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Austrália: policiais que mataram brasileiro devem ser inocentados

19 out 2012 - 11h59
(atualizado às 21h48)
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Liz Lacerda
Direto de Sydney

Os policiais envolvidos na morte de Roberto Laudisio Curti saíram mais tranquilos do tribunal na Austrália, nesta sexta-feira. Dos 11 que participaram da ação policial, cinco ainda podem sofrer punições disciplinares, mas nenhum deve responder criminalmente pelas ações que acabaram com a vida do estudante brasileiro de 21 anos, no dia 18 de março deste ano. Mary Jerram, a magistrada responsável pela condução do inquérito, vai apresentar oficialmente suas conclusões no dia 14 de novembro. No entanto, é improvável que o caso seja encaminhado à promotoria criminal. Como a causa da morte de Laudisio permanece indeterminada, não há como responsabilizar nenhum dos policiais por um crime em um processo judicial.

Nas últimas duas semanas, 25 testemunhas foram ouvidas no inquérito instaurado exatamente com o objetivo de esclarecer a morte do brasileiro. Durante a abordagem policial, Laudisio foi algemado, recebeu 14 disparos de armas de choque e duas latas e meia de spray de pimenta. Os policiais seguraram seus braços e pernas, que também foram contidas com um cacetete. O sargento Gregory Cooper chegou a se deitar em cima do estudante para mantê-lo no chão, o que pode ter provocado asfixia. Laudisio morreu em dez minutos. Cooper foi promovido a inspetor depois do incidente.

Um painel de médicos e especialistas não conseguiu determinar as causas do falecimento. "Uma complexa combinação de todos esses fatores contribuiu para a morte. Eu sou incapaz de apresentar qualquer conclusão sobre uma razão específica", admitiu o assistente Jeremy Gormly. Já o advogado da família, Peter Hamill, solicitou o registro oficial de que a morte do brasileiro aconteceu "sob custódia da polícia do Estado de New South Wales". Hamill também insiste na abertura de um processo criminal. "Se o uso excessivo da força não é punido, não há razão para a existência de normas e manuais de conduta", afirmou.

Gormly criticou as comunicações da polícia pelo rádio, que anunciaram um "assalto a mão armada" na loja de conveniências, já que Laudisio não portava nada. O assistente também pediu a revisão das normas de conduta e dos manuais de treinamento da polícia. O assistente sugeriu, ainda, a punição dos policiais Eric Lim, Scott Edmondson e Daniel Barling, que fizeram disparos com armas de choque; Damien Ralph, que aplicou o spray de pimenta; e o inspetor Cooper, que era o policial mais experiente do grupo. Barling, que disparou o taser cinco vezes, foi o único a pedir desculpas à família.

Em nota, o Cônsul-Adjunto do Brasil em Sydney, André Costa, que acompanhou todo o inquérito, declarou: "Não houve nenhuma explicação plausível para o excesso de força policial e toda a brutalidade empregada contra o Roberto. Após duas semanas de evidências e testemunhos no inquérito, não pode haver dúvidas de que o estudante brasileiro foi morto pelos agentes policiais do Estado de New South Wales em uma ação bárbara, desastrosa e cruel." Costa vai elaborar um relatório para o governo brasileiro, que ainda deve se manifestar sobre o caso. A família estuda a possibilidade de recorrer a outros tribunais, inclusive internacionais.

Brasileiro morto em Sydney levou 14 choques da polícia:
Fonte: Especial para Terra
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