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'Bolsonaro responderá na Justiça pela leviandade', diz Dilma

Em Dallas, presidente disse que 'quem até há pouco ocupava o governo, teve em sua história suas mãos manchadas de sangue na luta armada, matando inclusive um capitão'

16 mai 2019 - 22h31
(atualizado às 22h41)
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Em nota divulgada na noite desta quinta-feira, 16, a presidente afastada Dilma Roussef disse que o presidente Jair Bolsonaro vai responder na Justiça a supostas calúnias contra a petista.

Mais cedo, ao receber o prêmio de "personalidade do ano" oferecido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos em Dallas (EUA), o presidente sugeriu que a petista teria participado de ações armadas durante a ditadura militar que resultaram na morte de um capitão do Exército americano.

"No Brasil, a política até há pouco era de antagonismo a países como Estados Unidos. Os senhores eram tratados como se fossem inimigos nossos. Agora, quem até há pouco ocupava o governo, teve em sua história suas mãos manchadas de sangue na luta armada, matando inclusive um capitão, como eu sou capitão, naqueles anos tristes que tivemos no passado", disse Bolsonaro.

Ex-presidente Dilma Rousseff
Ex-presidente Dilma Rousseff
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Dilma foi condenada e presa por integrar o grupo guerrilheiro VAR-Palmares durante a ditadura mas não existem evidências da participação da ex-presidente em ações violentas.

Em nota divulgada na noite desta quinta-feira, 16, Dilma afirma que, ao contrário, foram "heróis e homenageados pelo senhor Bolsonaro que, durante a ditadura e depois dela, tiveram suas mãos manchadas do nosso sangue - militantes brasileiros e brasileiras - pelas torturas e assassinatos cometidos contra nós".

Ao votar pelo afastamento de Dilma em 2016, o então deputado Bolsonaro homenageou o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do DOI-Codi, local onde ocorreram torturas e assassinatos de adversários políticos do regime durante a ditadura militar. " O senhor Bolsonaro responderá no juízo criminal e cível por mais essa leviandade contra mim. Ele não poderá se escudar no cargo de Presidente da República e irá ser cobrado por suas mentiras, calúnias e difamações", afirmou Dilma.

Em sua fala, Bolsonaro citou Charles Rodney Chandler, militar americano morto por guerrilheiros durante a ditadura militar brasileira
Em sua fala, Bolsonaro citou Charles Rodney Chandler, militar americano morto por guerrilheiros durante a ditadura militar brasileira
Foto: Marcos Corrêa/PR / BBC News Brasil

A assessoria de imprensa da Presidência foi procurada para responder às acusações de Dilma mas não havia respondido até 21h55.

A seguir, a íntegra da nota de Dilma:

O senhor Jair Bolsonaro, imerso em seu mundo de fake news mostrou mais uma vez seu despreparo para dirigir o País e representá-lo internacionalmente.

Impondo sua presença constrangedora onde não é bem-vindo, e nem sequer é convidado, este senhor que infelizmente dirige o Brasil fez, em Dallas, uma declaração mentirosa e caluniosa sobre minha história política.

Durante a resistência à ditadura — e muito menos no período democrático —, jamais participei de atos armados ou ações que tivessem ou pudessem levar à morte de quem quer que seja. A própria Justiça Militar — as auditorias, o STM e até o STF — em todos os processos que foram movidos contra mim, comprovaram tal fato. Os autos respectivos documentam isso. Ao contrário dos heróis e homenageados pelo senhor Bolsonaro que, durante a ditadura e depois dela, tiveram suas mãos manchadas do nosso sangue - militantes brasileiros e brasileiras - pelas torturas e assassinatos cometidos contra nós.

Minhas mãos estão limpas e foram fortalecidas, ao longo da vida, pela militância a favor da democracia, da justiça social e da soberania nacional. Foi esta luta que me levou à Presidência da República, cargo que honrei representando dignamente meu País, sem me curvar a qualquer potência estrangeira, respeitando todas as nações, da mais empobrecida à mais rica.

Se o senhor Bolsonaro quer se ocultar do "tsunami" das investigações que recaem sob seu clã, a partir da abertura dos vários sigilos, não me use como biombo, nem tampouco menospreze os cidadãos e cidadãs que foram às ruas do País em defesa de uma educação de qualidade.

Senhor Bolsonaro, as ruas estão cheias porque ao se dispor, com seu ministro desinformado, a destruir a educação, vocês estão tirando a esperança de melhores dias para milhões de estudantes já beneficiados e também os que poderiam sê-lo pela expansão e interiorização das universidades e institutos federais de educação. Oportunidades de acesso ao ensino superior que foram proporcionadas pelos nossos governos do PT em todo o País.

"Idiotas úteis" são aqueles que esquecem um ditado popular: "a mentira tem pernas curtas". O senhor Bolsonaro responderá no juízo criminal e cível por mais essa leviandade contra mim. Ele não poderá se escudar no cargo de Presidente da República e irá ser cobrado por suas mentiras, calúnias e difamações.

Dilma Rousseff

Estadão
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