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Brasileiro precisa gastar mais 66,7% para alimentar família

Pesquisa do IBGE mostra que, mesmo antes da crise causada pela pandemia, os brasileiros tinham orçamento insuficiente para alimentação

19 ago 2021 - 10h10
(atualizado às 10h44)
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comida, cesta básica, alimentos
comida, cesta básica, alimentos
Foto: iStock

Mesmo antes da pandemia, da disparada da inflação de alimentos e da deterioração do mercado de trabalho, os brasileiros já consideravam que não tinham orçamento suficiente para alimentação. Os chefes de família calcularam que precisariam gastar 66,7% a mais com comidas e bebidas para alimentar adequadamente todos os moradores de casa.

A despesa média foi de R$ 209,12 por pessoa da família a cada mês, mas seriam necessários R$ 348,60 para atender às necessidades alimentares, apontam os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017-2018: Perfil das despesas no Brasil (Alimentação, Transporte, Lazer e Inclusão Financeira), divulgada nesta quinta-feira, 19, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

"Hoje uma família vai ao supermercado e compra o que dá, o que a renda dela permite, mas não era isso o que ela gostaria", diz Isabel Martins, técnica do IBGE. "O que eu tenho (em dinheiro disponível) eu compro e eu como, mas não é o que eu gostaria de ter. O que eu gostaria de ter é um pouco mais."

Os dados da pesquisa, referentes a 2017 e 2018, consideram o valor de tudo o que foi consumido como alimentação pelas famílias, incluindo o que não foi adquirido com recursos financeiros, como alimentos recebidos por doações e obtidos através de produção própria.

A situação é mais grave entre as pessoas que vivem em situação de insegurança alimentar, aquelas que convivem com a incerteza quanto ao acesso de comida no futuro ou que já apresentam redução de quantidade ou qualidade dos alimentos consumidos. Nesse grupo, a despesa mensal com alimentos por pessoa é de R$ 153,49, o equivalente a cerca de R$ 5,10 por dia. No entanto, essas famílias consideram que o ideal para garantir uma alimentação adequada seria R$ 271,94 por pessoa a cada mês, ou seja 77,2% mais.

Nos lares afetados por insegurança alimentar considerada grave, ou seja, em situação de fome, o gasto médio per capita é de apenas R$ 134,00 por mês, pouco mais da metade da despesa média por pessoa de R$ 247,76 registrada pelas famílias que não têm problema de acesso a alimentos e vivem em situação de segurança alimentar.

Entretanto, mesmo esses brasileiros que têm o conforto de não correr o risco de entrar no mapa da fome avaliam que precisariam de mais dinheiro para uma alimentação mais satisfatória para a família. Eles calculam que o ideal seria poder despender 62,2% mais com alimentação, o equivalente a R$ 401,83 por mês por pessoa.

De acordo com o IBGE, quatro em cada dez brasileiros, 41% da população, conviviam com algum grau de restrição para acesso a uma alimentação em quantidade e variedade desejadas no período da pesquisa. Nesse grupo em situação de insegurança alimentar, 70% dos chefes de família eram negros. Entre as famílias que passavam fome, aproximadamente 75% tinham como referência do lar pessoas pretas ou pardas.

Dificuldade para pagar despesas mensais

Em todo o País, 72,4% dos brasileiros viviam em famílias com alguma dificuldade para pagar suas despesas mensais, aponta a pesquisa do IBGE.

Considerando toda a população, 14,1% enfrentavam muita dificuldade para passar o mês com a renda disponível, sendo que mais de dois terços das famílias nessa condição eram chefiadas por negros.

No universo dos que tinham dificuldade de pagar as contas, o equivalente a 58,3% da população brasileira, a proporção de famílias chefiadas por negros nessa condição era aproximadamente 50% maior que a de brancos.

Os negros também eram maioria entre os desbancarizados. No período de referência da pesquisa, 16,7% dos brasileiros não tinham acesso a serviços financeiros, sendo mais de dois terços deles integrantes de famílias com pessoas de referência pretas ou pardas.

No Brasil, 83,3% da população pertenciam a famílias em que algum integrante tinha acesso aos principais serviços financeiros. O serviço bancário mais acessado foi a conta corrente, que alcançava mesmo que indiretamente 66,2% da população, através de algum integrante da família. O segundo serviço mais popular foi a caderneta de poupança, acessada por 55,9% das pessoas, seguida por cartão de crédito (49,9%) e cheque especial (19,5%).

A despesa mensal por pessoa no País com os serviços financeiros selecionados na pesquisa foi de R$ 124,79. Os pagamentos de empréstimos, parcelamento de imóvel, automóvel e moto mobilizavam até 76,5% (R$ 95,51) dessas despesas.

Pouco menos da metade da população (46,2%), 95,6 milhões de pessoas, pertenciam a famílias que atrasaram o pagamento de ao menos uma conta mensal fixa por dificuldade financeira. A inadimplência mais mencionada foi nas contas de água, eletricidade ou gás: 37,5% das pessoas viviam em domicílios com pagamento em atraso em ao menos uma dessas contas. Outros 26,6% atrasaram prestações de bens e serviços, enquanto 7,8% relataram inadimplência em aluguel ou prestação do imóvel.

Desigualdade no transporte coletivo

A pesquisa do IBGE mostra ainda que as famílias chefiadas por negros são responsáveis por quase 60% dos gastos dos brasileiros com transporte coletivo. Por outro lado, os lares chefiados por brancos concentram quase 60% da despesa com transporte particular, táxi e aplicativos.

No Brasil, o gasto per capita das famílias brasileiras com transportes foi de R$ 85,44, sendo 71,2% a participação do transporte particular, táxi e aplicativos; 20,6% dos transportes coletivo; e 8,3% dos alternativos e outros.

Nas famílias com pessoa de referência preta ou parda, a contribuição para despesa per capita do País com o transporte coletivo foi de R$ 10,30, ante uma participação de R$ 7,01 das famílias chefiadas por pessoa branca. No transporte particular, táxi e aplicativos, as famílias chefiadas por brancos contribuíram mensalmente com R$ 35,22 por pessoa para esse tipo de despesa, enquanto os negros contribuíram com R$ 24,39.

A Região Sudeste concentra praticamente metade (49%) do gasto per capita familiar com transportes. Por faixa de renda, os 40% mais pobres foram responsáveis por 17,1% dos gastos com transportes no País, enquanto que os 10% dos mais ricos concentraram 27% dos desembolsos.

A despesa média per capita da população com lazer e viagens a lazer foi de R$ 53,93. As famílias com pessoa de referência branca contribuíram com R$ 34,41 para esse valor, quase o dobro da contribuição das famílias com pessoa de referência preta ou parda, que foi de R$ 18,35.

Entre os 10% brasileiros mais ricos, 54% viviam em famílias que avaliaram seu padrão de lazer como bom, contra 14% que consideraram ruim. No extremo oposto, entre os 40% mais pobres, 29% viviam em famílias que consideraram bom seu padrão de lazer, enquanto 42% avaliaram como ruim.

Estadão
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