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Miliciano do Rio menciona conversa com filho de Crivella, que nega conhecer suspeito

Diálogos obtidos pela Polícia Civil mostram suspeitos usando o nome do prefeito do Rio na tentativa de impedir a demolição de prédios irregulares

17 jul 2019 - 22h15
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RIO - Escutas telefônicas obtidas pela Operação Muzema, da Polícia Civil, revelam uma conversa de um gerente da milícia na comunidade da zona oeste do Rio. No diálogo, o suspeito afirma estar tentando falar com o prefeito Marcelo Crivella (PRB) e também um suposto diálogo com seu filho Marcelo Hodge Crivella, para impedir a demolição dos imóveis irregulares construídos na região. O político e o filho negam conhecer os suspeitos.

A operação que prendeu 14 pessoas na última terça-feira, 16, revelou um negócio milionário da milícia na região, envolvendo construções irregulares de prédios, salas comerciais, lojas e até um shopping center. Em quatro anos, o negócio teria movimentado pelo menos R$ 25 milhões, segundo o Ministério Público do Rio. Em abril passado, dois prédios irregulares desabaram, matando 24 pessoas.

Os diálogos em que os nomes do prefeito e de seu filho são citados são de dezembro, mesma época em que a prefeitura havia interditado várias construções irregulares na Muzema e tentava viabilizar sua demolição.

O nome do prefeito aparece em três diálogos distintos. No primeiro deles, de 2 de dezembro, Manoel de Brito Batista, o Cabelo, um dos gerentes da milícia, conversa com Abraão Fontenele Amorim, acusado de ser um dos sócios dos empreendimentos ilegais.

"Cheguei até o filho do Crivella, só não cheguei até ele", diz Cabelo. "E o filho dele falou que não tem como segurar não, que é o Ministério Público. O cara me levou até o filho dele."

Três dias depois, Cabelo conversa com outra pessoa."Eles vieram com uma equipe 'monstra' pra quebrar. Quando cheguei, eu apresentei a liminar, aí eles foram embora. Só que a liminar só vale dez dias. Eles falaram que depois de dez dias, quando acabar a liminar, vão quebrar", explica Cabelo, preocupado com uma iminente demolição dos imóveis, lembrando que um deles já estaria alugado para uma igreja universal.

"Eu amanhã estarei no Rio, se Deus quiser", responde o cantor. "Depois do meio-dia, estarei às suas ordens, até para dar uma chegada na prefeitura. Preciso falar com o Crivella de uma maneira mais objetiva. Porque eu fiz campanha pra ele, entendeu? Temos uma relação de amizade de 20 anos, entendeu? Então às vezes ele consegue interceder."

O nome do prefeito também aparece numa outra conversa interceptada, dessa vez entre Leonardo Borges e Fábio Castro, sócios das construções ilegais. Castro diz que Bruno Pupe Cancella, que foi preso nesta quarta, 17, e é apontado como um dos principais responsáveis pelos empreendimentos, teria se encontrado com Crivella.

"Consegui me liberar agora aqui. Te mandei umas mensagens que recebi do Bruno, lá da prefeitura", afirma. "Teve lá com o próprio Crivella." Bruno é casado com Letícia Cancella, servidora municipal que também foi denunciada como participante da milícia.

"O fato de essas pessoas (terem sido mencionadas nas conversas) não configura crime por si só, tanto que não foram arroladas no rol de denunciados", explicou o subcoordenador do Grupo de Atuação Especializada em Meio Ambiente (Gaema) do MP, Plínio Vinícius D'Ávila de Araújo.

Marcelo Crivella informou, por meio de sua assessoria, que desde que assumiu a Prefeitura vem lutando para derrubar as construções ilegais e que não pretende recuar "nem um milímetro" dessa decisão. O prefeito informou também que não conhece as pessoas citadas nos diálogos e nunca recebeu nenhuma delas.

O filho de Crivella, por sua vez, também afirmou que "desautoriza o uso de seu nome nas negociações" e que nunca recebeu nenhum pedido no sentido de preservar os prédios.

Estadão
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