (PT-MG), prefeita de Governador Valadares, em seu gabinete no centro da cidade. Segundo ela, a mineradora controlada pela Vale e pela BHP não tem enviado água suficiente para a população, conforme determinado pelo plano de emergencial do município, apresentado no último dia 10.

Todo o abastecimento da cidade depende do rio Doce, cujas águas, há mais de uma semana, deram lugar a uma lama espessa, com consistência que varia do leitoso ao argiloso. A enorme onda de resíduos químicos, vinda de barragens da Samarco em Mariana (MG), fez com que Valadares precisasse cortar a distribuição hídrica de 280 mil pessoas.

Procurada, a empresa disse que "o abastecimento de água no município de Governador Valadares (MG) será restabelecido em breve” – mas não informou quando isso ocorrerá.

Para minimizar prejuízos, postos de distribuição de água engarrafada foram espalhados pela cidade. Escoltados pelo Exército, moradores formam filas com mais de mil pessoas, que esperam até duas horas para conseguir sua cota individual – cinco litros per capita.

"Hoje nós temos 19 postos de distribuição (de água). Nós tínhamos previsto 30. Não chegamos a tantos porque não tem água", diz Costa. "Essa água que a empresa tem que trazer é para suprir as necessidades de nossa população”, afirma. “É preciso dar vida à cidade de Valadares, e em seguida dar vida ao rio."

A Samarco não respondeu aos questionamentos da reportagem sobre as críticas da prefeita. Em nota, a mineradora informou que "já encaminhou aos pontos de distribuição 8,436 milhões de litros de água potável e 500,5 mil litros de água mineral à população do município".

Foto: Eliseu Damasceno / Futura Press

Fila

O clima em Governador Valadares, no interior de Minas Gerais, é quente e seco. Não venta e nossas camisas estão molhadas de suor. É sob este tempo abafado que pelo menos mil pessoas se enfileiram, na ladeira de um bairro pobre, em busca de água potável – suas torneiras estão secas há uma semana.

Na fila que sobe o morro a perder de vista, os idosos são quem mais sofre. Apoiados em postes ou sentados sobre garrafões, eles aguardam como podem para conseguir sua cota de água limpa, em garrafões que pesam cinco quilos.

A BBC Brasil acompanhou a distribuição de água e conversou com senhoras e senhores de 62 a 76 anos – eles relatam dificuldades para se manter em pé, com problemas que vão de dor na coluna a câncer.

"Estou na fila há mais ou menos duas horas. É cansativo, muito, para mim que tenho idade e problema de coluna. Vim mesmo porque necessito da água", disse Maria da Conceição Pereira, de 67 anos, sentada sobre garrafões.

"Está errado, porque os idosos têm preferência, é o direito deles", afirmou Josias Fernandes Carvalho, de 76 anos. À sua frente estava a aposentada Meriel: "A gente precisa, não está aqui porque quer, não. Não tem água".

A prefeita do município, que no início dos anos 2000 trabalhou na elaboração do Bolsa Família, em Brasília, pede calma aos moradores.

"Nós temos uma dor muito grande de não ter conseguido fazer chegar água para todos ainda", afirma Costa. "Mesmo com o tratamento e com o reinício da distribuição, nas partes mais longínquas e altas ainda vai demorar três dias."

Foto: Eliseu Damasceno / Futura Press

Reabastecimento

Desde segunda-feira, o abastecimento de água em Valadares volta gradativamente. Segundo a prefeitura, em bairros como o visitado pela BBC Brasil, o reabastecimento deve acontecer "no mais tardar até sexta (20)".

Um laudo apresentado pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA), responsável pelo abastecimento de água e saneamento de 634 municípios, afirma que a água, após tratamento de decantação de sedimentos, é potável.

O tratamento foi anunciado pelo governador do Estado, Fernando Pimentel (PT-MG). A tecnologia usa um elemento natural chamado polímero de acácia negra, que possibilita, segundo o governo, "branquear a água, abaixar sua turbidez e deixá-la própria para o consumo humano".

O fornecimento de acácia negra é custeado pela Samarco.

"Neste primeiro momento esclarece-se que, devido ao percurso da água por tubulações e caixas d'água, o recurso poderá chegar turvo nas casas dos moradores", disse a empresa à BBC Brasil.

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