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Acidente da Voepass: avião não declarou emergência e enfrentou 'bastante gelo', diz Cenipa

62 pessoas e uma cachorrinha morreram na queda do ATR-72-500, de matrícula PS-VPB, em 9 de agosto, em Vinhedo (SP)

6 set 2024 - 18h08
(atualizado às 19h43)
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Avião da Voepass com 62 pessoas a bordo caiu em área residencial de Vinhedo, no interior de São Paulo.
Avião da Voepass com 62 pessoas a bordo caiu em área residencial de Vinhedo, no interior de São Paulo.
Foto: Alex Silva/Estadão - 11/08/2024 / Estadão

O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) divulgou nesta sexta-feira, 6, em Brasília, os dados preliminares da investigação sobre a queda do avião da Voepass, que matou 62 pessoas e uma cachorra em 9 de agosto de 2024, ao cair em Vinhedo (SP).

Segundo o relatório, a tripulação foi alertada da condição climática propícia para forte formação de gelo e era treinada para essas condições. Em um certo momento, o copiloto chegou a declarar 'bastante gelo'. Os sistemas anti gelo foram acionados diversas vezes durante o voo, mas ainda não é possível concluir se eles, de fato, funcionaram.

A investigação buscará determinar se sistemas de proteção contra o gelo (Anti-Icing e De-Icing), além de proteção contra estol, funcionaram corretamente. Os fatores humanos relacionados ao desempenho da tripulação que possam ter influenciado a situação também serão analisados.

O documento, com dados factuais, foi primeiramente compartilhado com os familiares das vítimas da queda da aeronave, no início desta tarde. A reunião atrasou o início da coletiva, que começou com 43 minutos de atraso. O som extraído da caixa-preta não foi divulgado, em respeito aos familiares. O relatório final da investigação ainda não foi finalizado.

Descobertas do relatório

  • Registros de manutenção estavam atualizados. Isso quer dizer que a aeronave, no momento da decolagem, estava aeronavegável conforme os padrões da aviação civil nacional;
  • A aeronave era certificada para voos em condição de gelo;
  • Pilotos tinham treinamento para voos em condição de gelo;
  • Havia previsão de gelo severo na rota do voo;
  • Havia um item inoperante no motor esquerdo chamado Pack, responsável pela pressurização e climatização do avião. A inoperância, no entanto, não impossibilitava o voo, já que ATR cumpria outros requisitos de segurança.

Sequência de eventos da queda

  • Aeronave decolou às 11h58, com 18 minutos de atraso, e manteve a rota seguindo o plano de voo;
  • Às 12h14 alarme detecta condição de gelo no avião;
  • Às 12h15 pilotos comentam sobre falha no sistema degelo do avião;
  • Às 12h16 alarme de detector de gelo deixa de ser exibido na cabine;
  • Às 13h11 o sistema volta a acionar presença de gelo;
  • Às 13h18 a aeronave reportou que estava no ponto ideal de descida, controle de voo solicitou que eles permanecessem a 17 mil pés devido ao tráfego aéreo;
  • Às 13h20 o copiloto faz um comentário: "Bastante gelo".  Sistema de degelo é ligado pela terceira vez e permanece ligado até a perda de controle da aeronave;
  • Às 13h20 controle autoriza mudança de posição da aeronave, pilotos respondem e sinalizam entendimento da orientação - foi a última comunicação da tripulação com o controle de voo;
  • Aeronave segue orientação do controle para iniciar uma curva. Alerta sonoro pedindo aumento de velocidade e alerta de estol (perda de sustentação) são ouvidos;
  • Às 13h21, controle da aeronave é perdido. "Em nenhum momento houve declaração de emergência, nem para os controladores de voo, nem para aviões próximos", disse o Tenente Paulo Mendes Fróes;
  • Aeronave tenta recuperar altitude, mas entra em parafuso-chato. Ela cai, completando 5 voltas até a colisão com o solo as 13h22m30s.

O que falta ser investigado?

  • Se houve falha no sistema de degelo da aeronave;
  • Se os sistemas de degelo foram corretamente acionados;
  • Quais os fatores humanos relacionados ao desempenho da tripulação podem ter influenciado a situação;
  • Como e se os sistemas de proteção contra o gelo (Anti-Icing e De-Icing), além de proteção contra estol funcionaram durante o voo;
  • Analisar o desempenho técnico dos tripulantes e dos elementos relacionados ao ambiente operacional no contexto do acidente.

O acidente

O avião da Voepass Linhas Aéreas caiu por volta das 13h20, do dia 9 de agosto em um bairro residencial em Vinhedo, interior de São Paulo. A aeronave fazia o trajeto entre Cascavel, no Paraná, e Guarulhos, em São Paulo. A bordo do avião estavam 58 passageiros e quatro tripulantes, totalizando 62 vítimas fatais. A aeronave, de modelo ATR-72-500 e matrícula PS-VPB, foi fabricada em 2010.

Identificação das vítimas

O trabalho de identificação dos 62 corpos das pessoas que morreram na queda do avião da Voepass em Vinhedo, no interior de São Paulo, foi concluído em 15 de agosto, seis dias após o acidente. A maioria das vítimas foi identificada por análise de impressões digitais, já que elas estavam com as mãos entre os braços no momento do acidente e o incêndio, nos destroços, foi controlado rapidamente pelos bombeiros.

Outras vítimas foram identificadas por exame odontológico e análises antropológicas, feitas com base em características fenotípicas, como, por exemplo, o peso do cadáver, altura, raça, se havia prótese de silicone, entre outros. O corpo de uma cadela, que pertencia à família de venezuelanos que estava no avião, também foi encontrado e identificado nos escombros.

Fonte: Redação Terra
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