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'Cidade fechada': ONGs ficam fora de encontro dos Brics na Rússia

9 jul 2015 - 19h11
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Além de autoridades e empresários, as duas cúpulas anteriores dos Brics reuniram também um outro grupo bem diferente nas suas cidades-sede: o das organizações sem fins lucrativos e outros membros da sociedade civil, que realizavam uma cúpula "paralela".

Nesta cúpula dos Brics, cidade-sede reuniu apenas líderes e empresários dos países-membros
Nesta cúpula dos Brics, cidade-sede reuniu apenas líderes e empresários dos países-membros
Foto: Reuters

Mas, desta vez, na longínqua Ufá, a 1 mil quilômetros da capital russa, Moscou, não houve ONGs, protestos ou críticas.

Apesar do forte esquema de segurança – a reportagem passou por ao menos cinco postos de checagem para chegar a um restaurante onde jantavam os líderes dos Brics -, as ruas estava vazias. Isso não significa que não tenha havido um evento da sociedade civil.

O governo da Rússia incorporou pela primeira vez a reunião das ONGs à programação do evento. Mas resolveu realizar o Civic Brics, como o evento é chamado, em Moscou e uma semana antes da reunião dos líderes destes países.

A incorporação da cúpula paralela era uma reivindicação antiga da sociedade civil. Mas diversas ONGs que participaram dos encontros anteriores não gostaram de como a medida foi implementada. Os convites para participar foram feitos pelo próprio governo russo.

"Foi na contramão do que a gente pedia. Queríamos um processo aberto e amplo. Não é prerrogativa de governo decidir quem faz parte ou não da sociedade civil", disse Janine de Carvalho, da Rede Brasileira Pela Integração dos Povos (Reprip), instituição que foi uma das organizadoras da cúpula paralela em Fortaleza, em 2014.

"Se é para ter este evento, ele tem de ser construído de baixo para cima."

Cidade fechada

Entre as organizações, muitas pessoas diziam que a cidade de Ufá não estaria aberta.

"O processo do fórum civil dos Brics foi totalmente antidemocrático, e Ufá era uma cidade fechada durante o evento", disse o russo Boris Kagarlitiski, coordenador do Instituto de Globalização e Movimentos Sociais.

Ele temia que houvessem checagens de segurança nos aeroportos e na estação de trem da cidade. Além disso, lembrou que membros da sociedade civil não teriam onde se hospedar, porque parte dos hotéis locais foi destinada para os participantes da cúpula, que só puderam fazer a reserva após comprovar que participariam do evento.

"A organização selecionou quem eles queriam na reunião. Ironicamente, não necessariamente por lealdade política. Eles escolheram pessoas que conheciam, amigos", afirma.

A escolha dos participantes não influencia a elaboração do documento final da cúpula, segundo um dos brasileiros que integrou a comitiva brasileira.

Discussão ativa

Rodrigo Reis, diretor do Instituto Global Atittude, disse que, mesmo com o convite feito pelo governo russo, houve discussão ativa sobre o documento final.

Segundo ele, algumas propostas feitas inicialmente pelos russos foram mudadas por pressão dos representantes brasileiros e indianos.

"Se existe uma parcela que afirma que as organizações foram escolhidas tendenciosamente pelo governo russo, o evento me mostrou que os que estavam ali presentes não aceitaram as recomendações sem o debate necessário, muitas vezes bloqueando completamente ou parcialmente inúmeras passagens do texto", diz.

Para a ONG brasileira Conectas, não foi apenas nesta reunião que houve problemas sobre a participação da sociedade civil. Segundo a organização, devido ao regime político de alguns integrantes dos Brics, a sociedade civil acaba sendo pouco mobilizada.

"Existe muita dificuldade de mobilizar a sociedade de cada país. No Brasil, África do Sul e Índia, é mais fácil. Já na Rússia e na China, é mais difícil", disse Caio Borges, advogado da Conectas Direitos Humanos.

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